tag:blogger.com,1999:blog-90171649849347368322024-03-14T01:03:36.830-07:00O Narrador SubjectivoO Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.comBlogger489125tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-62605751630199056012017-05-01T06:34:00.000-07:002017-05-01T06:35:58.235-07:00Novo Projeto<div style="text-align: justify;">
O tempo não para e este blogue existe há quase 6 anos. À pala desta experiência estive em vários eventos, ganhei alguns brindes e conheci gente espetacular.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas a verdade é que os blogues foram engolidos pela proximidade, a partilha, os likes e o imediatismo das redes sociais - algo que não considero negativo e que me leva a adaptar e a iniciar um projeto diferente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, a todos os que foram lendo o blogue, convido-vos agora a seguir a conta <a href="https://www.instagram.com/tarkovskywannabe/" target="_blank"><b>@tarkovskywannabe</b></a> no Instagram, onde vou passar em revista a minha crescente coleção de DVDs, filme a filme. </div>
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<br /></div>
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Online vão ficar as 213 críticas que aqui fui depositando e todos as restantes publicações.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Obrigado.</div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-42352062968466525862017-04-30T08:11:00.003-07:002017-04-30T08:11:44.343-07:00Mother And Son (Aleksandr Sokurov, 1997)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-lvcXbYHca0c/WQX9bWig8sI/AAAAAAAAC6Y/mt545v27BoU-1OYlM04CpOV9qSgzuvNmwCLcB/s1600/mother%2Band%2Bson.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-lvcXbYHca0c/WQX9bWig8sI/AAAAAAAAC6Y/mt545v27BoU-1OYlM04CpOV9qSgzuvNmwCLcB/s320/mother%2Band%2Bson.jpg" width="227" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mother And Son é um filme que,
pela estética naturalista, pelo ritmo moroso e pelas passagens filosóficas sobre
a condição humana, pouco oferece que possa rebater as frequentes comparações
que se fazem entre Sokurov e Tarkovsky. É verdade que Sokurov já abordou, na
sua longa filmografia, vários temas e já alterou a sua execução vezes
suficientes para poder ser considerado um original e reputado autor por mérito
próprio, mas há a noção de que, espaçadamente, presta vassalagem ao seu mestre
de formas mais ou menos óbvias. Bem, quando a qualidade do trabalho acaba por
ser tão elevada como é em <b>Russian Ark </b>(em que Sokurov eleva ao paroxismo as
ideias de Tarkovsky sobre o controlo da passagem do tempo e da transição entre
espaços abusando do plano-sequência num filme sem cortes, dentro de um museu em
que cada sala nos remete para um período diferente da história da Rússia) ou
como é neste Mother And Son só se pode mesmo louvar as suas tentativas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Como ponto de partida, temos um
filho a cuidar da sua mãe moribunda numa casa de campo perdida algures numa
paisagem bucólica e húmida. Vemos que o seu dia-a-dia se resume a passeios
longos pela floresta que os rodeia, a sestas constantes, a ver o tempo passar
com uma lassidão com o seu quê de nostálgica, a recordar o passado e à espera do
fim, da morte da mãe. O filme não pretende propriamente chegar a lado nenhum,
apenas transmitir um sentimento do mais profundo e silencioso pesar, dor pela
perda que se aproxima, e é difícil não ser contagiado por essa espécie de
miasma, pela forma tão etérea com que explora a mortalidade. É na construção
dessa atmosfera e de imagens extremamente delicadas que vemos quem é a grande referência
de Sokurov.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Talvez se possa dizer que é um
filme mais negro que os de Tarkovsky. Sim, aqui não há grandes dúvidas quanto
ao destino ou quanto à sanidade das personagens como em <b>Offret</b>, não há o fascínio pelos atos que
transcendem a nossa natureza e escapam a qualquer explicação, como aquela
espécie de telepatia no fim de <b>Stalker</b> e a que vulgarmente classificamos como
milagres, não, aqui há claustrofobia, há remorsos, há morte, mas tudo isso é
pura poesia, a morte é assustadora, mas é tão merecedora dos mais belos filtros
de câmara (usando vidro, espelhos e tinta, Sokurov altera, comprime as imagens em várias
direções, como se a pressão da situação que a mãe e o filho estão a viver fosse
tal que o próprio mundo que os rodeia é afetado) e dos mais belos enquadramentos
possíveis, especialmente em atos inevitáveis de grande ternura. Por isso, Mother And Son é uma
experiência arrebatadora. Assim, simples, evocativo e sem enredo. Por isso,
Mother And Son é Tarkovsky. Mas, não sejamos injustos, é, acima de tudo,
Sokurov.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>9/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt0119711/?ref_=nv_sr_4" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-13965199277251381132017-04-30T07:32:00.001-07:002017-04-30T07:32:42.786-07:00Viridiana (Luis Buñuel, 1961)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-jnt7bq5Kj4k/WQX0R3fIyVI/AAAAAAAAC6I/XafCN4if35gF_cyblIkTmIz7ATUdNAALQCLcB/s1600/viridiana.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-jnt7bq5Kj4k/WQX0R3fIyVI/AAAAAAAAC6I/XafCN4if35gF_cyblIkTmIz7ATUdNAALQCLcB/s320/viridiana.jpg" width="221" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Antes de chegar a Viridiana, Luis Buñuel tinha já ligado ao
seu nome um considerável espólio de fitas veneradas pelos apreciadores de
cinema, na sua maioria produzidas em França (antes da guerra civil espanhola e
do seu exílio para os EUA) ou no México, como os delírios surrealistas que
escreveu com Salvador Dalí e como as análises sociológicas de <b>El</b> e <b>Los
Olvidados</b>. Viridiana marcou um regresso ao país de origem que foi mal recebido
pelo poder local e o regime do ditador Francisco Franco chegaria mesmo a tentar
bani-lo, por distorcer símbolos e imagens religiosas de maneiras consideradas
indecentes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A história começa com a freira do título (Silvia Pinal) a
dias de prestar juramento, que é aconselhada pela sua superior a visitar o
único parente que tem vivo antes de se dedicar à reclusão, um tio abastado que
tem pago os estudos. A jovem obedece e em breve somos apresentados ao seu
protetor. Dom Jaime (o inevitável Fernando Rey) vive obcecado com a sua
falecida mulher, ao ponto de não se limitar a recordar memórias, mas a tentar
revivê-las, mesmo que isso signifique experimentar o vestido de casamento dela
em privado, por exemplo. Viridiana é igual à tia e ele fica embevecido,
causando grade desconforto à rapariga, que apenas deseja mostrar alguma
gratidão pelo apoio. Quando comete o erro de ceder à pressão e vestir o
referido vestido, Dom Jaime droga-a e inventa que a terá violado enquanto ela
estava inconsciente, para a demover do catolicismo. Contudo, o efeito é o
contrário, apenas reforça a vontade da sobrinha em ir embora. Talvez por se
sentir irremediavelmente só, talvez por se sentir mal com as suas atitudes, ele
suicida-se. Isto tudo em meia hora. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Neste ponto talvez seja estranho pensar que ainda há o dobro
do tempo até aos créditos finais. Na realidade inicia-se uma segunda parte que
evidencia os temas em jogo. Viridiana herda a casa, habita-a juntamente com o
filho bastardo de Dom Jaime e tenta usar a sua nova posição social para ajuntar
pobres e lhes dar comida, teto e trabalho. Sente que causou a morte de um homem
e procura expiação na caridade. Enquanto Jorge (Francisco Rabal), prático e
realista, trata de reabilitar o património, ela fecha-se num mundo de
ingenuidade. Apesar das suas ações dignas de um Nobel da Paz, ao oferecer
resposta às necessidades básicas de indigentes, não os está a dotar de armas que
podem usar para mudar a sua vida. Buñuel questiona se esta bondade passageira
serve mais o propósito de camuflar os pecados do que contribuir para a sociedade.
Entretanto, o primo também se sente atraído pela personagem principal. Julgamos
que o filme se vai repetir, mas a postura é bastante diferente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No último ato, Viridiana é confrontada com a
superficialidade das suas crenças e ações via uma sucessão de ataques físicos
cometidos por pessoas que beneficiaram da abnegação pela qual se estava a
pautar. Jorge resolve a situação e torna-se evidente que afinal há mais
semelhanças entre ela e Dom Jaime do que entre ele e Dom Jaime, dado que
adotaram uma generosidade hipócrita para satisfazer uma visão egoísta e
acabaram por ser vítimas de si próprios. Devemos compaixão a esta mulher, que,
não obstante, merecia melhor sorte. Este círculo ingrato revela-lhe a
verdadeira natureza humana e afasta-a da fé, o que parece trazer-lhe alguma calma. Há imenso simbolismo, numa cena vemos um crucifixo transformado em
canivete, noutra os pobres assaltam a mansão e regalam-se com um banquete,
assemelhando-se ao mural d'A Última Ceia, já para não falar da visita que a
madre superior faz a meio, para perceber porque é que a sua subordinada não
voltou para o convento, em que transborda uma condescendência retorcida.
Realmente, não são as conclusões conservadoras que uma ditadura fascista
puderia apoiar…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>8/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt0055601/" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-57674565125735015402017-04-30T07:12:00.000-07:002017-04-30T07:12:08.326-07:00Death And Devil (Stephen Dowskin, 1974)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-_HBquOFKm0c/WQXvYfPZCjI/AAAAAAAAC54/hk3TYuoYuMIrlWNV9j_w3o-WrIsAGaI_QCLcB/s1600/asdasdasd.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-_HBquOFKm0c/WQXvYfPZCjI/AAAAAAAAC54/hk3TYuoYuMIrlWNV9j_w3o-WrIsAGaI_QCLcB/s320/asdasdasd.png" width="213" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Imaginem um filme de Ingmar Bergman com apenas duas cenas
dignas dessa designação, o triplo dos close-ups e uma banda sonora composta
maioritariamente por passagens simples de piano repetidas a um ritmo funerário
e o que mais parecem ser ecos de um sonar a espalharem-se pelo oceano. Stephen
Dwoskin não é bem conhecido pelo público em geral, aliás é um nome obscuro – o
que não é propriamente incompreensível, considerando experiências pouco
convencionais como esta. A sua abordagem minimalista não só é extrema como tem o
seu quê de frustrante, mesmo que seja bastante reveladora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Death And Devil abre com uma montagem de longos minutos em
que uma jovem, Lisiska, esboça uma multitude de expressões faciais para a
câmara, divaga pela sua casa e prepara-se para sair, tudo filmado com uma
proximidade quase intimidadora. Eventualmente, assistimos a uma conversa deprimente
entre um homem e uma mulher mais velhos, cujos nomes são irrelevantes, sobre
desejo, perceções e deceções. Segue-se o encontro de Lisiska com outra
personagem masculina, com quem parece não ter nada para falar, e acabamos com
dezenas de minutos de análises extensivas dos rostos dos atores. Só.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quer dizer, obviamente que há uma grande carga emocional
inerente. O estilo é radical, mas Dwoskin demonstra astúcia na interpretação da
infelicidade das duas mulheres retratadas, muito diferentes entre si - uma
bonita e despreocupada, outra com um ar pesado e pouca paciência para sentimentos
ou sexo -, e é-o especialmente quando se permite a fazer uso às palavras. A
grande diferença entre Lisiska e a outra senhora talvez seja que a primeira se
conforma quando é mal interpretada e a segunda contradiz quem quer que seja,
quando é necessário. Acima disso, está a forma como os homens veem o género
feminino, como interpretam erradamente o seu comportamento e como contribuem
para a distância que daí advém. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O filme passa-se todo na mesma casa, contudo as pessoas
estão sempre longe umas das outras, inclusive quando dialogam raramente
partilham o enquadramento. O trabalho de câmara é tão intrusivo e ansioso que
cativa e perturba em igual quantidade. Não há tanto interesse em mostrar
interação como em estabelecer intimidade. Objetivo conseguido, Death And Devil
não é nada acessível, mas é sufocante. Imaginem ir ao teatro, serem puxados da
audiência e colocados em palco a olhar diretamente para a cara de cada ator por
meia hora até ao fim da peça. Seria, sem dúvida, original. Se isso é suficiente enquanto objeto artístico é que fica ao critério de quem se aventura a aderir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>5/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt0070813/?ref_=fn_al_tt_2" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-68319605655799200462017-04-30T06:51:00.000-07:002017-04-30T06:51:30.691-07:00Hunger (Steve McQueen, 2008)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-nNsDqjH_1zw/WQXqKeY-RmI/AAAAAAAAC5g/9W5LXAbgjVUgKuPcPxliUuD7H0vJoQzSACLcB/s1600/hunger.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-nNsDqjH_1zw/WQXqKeY-RmI/AAAAAAAAC5g/9W5LXAbgjVUgKuPcPxliUuD7H0vJoQzSACLcB/s320/hunger.jpg" width="215" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Hunger é brutal, não só por nunca virar a cara à violência, inseparável da situação muito particular que recria, mas especialmente pela
neutralidade e o rigor desarmantes com que foi filmado. O foco maior é apontado
a Bobby Sands (Michael Fassbender), membro capturado do IRA, que instigou uma
greve de fome em 1981 entre os seus companheiros de encarceramento, reclamando
o direito ao estatuto de prisioneiros de guerra, exigência veementemente
recusada pela então primeira-ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher. Esta
atitude resultaria na morte de dez deles, incluindo o próprio Sands, mas Hunger só
chega a esta personagem meia hora depois de começar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Antes, seguimos um guarda que se prepara para sair para o
trabalho. Ele olha para debaixo do carro antes de o ligar. Aqui compreendemos
que o terrorismo era uma realidade a que os irlandeses tiveram de se adaptar
muito antes dos atentados que têm assolado o resto da Europa em anos recentes e
que o medo encontra sempre poros por onde se infiltrar. Depois passamos para
Davey, um novo inquilino, que é atirado para a ala dos não conformados por se
recusar a usar o uniforme do estabelecimento. Seguindo-o, vamos sendo
apresentados a um novo mundo, confinado por quatro paredes, no qual a dignidade
humana não entra.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na realidade, homens como Sands e Davey mataram inocentes e defenderam o
assassinato em nome duma religião, contudo, ao partir daí para explorar as
humilhações a que são sujeitos pelo Estado quando passam a estar à sua guarda,
Hunger está mais interessado em desafiar as nossas ideias preconcebidas sobre
crime e castigo. O estado é justo ou insensível? O tal guarda convive todos os
dias com a ameaça que o IRA representa, mas, por um lado, não deixa de viver
por causa disso, e, por outro, não deixa de contribuir para a espiral de
violência ao agredir os prisioneiros da HM Prison Maze. Hoje temos Guantánamo,
por exemplo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Como manter a sanidade no meio deste ciclo sem fim? Sands é espancado regularmente, mas escolhe protestar da única forma que pode,
em nome da sua causa. Certo ou errado, mártir ou criminoso, isso é secundário. Steve McQueen não
quer que adoremos estes guerrilheiros nem que os vilifiquemos, antes que perguntemos a nós
próprios quanto estaríamos dispostos a sacrificar por aquilo em que
acreditamos. Sands foi uma criança como outra qualquer, que
cresceu, fez escolhas e tomou um certo caminho, como ele explica a um padre, num plano
estático de 17 minutos simplesmente inacreditável. <o:p></o:p>Por isso é irrelevante ler cadastros, retratar julgamentos ou recriar circos mediáticos. o filme agiganta-se no minimalismo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>9/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt0986233/" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-89466476462894113972017-04-30T04:27:00.001-07:002017-04-30T04:27:46.927-07:00Killer's Kiss (Stanley Kubrick, 1955)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-swJ6nA7CBMg/WQXEpvyCdtI/AAAAAAAAC5Q/29Tbqh2Bh-InV403eW0QsOd3YFm57TycwCLcB/s1600/killers%2Bkiss.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-swJ6nA7CBMg/WQXEpvyCdtI/AAAAAAAAC5Q/29Tbqh2Bh-InV403eW0QsOd3YFm57TycwCLcB/s320/killers%2Bkiss.jpg" width="168" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Aos 26 anos, Stanley Kubrick avançava para a sua segunda
longa-metragem, ainda sem metade que fosse da fama que viria a alcançar e dos
orçamentos de que viria a dispor. Como tal, Killer’s Kiss é uma obra menos
polida, onde faltam ainda muitas das características técnicas que viriam a demarcar
a filmografia deste realizador dos restantes colegas. Distancia-se já do
amadorismo de <b>Fear And Desire</b> (a estreia que o próprio Kubrick repudiava ao
ponto de ter tentado retirar de circulação) mas serve apenas como aperitivo
para o prato maior que é <b>The Killing</b>.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Neste film-noir sobre um pugilista que se envolve com a
vizinha dançarina, esta demasiado presa ao seu violento patrão, o que mais
impressiona é a estrutura. Com uma facilidade impressionante, o filme avança
por flashbacks dentro de um flashback mais abrangente sem nunca perder o fio à
meada. Logo na cena inicial, o pugilista Davy Gordon (Jamie Smith) espera uma
mulher na estação de comboios. Virá ter com ele? Recuamos para ver como tudo
começa, voltamos a recuar para saber mais sobre o passado dela, mas só no fim
poderemos ter a resposta à pergunta inicial.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Apesar de alguns momentos lentos e diálogos pouco convincentes,
há cenas cativantes, nomeadamente quando o filme se torna mais visual. Destaco
a perseguição em corrida por zonas industriais e tácitas de Nova Iorque, entre
prédios abandonados e telhados altaneiros, até uma fábrica de manequins, onde
os dois homens em disputa pela atenção de Gloria (Irene Kane) se digladiam até
à morte de um deles. Tudo isto fica a anos-luz de <b>A Clockwork Orange</b> e
restantes, mas se estivéssemos em 1955 poderíamos registar boas indicações,
elementos transgressivos e a vontade de mostrar algo diferente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Kubrick fez treze filmes na sua carreira. No documentário <b>A
Life In Pictures</b>, realizado pelo irmão da sua última mulher, ouve-se alguém
dizer que ele não tinha prazer em ser tão lento a trabalhar, simplesmente
acontecia. Talvez por isso tenha concretizado alguns dos filmes mais rendilhados
e rigorosos de sempre. Quem quiser completar a carreira de um dos nova-iorquinos
mais famosos do cinema terá de passar por este Killer’s Kiss, de preferência
sem grandes expectativas, mas também não será nenhum sacrifício, pelo
contrário, é uma curiosidade com valor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>6/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt0048254/" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-61860947841191538532017-04-25T06:58:00.001-07:002017-04-25T06:59:43.216-07:00Brick (Rian Johnson, 2005)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-LdFH13FF0_4/WP9Vr4Wv_fI/AAAAAAAAC4g/ygOC10N4rCYd066BLjANCw6Kbbcnu59sQCLcB/s1600/sdfsdf.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-LdFH13FF0_4/WP9Vr4Wv_fI/AAAAAAAAC4g/ygOC10N4rCYd066BLjANCw6Kbbcnu59sQCLcB/s320/sdfsdf.jpg" width="223" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
À primeira vista, Brick pode parecer só mais um drama de
escola secundária, que é todo um subgénero do cinema americano, especialmente
atraente para realizadores independentes, mas, lá está, as primeiras impressões
costumam ser superficiais. A estreia de Rian Johnson é antes um film-noir
disfarçado de drama de escola secundária. A história segue um adolescente que
tenta perceber o paradeiro de uma ex-namorada, o que o arrasta para dentro de
uma teia de tráfico de droga, estabelecida no meio dos colegas com que se cruza
todos os dias, e para a companhia de outra rapariga, que pode ou não ter
múltiplas intenções. Brendan (Joseph Gordon-Levitt) é como um detetive em
alerta que, com o auxílio de um parceiro, tenta desvendar um mistério, um
solitário que não receia levar pancada e tem sempre uma resposta pronta. Só
faltam os cigarros que não se apagam e as rugas na testa para termos um
Humphrey Bogart em <b>The Big Sleep</b> (Howard Hawks, 1946) ou <b>The Maltese Falcon</b>
(John Huston, 1941).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Rian Johnson gere com calma a incerteza dos acontecimentos.
Estamos a falar de uma mistela invulgar de géneros distantes e sem relação
óbvia à partida, que aborda as descobertas da juventude de um ponto de vista
diferente do habitual. O argumento vai apresentando personagens enigmáticas e
novos desenvolvimentos, distorcendo lugares-comuns do ambiente escolar de
formas criativas, como quando uma conversa muito tensa e elaborada é
interrompida pela mãe de um dos intervenientes a oferecer refrescos aos rapazes
de passagem por aquele lar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A primeira imagem que temos é de Brendan a observar o corpo
inanimado de uma loira numa vala. Os planos médios, secos e bem enquadrados,
são evocativos. Gus Van Sant aprova de certeza, se vir Brick. À medida que
vamos acompanhando a personagem principal na sua aventura, regressamos a um
mundo fácil de associar a experiências típicas da vida pré-maioridade, desde as
horas perdidas nas traseiras de pavilhões de aulas, às primeiras festas noturnas,
passando pelas casas dos subúrbios; contudo, somos constantemente assaltados
pela perceção cada vez mais acentuada de que algo está errado. Em breve, surgem
chamadas anónimas intimidantes, brutamontes que partem para a agressão sem
pré-aviso e raparigas irresistíveis, aprendizes de femme fatale, Ritas
Hayworths em miniatura. Para além de manter uma atmosfera muito própria, com os
seus tons pastel e a sua banda sonora feita a partir de copos a tilintar, Brick
é bom entretenimento, um número original de malabarismo com a memória de tempos
idos e o negrume de filmes de outros tempos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>8/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt0393109/reference" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-50835648675925433092017-01-29T09:33:00.004-08:002017-01-29T13:47:18.149-08:00Silence (Martin Scorsese, 2016)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-WjzhvR7W61Y/WI4m74Y9awI/AAAAAAAAC3E/Hyh6hKi4PR4MTzahXupDhcUYC8viPzrsQCLcB/s1600/silence%2Bposter.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-WjzhvR7W61Y/WI4m74Y9awI/AAAAAAAAC3E/Hyh6hKi4PR4MTzahXupDhcUYC8viPzrsQCLcB/s320/silence%2Bposter.jpeg" width="205" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Martin Scorsese queria fazer um filme sobre Jesus desde que
interiorizara que atrás de cada ida ao cinema existia a visão de um realizador
a orquestrar o resultado final. Reza a lenda, que terá sido Barbara Hershey, a
protagonista de <b>Boxcar Bertha</b>, a sua segunda longa-metragem, a apresentar-lhe o
livro The Last Temptation Of Christ, de Nikos Kazantzakis, durante as
gravações, antes ainda do sucesso de <b>Mean Streets</b>, <b>Taxi Driver</b> ou <b>Raging Bull</b>.
Ambos colaborariam para o transpor das páginas para o grande ecrã em 1988, o
que perfaz mais de uma década entre o início e o fim do projeto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Depois temos o caso de <b>Gangs Of New York</b>. Supostamente,
Scorsese questionara-se toda a vida sobre a Nova Iorque primitiva, sobre os
primórdios da sua cidade natal, que na juventude lhe parecia esconder segredos
de um passado diferente da realidade que conhecia, dos arranha-céus art deco,
das comunidades europeias refugiadas nos seus bairros bem delimitados, das
luzes da Broadway e de Times Square. Ao ler sobre as violentas rivalidades numa
fase de crescimento abrupto, em especial com a vaga de irlandeses que fugiam da
fome, começou a compor um épico que apenas viu a luz do dia em 2002.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Isto tudo para ilustrar que o realizador não é estrangeiro
nenhum a ideias que demoram anos e anos a materializar-se. É esta ambição e
paixão que fazem de Scorsese um iconoclasta movido por uma vontade indomável de
fazer mais e melhor, com a devida vénia aos inovadores que no passado fizeram o
mesmo. Assim, 28 anos após um arcebispo de Nova Iorque lhe ter entregado uma
cópia do livro Silence, de Shusaku Endo, a intenção de o adaptar materializa-se
finalmente, numa era de paralelismos evidentes em relação ao Japão do séc. XVII
retratado. Talvez seja o destino, para quem acredita nisso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Acreditar é um conceito omnipresente nos filmes de Scorsese.
Acreditar nas relações – <b>Alice Doesn’t Live Here Anymore</b>. Acreditar em nós
próprios – <b>Raging Bull</b>. Acreditar na família – <b>Goodfellas</b>. Acreditar no
dinheiro – <b>The Wolf Of Wall Street</b>. Normalmente o foco cai na incapacidade de
confiar e nas incertezas que isso gera, ou na fé cega e nas traições que daí
advêm. Silence insere-se na categoria da crença numa religião, como <b>The Last
Temptation Of Christ</b> e <b>Kundun</b>, dois projetos extremamente pessoais, cuja
aceitação popular foi marginal ou pouco expressiva.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Logo à partida, são exemplos de distanciamento das
convenções narrativas de que a generalidade dos filmes depende para criar
conflitos e definir personagens. Jesus a caminho da crucificação, o Dalai Lama ameaçado
pelo comunismo e, agora, estes padres portugueses num país que acaba de banir o
cristianismo, deambulam à procura de respostas, por realidades adversas,
carregando o peso crescente das suas dúvidas, realçado pela narração, que
segura todos os pedaços, numa cadência hipnotizante. Depois, apontam o foco à
introspeção, num apelo à humildade (por acaso, um valor jesuíta intemporal).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No entanto, não é descabido dizer que, com a expansão da fé
motivada pela globalização marítima, a igreja assumira arrogantemente que merecia
destaque universal, até encontrar fortes obstáculos políticos. Quando Rodrigues
(Andrew Garfield) sai de Macau com Garupe (Adam Driver), tem de andar
clandestinamente atrás de Ferreira (Liam Neeson), o mestre que os introduziu na
ordem, sendo incerto se o encontrarão vivo, morto ou apostático. Qual
<b>Apocalypse Now</b> eclesiástico, o caminho até à verdade, sobre o destino do
conterrâneo e sobre os limites da doutrina em que se alicerçaram, revela-se
confuso, penoso e surpreendente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nas aldeias por onde passam contactam com populações
reprimidas não por falharem no pagamento dos impostos, por se desleixarem no
trabalho ou por cometerem crimes, mas simplesmente por acreditarem em algo, algo
que dá significado às suas pobres vidas e a que não renunciam. A questão que
mais à frente surge é se se sacrificam pelos ideais do cristianismo ou se o
fazem pela família, pelos amigos e pelos padres. Serão o paraíso e a
ressurreição conceitos demasiado transcendentes numa civilização terrena e
prática como a japonesa? Nesse caso, as clivagens culturais talvez sejam
insanáveis. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Cabe a Rodrigues estabelecer a distinção. Tudo e todos
testarão as suas convicções, desde a violência que testemunha, passando pela
forma superficial como os locais encaram a confissão, às interjeições do
inquisidor de Nagasaki (Issei Ogata), um antagonista com a perfídia de Hans
Landa em <b>Inglourious Basterds</b> e, para desespero da personagem principal, com
uma noção superior do status quo contemporâneo. Não deixa de ser um confronto
entre a ingenuidade de um jovem e a objetividade de um sábio. A mestria de
Silence está em transformar a frustração previsível numa experiência
enriquecedora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O cinema de Scorsese está repleto de homens solitários de
Deus e de dilemas morais. Longe das ruas de Nova Iorque e alinhada com a
maturidade de um septuagenário, é possível argumentar que esta é das
manifestações mais puras desses temas recorrentes. Só não é a definitiva porque
Garfield não é De Niro ou DiCaprio, nem Driver é Keitel ou Pesci. Sem o tom
desafiante de<b> The Last Temptation Of Christ</b> e sem a reverência falível de
<b>Kundun</b>, Silence chega, perante o ressurgimento global de movimentos
intolerantes, nomeadamente com a eleição de Donald Trump nos EUA, como um ato
de expiação certeiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>9/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt0490215/reference" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-64263387930749368302017-01-08T14:15:00.005-08:002017-01-08T14:16:21.641-08:00Intruder in the Dust (Clarence Brown, 1949)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-xszZHALyOrk/WHK519r-WbI/AAAAAAAAC2w/FSdYG5ZLnAsCD23eL8Yc0DBGoB0xGLyDgCLcB/s1600/intruder-in-the-dust-movie-poster-1949-1020551544.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-xszZHALyOrk/WHK519r-WbI/AAAAAAAAC2w/FSdYG5ZLnAsCD23eL8Yc0DBGoB0xGLyDgCLcB/s320/intruder-in-the-dust-movie-poster-1949-1020551544.jpg" width="214" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não é possível ver Intruder In The Dust sem pensar em <b>To
Kill A Mockingbird</b> (1962). Ambos lidam com casos de afro-americanos detidos
injustamente na sequência de um crime, expondo o racismo que domina a população
e que acaba por afetar os respetivos advogados de defesa. O foco recai sobre as
crianças que os rodeiam, desestabilizando a inocência dos filhos de Atticus
Finch (Gregory Peck), vítimas impotentes da tensão social gerada na adaptação
do romance de Harper Lee, e moldando o carácter do sobrinho de John Stevens
(David Brian), parte ativa na procura de justiça nesta adaptação do romance de
William Faulkner.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Logo aí há uma diferença importante. As personagens
principais de um ocupam grande parte do seu tempo de ecrã com brincadeiras
próprias da infância, por vezes testemunhando ou sofrendo as consequências do
reacionarismo que a história pretende denunciar, sem o combater ou sequer
compreender, ao passo que, no outro, o jovem Chick (Claude Jarman Jr., um dos
mais reconhecíveis menores de idade da era de ouro de Hollywood) está a entrar
na adolescência e, quando sua vila é abalada pelo suposto assassinato de um
homem branco por um homem preto, adquire à força uma perceção de determinadas
questões adultas, para além de ser essencial para provar a inocência de Lucas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Essa evolução obriga a que Intruder In The Dust seja mais
direto e negro, basta dizer que Chick chega a abrir a campa do defunto, contra
todos os pressupostos legais, descobrindo-a vazia e forçando uma nova direção
na investigação em curso. Quando no início é capaz de dar ordens a alguém com
uma cor de pele diferente da sua só por achar que tem esse direito adquirido,
no fim tem consciência plena de que existem desigualdades. Um importante
exemplo é o de Miss Habersham (Elizabeth Patterson), que, apesar dos seus quase
80 anos, oferece resistência à vontade popular de vingança contra Lucas,
expondo a tendência para a despersonalização em dinâmicas de grupo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O recurso a cenários reais do Mississippi, terra natal de
Faulkner, também lhe dá uma vantagem, a apresentação do sul impiedoso é vívida.
A queda num rio congelado força o primeiro encontro entre Chick e Lucas. As
mansões das famílias brancas contrastam com as barracas das famílias pretas. Areias
movediças escondem um corpo sem vida. Por esta altura, Clarence Brown já havia
sido nomeado para o Óscar de Melhor Realizador seis vezes, ficando patente um
pragmatismo que só a experiência pode atribuir. Sem tribunais, sem melodrama,
sem grandes discursos, este filme retrata o estado de coisas com uma crueza
extraordinária.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>8/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt0041513/reference" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-21839336131830410332016-12-18T02:16:00.000-08:002016-12-18T02:16:07.435-08:00Richard Linklater e o Pinball<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-RZTS19bL8oE/WFZhNyYl44I/AAAAAAAAC2E/Tf9Up9JJZBEB42KSdbv0mftSEO2dhtX_wCEw/s1600/slacker-gunning-pinball.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-RZTS19bL8oE/WFZhNyYl44I/AAAAAAAAC2E/Tf9Up9JJZBEB42KSdbv0mftSEO2dhtX_wCEw/s1600/slacker-gunning-pinball.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Slacker (1991)</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-o13U6v8O9S4/WFZhNx1j96I/AAAAAAAAC2I/LA_v7zBysaoUQFlHSX41hd5S3CG5Po7MQCEw/s1600/Dazed%2BAnd%2BConfused.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="179" src="https://4.bp.blogspot.com/-o13U6v8O9S4/WFZhNx1j96I/AAAAAAAAC2I/LA_v7zBysaoUQFlHSX41hd5S3CG5Po7MQCEw/s320/Dazed%2BAnd%2BConfused.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Dazed and Confused (1993)</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-FatOo1BsBjE/WFZhNwIriOI/AAAAAAAAC2M/errP_fWPWckTT4PIDfiADRuC0EKjGwZvACEw/s1600/before%2Bsunrise.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="179" src="https://3.bp.blogspot.com/-FatOo1BsBjE/WFZhNwIriOI/AAAAAAAAC2M/errP_fWPWckTT4PIDfiADRuC0EKjGwZvACEw/s320/before%2Bsunrise.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Before Sunrise (1995)</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-f5Clt6se4y8/WFZhOIpFU8I/AAAAAAAAC2Q/Vx9msnDVXIk1liuOGpmfXdHsS-8K320IACEw/s1600/vlcsnap-2016-09-20-19h40m54s637.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="176" src="https://2.bp.blogspot.com/-f5Clt6se4y8/WFZhOIpFU8I/AAAAAAAAC2Q/Vx9msnDVXIk1liuOGpmfXdHsS-8K320IACEw/s320/vlcsnap-2016-09-20-19h40m54s637.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Waking Life (2001)</td></tr>
</tbody></table>
<br />O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-68621226268291174652016-12-11T11:46:00.003-08:002016-12-11T11:46:57.163-08:00Werckmeister Harmonies (Bela Tarr, 2000)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-R-wCUR9j-UU/WE2s4yVvrJI/AAAAAAAAC1w/GvyDny-ywSgTrhbbSji_Ys6IyrFQ9gFuQCLcB/s1600/Werckmeister_Harmonies_POSTER-e1434530481418.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-R-wCUR9j-UU/WE2s4yVvrJI/AAAAAAAAC1w/GvyDny-ywSgTrhbbSji_Ys6IyrFQ9gFuQCLcB/s320/Werckmeister_Harmonies_POSTER-e1434530481418.jpg" width="228" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Werckmeister Harmonies é um terrível pesadelo e um belo
sonho. É o som e o silêncio. Dia e noite. Preto e branco. Redenção/Condenação.
Esqueçam conceitos como ação ou tempo e agarrem-se apenas ao movimento que se
estende de um espaço até outro diferente mas estranhamente ligado ao anterior.
Atravessamos uma vila húngara, admiramos as suas gentes, as suas casas, os seus
lugares comuns, a natureza que os rodeia, a ameaça que se aproxima, a desordem
que se materializa e depois desvanece com ainda mais celeridade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Esta ubiquidade neutra estabelece Werckmeister Harmonies
como um ensaio primariamente plástico, e, nesse sentido, é um filme imaculado.
Temos 24 frames por segundo em 145 minutos de película e 39 longas cenas, de
uma fluidez e mise-en-scène tão etéreas que nos perdemos a contemplar cada
milímetro quadrado do ecrã, como se mais nada importasse senão a imagem
propriamente dita, não o que significa ou em que contexto se insere, mas apenas
as formas e os contrastes daquilo que vemos, sejam pessoas, construções ou
paisagens. O que interessa não é o que acontece, mas o que vemos no que vai acontecendo.
Apercebemo-nos do terrível facto de que tudo isso se perde a cada segundo que
passa e ficamos na dúvida do que é maior, se a tristeza pelo que fica para
trás, se o entusiasmo pelo que Bela Tarr filmará a seguir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Num plano secundário encontramos resquícios de uma história,
que nem é sobre ninguém em particular, apesar de ser apresentada à medida que
seguimos um rapaz que se confunde com os cenários que atravessa. Janos (Lars
Rudolph) conhece tudo e todos, é o nosso guia, destila meia dúzia de frases
feitas sobre o cosmos, mas não tem um discurso pessoal. Quando uma espécie de
circo chega à cidade, são apresentados aos cidadãos dois atos, que representam
perspetivas de vida opostas: apreciar uma baleia, cujo gigantismo e harmonia
coloca os homens no seu lugar e os relembra da responsabilidade de viver em
sintonia com a natureza, ou acompanhar o “príncipe”, um niilista misterioso que
vai instigar revoltas desnecessárias, como tantas que acontecem ao longo da
História e por todas as geografias.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Desde a primeira cena que o confronto entre a luz e as
trevas é evidente, quando vários homens numa taberna teatralizam um eclipse,
coordenados por Janos. Mais para o fim, um grupo ameaçador marcha contra o
hospital, transformado por discursos vazios, até chegar a um balneário onde um
idoso nu se mantém petrificado. Perante tal demonstração da fragilidade humana,
regressa o silêncio e a calma. Pura excelência técnica e contemplativa que
desafia qualquer descrição.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>9/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt0249241/reference" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-14395202750800207762016-12-04T01:46:00.000-08:002016-12-04T01:46:29.133-08:00It Follows (David Robert Mitchell, 2014)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-5Ggmo6LElDc/V-A7RXvPkrI/AAAAAAAAC0M/dsQu-MnKFMoxW3yaXckVNsPrVN7uERP9QCLcB/s1600/it-follows-poster.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-5Ggmo6LElDc/V-A7RXvPkrI/AAAAAAAAC0M/dsQu-MnKFMoxW3yaXckVNsPrVN7uERP9QCLcB/s320/it-follows-poster.jpg" width="249" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Aqueles takes longos e silenciosos, aquela mistura de sons e
imagens misteriosas e aquela utilização dos elementos naturais para esconder
ameaças prestes a ser reveladas que são transversais aos melhores filmes de
John Carpenter contribuem para criar uma atmosfera singular - é exatamente isso
que David Robert Mitchell parece perseguir em It Follows, essa impressão de que
um assassino está à espera num quintal do subúrbio mais pacífico imaginável, de
que fantasmas podem saltar do nevoeiro numa banal vila costeira ou até de que
aliens se refugiam debaixo da pele de pessoas com que nos cruzamos todos os
dias.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Lentamente, somos apresentados a uma família composta por
várias mulheres de diferentes idades, na qual a mãe se mantém praticamente ausente
e as filhas dividem o tempo entre as aulas, a piscina desmontável e, no caso de
Jay (Maika Monroe), encontros com um rapaz que conhece mal. Após fazerem sexo
pela primeira vez, ela inicia um monólogo romântico e é um belo cenário de amor
que quase nos ilude de que nada se passa, quando, de repente, ele salta-lhe em
cima e abafa-a com clorofórmio. O filme começa. Ao acordar, Jay fica a saber
que lhe foi transferida, qual DST, uma maldição que a perseguirá sob a forma de
espectros lentos e com vontade de matar, apenas visíveis pelo(a) hospedeiro(a).
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sendo impossível de prever onde e quando a alcançarão, ela
não pode parar num só sítio nem adormecer, sob pena de ser apanhada durante o
sono. As irmãs e os amigos notam uma diferença brutal no seu comportamento e,
depois de Jay partilhar esta história sobrenatural, eles acompanham-na numa
série de tentativas para decifrar a verdade, incluindo os mais céticos. Para
além de jogar com as ansiedades sobre a sexualidade juvenil da forma mais
subversiva desde <b>Kids</b> (1995), pondo de lado o realismo extremo de Larry Clark e
substituindo-o pela criatividade do cinema de terror, coloca-se um enorme
dilema moral através das seguintes opções: deixar-se ser apanhada e morrer,
fugir até à exaustão ou passar o vírus a outrem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Para onde quer que o grupo vá, algo os segue. A união que se
gera levará a um excesso de solidariedade? Serão interrompidos por um ato
invisível de violência em casa ao abrir a porta do quarto, no parque infantil
com algo a saltar de trás de uma árvore ou na margem do lago onde se escondem
temporariamente? Pode acontecer a qualquer momento e é incrível como nunca
deixamos de ter consciência disso. Os contrastes da cidade de Detroit, a
familiaridade das personagens e lugares e a banda sonora a relembrar <b>Halloween</b>
(1978) elevam It Follows ao nível de um clássico moderno do género.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>9/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt3235888/reference" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-26646404195648681352016-11-13T11:15:00.000-08:002016-11-13T11:15:38.974-08:00Waking Life (Richard Linklater, 2001)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-5CSJVOHonnM/WAzMO2bqqsI/AAAAAAAAC1A/NjR4m4LYouEbfghp_YDNAmolQTovx6AVQCLcB/s1600/waking%2Blife.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-5CSJVOHonnM/WAzMO2bqqsI/AAAAAAAAC1A/NjR4m4LYouEbfghp_YDNAmolQTovx6AVQCLcB/s320/waking%2Blife.jpg" width="224" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Richard Linklater não se ensaia muito para mandar pela
janela as convenções narrativas com que a maioria do cinema mainstream se rege,
preferindo trabalhar com sucessões de vinhetas, relacionadas apenas
superficialmente entre si, para procurar alguma verdade mundana que possa ter
uma ressonância intelectual ou motivar um despertar emocional. Regra geral, nem
sequer é um momento específico que resume o impacto dos seus filmes, antes esse
acumular de situações familiares (que nos obriga a ver com outro olhar) vai
deixando a sua marca e, quando se dá por ela, já não estamos em frente a um
ecrã mas a explorar as ruas de Viena ou no liceu à caça do que fazer depois das
aulas, somos absorvidos pelo momento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O valor do tempo define-se para construir uma lógica interna
de evolução dos acontecimentos. <b>Before Sunrise</b> só faz sentido porque cada
minuto da viagem de Celine e Jesse vale mais perto de um minuto do relógio do
que estamos habituados, por exemplo. Em Waking Life, a sua perceção é mesmo imensurável,
porque a realidade específica na qual a personagem principal deambula é o mundo
dos sonhos e sabemos como a passagem do tempo durante o sono é variável. De
cada vez que acorda, o rapaz está num sonho dentro de outro sonho, preso dentro
de infinitos círculos concêntricos. Com isso, atinge recantos do subconsciente
onde encontra ideias filosóficas que a sua mente interpõe através de figuras
invulgares.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O facto de ser um jovem a ter esta experiência alinha-se com
a simpatia do realizador pelo espírito contestatário daquelas fases em que se
quer todas as perguntas e todas as respostas e que, para o melhor e para o
pior, se dilui com a entrada na vida adulta e as responsabilidades que isso
acarreta. Cada cena pondera a evolução da humanidade, o existencialismo, a
importância das artes ou o livre arbítrio com uma eloquência invulgar. São
monólogos e diálogos com o professor universitário de química Eamonn Healy, um
homem que se imola no meio da rua, o escritor africano Aklilu Gebrewold, um
preso com desejo de vingança, um chimpazé que fala, Timothy Levitch, entre
outros, no documentário mais estranho de sempre, no fundo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Resta mencionar que Waking Life é uma animação, escolha
surpreendente para um ensaio filmado. A aposta arriscada no rotoscópio, em que
a ação foi gravada e os desenhos foram feitos por cima duma projeção posterior
em estúdio, reforça a qualidade fluída do estilo minimalista e natural de
Linklater. As linhas estão em constante movimento e preenchem estas
especulações com pormenores surrealistas e cubistas. O que busca é liberdade
total, criativa e conceitual, e nem importa se é possível atingi-la. Waking
Life não é igual a nada, o que, por si só, o autojustifica. Como se não fosse
suficiente, há pano para mangas a nível de temas de conversa e exercício para
os pensadores inquietos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>8/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt0243017/reference" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-29414332704490396172016-10-23T07:32:00.000-07:002016-10-23T07:32:18.885-07:00Dazed And Confused (Richard Linklater, 1993)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-luWH-ts36dE/V9p_O5mU0_I/AAAAAAAACzo/XlEdtc2ejakQWKQ_cCyRPkq-fBsWqu3aQCLcB/s1600/dazed%2Band%2Bconf.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-luWH-ts36dE/V9p_O5mU0_I/AAAAAAAACzo/XlEdtc2ejakQWKQ_cCyRPkq-fBsWqu3aQCLcB/s320/dazed%2Band%2Bconf.jpg" width="213" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não é segredo que os Led Zeppelin pediram emprestadas sem
nunca mais devolver as melodias de vários clássicos do seu catálogo. Logo no
primeiro álbum encontramos Dazed And Confused, que hoje é descrita como sendo
inspirada numa música com o mesmo nome de Jack Holmes, artista com quem Jimmy
Page se cruzara ainda no tempo dos The Yardbirds. Inspirada é um eufemismo.
Provavelmente consciente das parecenças deste filme com <b>American Graffiti</b>, o realizador
Richard Linklater ironiza na escolha do título e segue em frente com a sua
visão de um dia na vida de adolescentes americanos, sem receio do pastiche.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
George Lucas preferira o mês de setembro em vez do fim do
ano letivo numa escola secundária, diferença subtil que torna Dazed And
Confused mais relaxado, porque um verão inteiro de liberdade se avizinha e a
entrada na universidade ainda não é iminente. As conversas focam-se menos nas
incertezas quanto ao futuro ou em relações em risco. Pelo contrário, resvalam para
férias, festas, rituais escolares e romances de rápida evolução. Ninguém acaba
a trocar a terra pelo resto do mundo, antes a celebrar atos de rebeldia
imprudente. Estes elementos estão omnipresentes em ambos, só que em quantidades
totalmente inversas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os eventos sucedem-se aleatoriamente, não há uma história,
apenas deambulações, próprias da juventude. Todas as gerações têm as suas modas
e se tentam distinguir das anteriores, mas há estereótipos que parecem
perpetuar-se: o bully, o cromo, o atleta, entre outros. O que muda são os
comportamentos e, com os anos 70 em pano de fundo, Dazed And Confused pisa mais
o risco. O álcool e as drogas disseminaram-se como nunca, metade dos diálogos
têm a ver com cerveja ou marijuana. Nas entrelinhas pode-se ler que esta não é
a América em estado de graça no pós-guerra, é a América do Vietname, sem
Kennedy e depois de Woodstock.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Com Aerosmith, Kiss, Alice Cooper ou Foghat na magnífica
banda sonora e Matthew McConaughey, Ben Affleck ou Parker Posey a darem um ar
da sua graça, é a contracultura que ganha o papel principal, consistente com o
perfil de autor alternativo, antiautoritário e autodidata de Linklater. A forma
como alterna o foco entre as várias personagens é mais equilibrada do que em
<b>Slacker</b>, o seu filme anterior, não aparecem e desaparecem, vão e vêm, havendo
várias interligações. Retrata-se com maior proximidade um determinado espaço e
tempo, uma qualidade que foi aperfeiçoando ao longo da carreira.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>8/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt0106677/reference" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-29504941694226378042016-10-18T14:16:00.001-07:002016-10-18T14:16:11.504-07:00BFI London Film Festival 2016<div style="text-align: justify;">
Só para dizer que fiz uma modesta passagem pelo BFI London Film Festival este fim-de-semana, mais concretamente no sábado, onde vi, no cinema Vue em Leicester Square, o novo filme de Paul Schrader, <b>Dog Eat Dog</b>, uma comédia negra com Nicolas Cage e Willem Dafoe em estado de delírio total. Sinceramente, a melhor parte foi o realizador estar presente e pronto para interagir com a audiência. Afinal, estamos a falar do homem que escreveu <b>Taxi Driver</b>, <b>Raging Bull</b> ou <b>The Last Temptation Of Christ</b>, para mencionar algumas das colaborações com Martin Scorsese.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-I9z8Oz1Kp0k/WAaQYpHi53I/AAAAAAAAC0s/6dsRAryW7qUdbA4rtEmOcS36YMYirj9OgCLcB/s1600/DSC06175.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-I9z8Oz1Kp0k/WAaQYpHi53I/AAAAAAAAC0s/6dsRAryW7qUdbA4rtEmOcS36YMYirj9OgCLcB/s320/DSC06175.JPG" width="240" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-g1tZQ8qGRfY/WAaQYIn8ISI/AAAAAAAAC0o/r90LgqQTRBEmFnekQ7qcMrCsbgHRnYL4ACLcB/s1600/WP_20161015_029.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="239" src="https://2.bp.blogspot.com/-g1tZQ8qGRfY/WAaQYIn8ISI/AAAAAAAAC0o/r90LgqQTRBEmFnekQ7qcMrCsbgHRnYL4ACLcB/s320/WP_20161015_029.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-JGA_zjzz9DM/WAaQXxKpJDI/AAAAAAAAC0k/DriL4pD-KWA5ao6LjHUFst5vUA8RZWEkQCLcB/s1600/WP_20161015_034.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-JGA_zjzz9DM/WAaQXxKpJDI/AAAAAAAAC0k/DriL4pD-KWA5ao6LjHUFst5vUA8RZWEkQCLcB/s320/WP_20161015_034.jpg" width="239" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-62873274424234949772016-10-08T06:32:00.000-07:002016-10-08T06:32:08.692-07:00Successive Slidings of Pleasure (Alain Robbe-Grillet, 1974)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-C7G4QAuc6KE/V8gB_CeZvOI/AAAAAAAACyU/Pj6zlQhhWncy2Q2MuVZJHlgT0Z_kVr3nwCLcB/s1600/Successive_Slidings_of_Pleasure.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-C7G4QAuc6KE/V8gB_CeZvOI/AAAAAAAACyU/Pj6zlQhhWncy2Q2MuVZJHlgT0Z_kVr3nwCLcB/s320/Successive_Slidings_of_Pleasure.jpg" width="235" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Uma artista adolescente é presa por supostamente ter
assassinado a mulher mais velha com quem vivia. Se por um lado esta insiste que
um estranho entrou no apartamento e terá cometido o crime, apesar de lhe
pertencer a tesoura usada como arma, por outro diverte-se com a atenção que lhe
é dedicada pelo detetive da polícia, o juiz local, o padre e as freiras da
prisão, inventando histórias de prostituição, sadomasoquismo e lesbianismo para
os chocar – e aos espectadores, diz mesmo uma personagem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Com Robbe-Grillet as coisas nunca são fáceis de decifrar. Aliás,
são propositadamente impossíveis e quando começamos a tentar descobrir o que é
verdade e o que é mentira no contexto do enredo é quando o autor passa a
ter-nos na mão, porque no cinema tudo é uma ilusão. Assim, é permitido o
inexplicável. Successive Slidings Of Pleasure assemelha-se a um labirinto com
infinitos becos sem saída e no fim volta-se à entrada. Através de padrões,
motivos e repetições somos chamados à atenção para palavras, atos ou objetos
que podem ter implicações palpáveis para o caso ou valor puramente surrealista.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A certa altura, o juiz e a adolescente testam-se através de
livre associação. O que se conclui através desse método de psicanálise parece
ser vago e condicionado pelo que se procura naquilo que se ouve, e cada um
procurará algo diferente consoante a sua sensibilidade. Da mesma forma, a pá
encontrada num armário pode ou não ter relação com a pá do coveiro que enterra
uma amiga da escola. Pela masmorra de tortura medieval em uso pelo clérigo pode
estar a ser estabelecido um caso real de maus tratos, um paralelismo simbólico
com as bruxas de antigamente ou uma fantasia sexual perversa. E por aí fora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tal como em <b>Eden And After</b>, a nudez e a violência são
constantes, andam de mãos dadas e têm tanto de perturbador como de fascinante. Robbe-Grillet
preenche cada frame de película com a mesma duplicidade de cada página dos seus
textos. Ninguém cria um enigma como ele, ou não estivéssemos a falar da pessoa
que escreveu <b>Last Year At Marienbad</b> (1961). Hostil à ideia de uma narrativa, em
Successive Slidings Of Pleasure constrói outra vez um mundo de provocações
intelectuais aberto a todas as interpretações.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>8/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt0070116/reference" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-27679871353742383852016-10-02T13:41:00.001-07:002016-10-02T13:47:30.532-07:00The Lobster (Yorgos Lanthimos, 2015)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-k1QFHYZ--EA/V83db6yp-FI/AAAAAAAACys/1LiWMHTbvQUfIMGo-5pjaRwPZWlmR9JBQCLcB/s1600/the%2Blobster.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-k1QFHYZ--EA/V83db6yp-FI/AAAAAAAACys/1LiWMHTbvQUfIMGo-5pjaRwPZWlmR9JBQCLcB/s320/the%2Blobster.jpg" width="230" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
David (Colin Farrell) é um arquiteto em processo de
separação numa cidade distópica onde estar solteiro é tratado como um crime.
Assim, tem de se retirar para um complexo no campo com todos os confortos de um
hotel de luxo, onde será induzido a encontrar uma nova parceira entre os
restantes hóspedes, nos 45 dias em que lá pode permanecer, ao fim dos quais é
compulsivamente transformado num animal à sua escolha. Logo de início define a
sua preferência por lagostas, porque vivem um século, têm sangue azul como os
aristocratas e mantêm-se férteis durante toda a vida. Mais à frente, enfatizam-lhe
a alta probabilidade de ser apanhado do mar e cozinhado vivo. Como se o absurdo
estivesse na opção tomada e não num sistema social que obriga a metamorfoses
forçadas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O filme é hilariante e deprimente em igual medida na
apresentação das regras destinadas a controlar as relações da população, tanto
na metrópole, onde a polícia interroga quem anda sozinho no shopping, nesta
espécie de centro de acolhimento, onde são encenadas situações cujo desfecho é
muito diferente quando se tem alguém por perto e quando não se tem, para
incentivar as uniões, como na floresta onde se refugiam os desertores, à qual
vai parar, em que todos admitem sem inibições quando se masturbam, mas só podem
dançar sem contacto físico, porque na cabeça distorcida da sua líder (Léa
Seydoux) a melhor revolta não é as pessoas juntarem-se por amor, mas sim não se
juntarem sob nenhuma circunstância. Nem em exílio David usufrui de um convívio
genuíno e sem restrições.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Com tanto extremismo, não surpreende que na civilização os
casais sejam artificiais, agarrando-se a ou inventando insignificantes pontos
em comum para justificar a sua permanência na raça humana, e fora dela sejam impossíveis,
quando a adversidade até cria condições para se aproximarem naturalmente. Primeiro,
David junta-se à mulher mais instável do hotel, propondo simular uma total falta
de sentimentos. Quando ela, para o testar, lhe mata o cão, que terá sido o seu irmão,
ele, como não é um psicopata, chora, denuncia-se, atordoa-a e foge. Na
clandestinidade, aproxima-se de uma míope (Rachel Weisz) só por também o ser, formatado
que está para reconhecer esses detalhes como essenciais neste mundo
despersonalizado, e até acaba por estabelecer com ela uma ligação tão perto do
amor quanto possível.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A líder descobre e cega-a. No fim, ele ameaça tirar os
próprios olhos, ou seja, apesar de tudo precisa de continuar a partilhar uma característica
aleatória para validar esta afeição, não consegue libertar-se das convenções em
que foi criado. Lembrei-me do alheamento visto em <b>Her</b>, ainda que The Lobster
não o retrate apenas como consequência das novas tecnologias, estende-o aos
valores atuais do ocidente em geral, nem com a leveza de Spike Jonze, antes com
a gravidade (e a tortura animal enquanto metáfora) de Michael Haneke misturada
com o humor seco de Wes Anderson. Quando temos a natalidade a diminuir, estudos
que apontam a geração Y como a menos ativa sexualmente dos últimos 100 anos e a
Dinamarca a promover o coito com efeitos reprodutivos através de campanhas de
televisão, dá que pensar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>8/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt3464902/reference" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-29890302296477110302016-09-24T14:08:00.000-07:002016-09-24T14:29:48.852-07:00Closer (Mike Nichols, 2004)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-nZ8cfd6LICA/V8VPLQu93pI/AAAAAAAACxY/Q853gyAr1WY9CHKufvfAd_aBWvtLXPUsACLcB/s1600/closer.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-nZ8cfd6LICA/V8VPLQu93pI/AAAAAAAACxY/Q853gyAr1WY9CHKufvfAd_aBWvtLXPUsACLcB/s320/closer.jpg" width="214" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Closer congregou um texto engenhoso, um elenco adequado e um
timoneiro experiente, três atributos primordiais para o sucesso de um filme
numa perspetiva clássica, herdada do teatro. O realizador Mike Nichols levava
já anos de análise dos meandros das relações humanas, tendo inaugurado a
carreira em 1966 com a herculeana tarefa de dirigir Elizabeth Taylor e Richard
Burton, o casal mais volátil da história de Hollywood, na transposição da peça
<b>Who’s Afraid Of Virginia Woolf?</b>, sobre um matrimónio entorpecido pelo consumo
constante de álcool. Clive Owen, como um dermatologista manipulativo, Julia
Roberts, como uma fotógrafa deprimida, Jude Law, como um escritor cobarde, e
Natalie Portman, como uma stripper à deriva, constroem os papéis com um
discernimento profundo do seu alcance. E o argumento fez esses estereótipos
colidir de forma a expor as suas vulnerabilidades, que estão cobertas por
diálogos cheios de falsidade e arrogância.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A genialidade de Closer reside na sua momentaneidade. Ao
focar-se apenas nos pontos de viragem nas uniões e desuniões, encontros e
desencontros dessas quatro pessoas, abrem-se valas de interrogações nos
períodos intermédios. Vemo-los a confrontarem-se, revelarem-se, agredirem-se e
abandonarem-se uns aos outros vezes sem conta, mas e os anos pelo meio durante
os quais enganaram os parceiros dia após dia? Quando estavam juntos, faziam os
seus programinhas ou iam para a cama, quantas mentiras contaram? Quando não
estavam juntos, quantas vezes foram infiéis premeditadamente e depois voltaram
para casa e perpetuaram a sua falta de honestidade? Essa intimidade amorfa é
considerada pornográfica, não a vemos, ficamos apenas com as roturas, cujas
conclusões revelam sempre o valor real das relações, mesmo quando as palavras não
condizem com os acontecimentos. Por causa desses vazios, cada cena ganha uma
força própria. Menos é mais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os filtros na linguagem vão desaparecendo. Os insultos e as
avaliações de caráter tornam-se brutais, frequentes e reveladores. À medida que
a convivência se vai prolongando, mais fácil fica adivinhar o que fere o outro
lado numa discussão. Apenas quando Dan (Law) conhece Alice (Portman) há
vestígios de inocência e de desprendimento, e até aí diria que são unilaterais,
pois no fim percebemos que a jovem americana perpetuou a maior farsa da
história, ao assumir outra identidade durante a sua passagem pelo Reino Unido.
Cada espetador terá a sua interpretação sobre quem é a maior vítima das
circunstâncias; eu acredito que seja Dan, porque se deixa levar por
ingenuidades quando tem de tomar decisões e perde ambas as mulheres, uma para
outro homem, a outra… nunca chegou a tê-la. Quanto ao elo mais nocivo, nem me
aventuro a argumentar. É irónico que um filme sobre disfuncionalidades consiga
ser tão esclarecedor. <span lang="EN-US">“Have
you ever seen a human heart? It looks like a fist wrapped in blood.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US"><b>9/10<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US"><b><br /></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US"><a href="http://www.imdb.com/title/tt0376541/reference" target="_blank"><b>IMDb</b></a></span></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-13898103012333516362016-09-18T10:59:00.000-07:002016-09-18T11:13:13.887-07:00Cannibal Holocaust (Ruggero Deodato, 1980)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-FjpdG75hdeE/V97U0yBXl-I/AAAAAAAACz4/wWISKmE7-iEKmNCnDMoRvJgT6LB6n-nzwCLcB/s1600/cannibalbg.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-FjpdG75hdeE/V97U0yBXl-I/AAAAAAAACz4/wWISKmE7-iEKmNCnDMoRvJgT6LB6n-nzwCLcB/s320/cannibalbg.jpg" width="214" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Fita icónica do exploitation italiano dos anos 80, Cannibal
Holocaust é um dos filmes mais viscerais alguma vez feitos. Pode-se discutir as
polémicas que o envolveram, pode-se discutir as intenções do conteúdo, a uns
pode fascinar, a outros pode repugnar, mas ninguém fica indiferente aos níveis
de realismo e de intensidade que são impostos do início ao fim. Por muito
exagerada que pareça a história, por muito descuidado que seja em termos
técnicos, esta é uma experiência capaz de fazer qualquer um contorcer-se na
cadeira, o que, por si só, representa um triunfo cinemático.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A viagem de uma equipa jornalística americana que se perde
na selva amazónica, sendo descobertos, dois meses depois, apenas os vídeos que
gravaram durante a sua expedição à procura de tribos indígenas canibais, tem
todos os ingredientes para uma chacina de fazer virar o estômago. Realmente,
vemos mulheres empaladas, animais mortos, violações em grupo e, claro, sangue a
esguichar em cascatas. Se juntarmos a isto as condições exigidas por Deodato
para criar a ideia de que se estaria perante um documentário e não de ficção,
desde o estilo caseiro das filmagens às cláusulas nos contratos dos atores para
não aparecerem em público durante um ano após a estreia, compreende-se que
tenham surgido rumores de que muito de Cannibal Holocaust era verdade, ao ponto
de a justiça ter sido forçada a abrir uma investigação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em todo o caso, muito além desta javardice, merece destaque
um aspeto que não salta tanto à vista, que é a estrutura do argumento.
Inicialmente segue-se o cientista Monroe, que se aventura no interior da
América do Sul com dois soldados para apurar o paradeiro dos repórteres. Acaba
por se deparar com a tribo que lhe fornece as tais cassetes, que leva consigo
para análise nos EUA. A cadeia televisiva que financiou a expedição inicial
solicita uma projeção privada das mesmas, pois têm os seus direitos e podem
decidir tornar as imagens públicas. Só nesta altura começa o festim gore e os
executivos presentes desistem da intenção de transmitir ao verem os últimos
minutos, quando a bizarria se torna, para qualquer espectador, quase impossível
de tolerar e conter os vómitos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Assim, tem-se duas viagens intercaladas e apresentadas em
ordem cronológica inversa, aumentando-se a expectativa, na certeza de que nada
pode preparar para tanta violência. Os críticos teceram teorias sobre desprezo
pelo sensacionalismo dos media, Deodato respondia que apenas queria fazer um
filme com canibais. Seja como for, escorre uma enorme torrente de antropofobia,
sendo difícil sentir o que quer que seja tanto pelas tribos ameaçadas por gente
supostamente civilizada como pela gente civilizada ameaçada por tribos supostamente
selvagens. Onde estão os verdadeiros canibais fica ao critério de cada um.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>7/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt0078935/reference" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-48559745624506027732016-09-11T11:13:00.000-07:002016-09-11T11:13:24.593-07:00The Hateful Eight (Quentin Tarantino, 2015)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-fWVAHiJ4sTY/V8VP053NsRI/AAAAAAAACxc/fYfSUXo5hicmmOKNYFAcB_S1yQ5Mzj07QCLcB/s1600/hateful%2Beight.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-fWVAHiJ4sTY/V8VP053NsRI/AAAAAAAACxc/fYfSUXo5hicmmOKNYFAcB_S1yQ5Mzj07QCLcB/s320/hateful%2Beight.png" width="210" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A estreia de um novo filme de Quentin Tarantino é sempre um
evento, tão próprio é o seu estilo e tão idiossincrática é a sua personalidade.
Ainda assim, desta vez ele decidiu levar a expressão a outro nível, reavivar o
formato Ultra Panavision 70, que usa a maior bitola cinematográfica de todas e
estava desaparecido desde <b>Khartoum</b> (Basil Dearden, 1966), obrigar à
substituição dos projetores digitais de salas um pouco por todo o mundo por
projetores de película e criar um espetáculo itinerante à antiga para anunciar
o seu regresso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Este circo parece-me particularmente adequado para The
Hateful Eight, que representa a “experiência Tarantino” no seu estado mais
extremo. Apenas o díptico <b>Kill Bill</b> ultrapassa os 167 minutos deste western. Os
capítulos e flashbacks não faltam. Na banda-sonora, consuma o seu fetiche de
ter material original do mítico Ennio Morricone. Estão de volta Michael Madsen,
Tim Roth ou Kurt Russell, a juntar a outros regulares. O seu truque de abrandar
o ritmo com frente a frente intermináveis e juntar protagonistas num espaço
reduzido nos clímax para efeito dramático é aqui esticado a uma história
inteira.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Corre a ideia de que os filmes deste realizador estão
repletos de ação frenética, o que está longe da verdade. A extravagância não
tem limites na construção das personagens, nos diálogos sem filtros, na
violência explícita ou nos movimentos de câmara, o que dá azo a muito frenesim.
No entanto, para compreender o seu funcionamento há que notar como <b>Pulp Fiction</b>
culmina num monólogo transcendente à mesa de um diner ou como os heróis de
<b>Django Unchained</b> são expostos num jantar de meia hora à luz das velas. As
melhores cenas são lentas, compridas, tensas e reveladoras.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
The Hateful Eight é isso quase do início ao fim. Marquis
Warren (Samuel L. Jackson) crava boleia a John Ruth (Kurt Russell) no meio de
uma tempestade até um alojamento conhecido na zona. São ambos caçadores de
recompensas, o primeiro acredita na lei da bala, o segundo entrega os
criminosos vivos à justiça. Precisamente por isso, transporta consigo Daisy
Domergue (Jennifer Jason Leigh, a interpretação mais marcante, com a cara
coberta de sangue e os olhos cheios de loucura), que deverá ser enforcada numa
cidade ali perto. Eles e outros seis viajantes vão ter de esperar que a neve
pare de cair à volta da mesma lareira.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Claro que cada um tem o seu motivo para ali estar e um
passado com ramificações até aquele momento. As surpresas precipitam as trocas
de tiros, até porque é a mais apurada coleção de misantropos de Tarantino
alguma vez vista, o que claramente o divertiu durante o processo de escrita.
Ruth espanca a mulher que carrega sem receio de ser apelidado de misógino. No
seu masoquismo, Daisy lambe as feridas que lhe abrem na cara. Marquis mente a
torto e a direito. O resto do pessoal é racista, tanto contra os pretos como
contra os mexicanos (incluindo uma afro-americana que não deixa gringos entrar
no seu estabelecimento).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Todos esses rótulos foram usados erradamente ao longo dos
anos pelos críticos para descrever o autor em questão, por isso desta vez vira
o bico ao prego e ninguém no filme tem quaisquer qualidades redentoras. Claro
que não é o seu melhor trabalho, mas se todos conseguissem sambar na cara das
invejosas com esta destreza e esta criatividade, o mundo seria um lugar melhor.
The Hateful Eight é um espetáculo que só podia vir da cabeça de uma pessoa à
face do planeta, um western na neve mais impiedoso que <b>Day Of The Outlaw</b> (André
De Toth, 1959) que se assemelha a um whodunnit mais exaustivo do que <b>Reservoir
Dogs</b>.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>8/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt3460252/reference" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-12645984872215838932016-09-01T02:34:00.000-07:002016-09-01T02:34:08.393-07:00Goldfinger (Guy Hamilton, 1964)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-_TvD7AKsNB8/V8Sa38SkNBI/AAAAAAAACxI/JnJ02pclM14LkZo09eRSvKPnbBGJiohVQCLcB/s1600/goldfinger-523a56f0cce41.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-_TvD7AKsNB8/V8Sa38SkNBI/AAAAAAAACxI/JnJ02pclM14LkZo09eRSvKPnbBGJiohVQCLcB/s320/goldfinger-523a56f0cce41.jpg" width="224" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Para muitos, Goldfinger é o ponto alto da passagem do agente
secreto James Bond para o cinema. A interpretação a cargo de Sean Connery, a
banda sonora com a voz de Shirley Bassey e a imagem da loira platinada morta
por sufocação depois de ter sido coberta em tinta dourada e abandonada numa
suite do fabuloso Hotel Fontainbleau em Miami são chamarizes eficazes. Não lhe
falta estilo nem ousadia. É inaugurada a tradição da sequência pré-créditos sem
relação com o resto do enredo, aqui completa com o ator escocês a envergar um
blazer branco com uma rosa vermelha na lapela e a segurar num cigarro no
preciso momento em que uma bomba por ele plantada explode nas redondezas,
porque “cool guys don’t look at explosions”. É usada a alcunha mais badalhoca
de toda a série, Pussy Galore, uma aviadora que lidera um grupo de aprendizas
femininas que só vestem licra justinha quando estão nos comandos. Várias
imagens de marca que hoje damos como garantidas tiveram a sua origem aqui.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Até agora nada de negativo, apreciando-se esta mistura de
mistério internacional, humor sarcástico e estilo extravagante, como é o meu
caso. O agente do MI6 que seduz todas as mulheres que lhe aparecem pelo caminho
e que resolve todas as ameaças do submundo do crime com o máximo de discrição é
entretenimento de referência. No entanto, sempre torci o nariz a este
Goldfinger, essencialmente pelo seguinte: James Bond é inútil nesta
história! Basta realçar que passa dois terços do tempo preso. A partir do
momento em que Oddjob, o capataz mudo com um chapéu assassino, vassalo do
milionário louco do título, apanha o nosso herói a espiar uma fábrica de
fundição de ouro, o papel deste resume-se a ter um laser perigosamente perto do
abono de família, levar porrada, ser preso, levar porrada e não conseguir
desativar uma bomba. Pelo meio, fica por determinar se convence Pussy Galore a
mudar de lado quando a viola (!) e a dar o alarme ou se esta era uma agente
infiltrada na quadrilha de Goldfinger desde o início.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Estar à mercê do mau da fita a certa altura faz parte da
receita de qualquer filme do 007, mas não é preciso levar isso a este exagero.
Já para não falar da risível tentativa de vingança do primeiro, que consegue
entrar armado num jato privado da CIA que é suposto levar Bond e a senhora Pussy
ao encontro do presidente dos EUA. Isto depois de o seu plano de arrombar o
Fort Knox, com recurso ao espalhamento de gás tóxico sobre a base militar que o
guarda, para matar milhares de soldados, avançando sem resistência para a
contaminação da reserva de ouro da maior potência mundial com radiação nuclear,
tornando-a inútil e aumentando exponencialmente o valor das barras que passou a
vida a contrabandear e a guardar, sair gorado. Apesar da sua relevância no
estabelecimento de ideias-chave deste universo cinemático, Goldfinger acaba por
ser o mais medíocre da era Connery.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>5/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt0058150/reference" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-50467079140469931142016-08-29T13:08:00.002-07:002016-09-01T02:53:33.072-07:00On Her Majesty's Secret Service (Peter R. Hunt, 1969)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-9FBZJ3S7La0/V8f6k86lc1I/AAAAAAAACx4/LczHhqH78aMQGPe6TyQ0dLTzqohYpYKFgCLcB/s1600/on-her-majestys-secret-service-522a99313ab83.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-9FBZJ3S7La0/V8f6k86lc1I/AAAAAAAACx4/LczHhqH78aMQGPe6TyQ0dLTzqohYpYKFgCLcB/s320/on-her-majestys-secret-service-522a99313ab83.jpg" width="224" /></a></div>
On Her Majesty’s Secret Service, ou o filme em que James
Bond se casa e a esposa é assassinada horas depois na Serra da Arrábida. O
sexto tomo da série do espião mais famoso do cinema é afamado por vários
motivos, sendo a passagem por Portugal um deles, ou não tivesse Ian Fleming, o
criador da personagem, absorvido inspiração para algumas das aventuras nas suas
estadias no Casino e no Hotel Palácio do Estoril. Diz-se que o produtor Harry
Saltzman planeara usar praias francesas como local de gravação, mas o
realizador Peter Hunt achou que eram cenários já gastos e decidiu-se antes
pela província da Estremadura.<br />
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="MsoNormal">
Para além de ser a única vez, até agora, que 007 pede um
Martini batido, não mexido, no nosso retângulo, é desenvolvida uma história
invulgarmente pessoal e regista-se a primeira mudança de ator no papel
principal, com a saída do pioneiro Sean Connery e a entrada do inexperiente
George Lazenby. O decréscimo de carisma a este nível desilude, é impossível não
pensar que, com o escocês a dar a cara, este talvez tivesse sido o melhor Bond
de sempre. Podemos, contudo, contentarmo-nos com a presença de Diana Rigg, a
noiva, que ainda é das mulheres mais fascinantes que apareceu no grande ecrã.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A Suiça também está em destaque, mais concretamente o
cantão de Berna, com os teleféricos e as pistas de neve de Mürren a esconderem
um laboratório secreto onde Blofeld (também interpretado por um novo ator, neste
caso Telly Savalas) está refugiado, a preparar um conflito biológico. O
encontro entre o herói e o vilão só é possível porque On Her Majesty’s Secret Service
antecede cronologicamente <b>You Only Live Twice</b>, permitido assim que Bond se
infiltre, sem ser reconhecido, com o disfarce de perito em heráldica,
contratado para validar um título falso de conde que Blofeld quer usar como
fachada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Esta perseguição ao número um da SPECTRE é facilitada por
uma organização criminosa concorrente, pronta a fazer jogo duplo com os
serviços secretos para benefício próprio. É assim que entra em cena Draco, o
seu chefe, e a filha Tracy, por quem o agente inglês se apaixona, pelo que, no
meio do enredo já de si bastante sólido, há essa dimensão sentimental que é
muito bem gerida e que se manteve ausente da série até à época de Daniel Craig.
Com todos estes elementos diferenciadores, não é de espantar que On Her
Majesty’s Secret Service receba frequentemente louvores dos fãs.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>8/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt0064757/reference" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-18171196739205226972016-05-30T13:08:00.005-07:002016-09-01T02:51:48.750-07:00Morvern Callar (Lynne Ramsay, 2002)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-A7uIVaZyc4U/V8f6HOEfZEI/AAAAAAAACx0/d12m1ikD8AMlod4J-L4gY6fdt1fKti_GQCLcB/s1600/morvern%2Bcalalr.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-A7uIVaZyc4U/V8f6HOEfZEI/AAAAAAAACx0/d12m1ikD8AMlod4J-L4gY6fdt1fKti_GQCLcB/s320/morvern%2Bcalalr.jpg" width="224" /></a></div>
Às vezes somos confrontados com pessoas, situações ou
atitudes que mexem connosco num nível primitivo de emoção e que percebemos sem
perceber porquê, sem as conseguir explicar coerentemente. Morvern Callar pode
ser uma experiência desse tipo ou pode ser uma frustrante sucessão de momentos
de irracionalidade pura. A primeira cena pode dizer tudo e pode não dizer nada,
mas dirá demasiado àqueles que imediatamente quiserem julgar a personagem
principal. O namorado de Morvern está deitado no chão da casa onde viviam,
morto, com os pulsos cortados, e é impossível dizer se Morvern se sente triste,
contente, se sente o que quer que seja perante tal cena. E esse é o cerne da
divisão entre espectadores que adoram este filme e espectadores que o odeiam.
Porque mesmo que pouco ou nada do que ela faça a partir desse ponto seja
razoável, simplesmente será difícil apreciar a forma como, confrontada com a
dúvida, com o suicídio inexplicável de alguém que lhe era próximo, ela recusa
sentir-se paralisada e deixa o seu instinto tomar todas as decisões e levá-la
aonde quer que seja, já que uma coisa é certa, a sua vida nunca mais será a
mesma. Se ela sente raiva ou se sente mágoa é impossível auferir e,
provavelmente, até sente tudo ao mesmo tempo, sentimentos contraditórios,
porque quando há muitas perguntas e nenhumas respostas ficamos a tatear no
escuro e no escuro tudo é igual para o observador destreinado.<br />
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Samantha Morton é brilhante. Brilhante. Pega na sua personagem,
que é uma personagem que até nem tem muitos traços característicos à partida,
que prima por passar despercebida em ambientes sociais, introvertida e pouco
faladora, e obriga-nos a prestar atenção a tudo o que faz, a cada gesto ou
tique, porque nunca sabemos quando vai revelar algo que possa denunciar a razão
porque age constantemente de formas tão imprevisíveis e inescrutáveis. Mas,
claro, nunca se vai explicar a ninguém. Não haverão grandes confissões nem
grandes prantos. O que só nos obriga a prestar ainda mais atenção. Que é que
vai na cabeça desta mulher? Porque é que ela vai a uma festa depois de
descobrir o namorado morto? Porque é que abandona a sua melhor amiga sem uma
palavra por causa de uma disputa ridícula na viagem que fazem a Espanha? Porque
é que sorri, só sorri e porque é que um sorriso em tempo de tragédia é centenas
de vezes mais desarmante que uma cascata de lágrimas? Este filme é o
existencialismo em imagens e sons, e, tal como o existencialismo, é imensamente
frustrante e é imensamente cativante. Lynne Ramsay começa a recolher atenções,
e Morvern Callar, no fundo, não é assim tão diferente de <b>Ratcatcher</b>,
outro filme em que seguimos alguém que vê a face da morte e prossegue a sua
vida a um passo desajeitado. Ramsay opta agora por um trabalho de câmara mais
fluído, com menos close-ups e mais distante de Robert Bresson, que sempre me
pareceu ter sido uma referência na rodagem da estreia. Morvern Callar é um
filme belo, profundo - único.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>9/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt0300214/reference" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-1451539485479017372016-05-25T14:21:00.005-07:002016-09-01T02:50:01.885-07:00Vicky Cristina Barcelona (Woody Allen, 2008)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-WDTv3cny02I/V8f5ty6NVrI/AAAAAAAACxw/iQbj-DuXYeELWnd0wn2zvmio094YelFygCLcB/s1600/vicky.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-WDTv3cny02I/V8f5ty6NVrI/AAAAAAAACxw/iQbj-DuXYeELWnd0wn2zvmio094YelFygCLcB/s320/vicky.jpg" width="267" /></a></div>
O grande mérito de Vicky Cristina Barcelona está no
equilíbrio que atinge entre os tons cómicos dos filmes de sempre de Woody Allen
e o fatalismo melancólico que se tem tornado mais evidente nos últimos anos
(ainda que talvez nunca volte a atingir a desolação de um dos seus trabalhos
mais esquecidos, <b>Interiors</b>). A história segue duas amigas americanas que
decidem passar um verão em Barcelona. Ambas gostam de parecer maduras, uma mais
discreta, a outra mais desinibida, contudo a sua real ingenuidade virá a
perturbá-las com decisões que não conseguem racionalizar.<br />
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Cristina (Scarlett Johansson numa interpretação sem carisma)
e Vicky (Rebecca Hall a espalhar subtileza) conhecem Juan Antonio (Javier
Bardem com muita classe) e uma teia de relações amorosas começa a desdobrar-se
à nossa frente. Ainda que a geometria do guião seja admirável, as ansiedades de
Allen não encontram apoio na narração seca e vazia, nem na inabilidade de
Javier Aguirresarobe de filmar diálogos que se estendam por mais de uma página,
vendo-se uma repetição de ângulos mal trabalhados em várias cenas, mesmo que
tente compensar com uma saudável dose de “planos-postal”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Juan Antonio é direto quanto às suas intenções, oferecendo
todos os prazeres que os rendimentos de pintor reconhecido permitem e que os impulsos
masculinos cobiçam. Para Cristina, abre-se um mundo de exotismo latino que não
hesita em explorar; para Vicky, nenhuma aventura se deve sobrepor à segurança
da relação estável que mantém do outro lado do Atlântico, mesmo que a tentação
seja difícil de resistir. Talvez como consequência do sol espanhol, desta vez Allen
demite-se de intelectualizar o sexo e as personagens envolvem-se com languidez
e naturalidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A chegada de Penélope Cruz, ao cabo de uma hora, com a sua
expansividade, vem dar imensa cor a este filme, que, no fundo, não deixa de ter
o seu charme. Como em <b>Match Point</b>, o realizador consegue, aos poucos,
introduzir dilemas morais que trazem ao de cima a presença da casualidade nos
momentos mais determinantes das nossas vidas. Pode-se ter sorte e azar, pode-se
perder oportunidades e desperdiçar tempo. As pontas ficam soltas para Cristina
e Vicky, depois de experiências tão distintas, apesar de a casa de partida ter
coincidido. Resta-lhes fazer as malas e voltar para casa com uma sensação
agridoce.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>7/10<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.imdb.com/title/tt0497465/reference" target="_blank"><b>IMDb</b></a></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9017164984934736832.post-27364492868897439442016-04-17T04:56:00.000-07:002016-04-17T04:56:02.392-07:00Martin Scorsese e as Loiras<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-UkeWw2aRtZU/VxN24B7zMSI/AAAAAAAACtQ/kWX0PPB2-w8hrrUzkiZiB_4mEE772Uu4wCK4B/s1600/Alice%2BDoesn%2527t%2BLive%2BHere%2BAnymore%2B%25281974%2529.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="176" src="https://1.bp.blogspot.com/-UkeWw2aRtZU/VxN24B7zMSI/AAAAAAAACtQ/kWX0PPB2-w8hrrUzkiZiB_4mEE772Uu4wCK4B/s320/Alice%2BDoesn%2527t%2BLive%2BHere%2BAnymore%2B%25281974%2529.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Ellen Burstyn em Alice Doesn't Live Here Anymore (1974)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-rGDeLY5x6Hc/VxN27ENAo1I/AAAAAAAACtY/LQhkZco78koiEohbaQRHz2n4t3g5LlRGwCK4B/s1600/Taxi%2BDriver%2B%25281976%2529%2B2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="180" src="https://2.bp.blogspot.com/-rGDeLY5x6Hc/VxN27ENAo1I/AAAAAAAACtY/LQhkZco78koiEohbaQRHz2n4t3g5LlRGwCK4B/s320/Taxi%2BDriver%2B%25281976%2529%2B2.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Cybill Shepherd em Taxi Driver (1976)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-wjSn3MGclQU/VxN3A-V4E1I/AAAAAAAACtg/sK0GYeZoZ2I-lJNjoW-Md8O1kFrVNMeHACK4B/s1600/Raging%2BBull%2B%25281980%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="176" src="https://1.bp.blogspot.com/-wjSn3MGclQU/VxN3A-V4E1I/AAAAAAAACtg/sK0GYeZoZ2I-lJNjoW-Md8O1kFrVNMeHACK4B/s320/Raging%2BBull%2B%25281980%2529.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Cathy Moriarty em Raging Bull (1980)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-7y8sB2lZswk/VxN3FNXiaUI/AAAAAAAACto/QVpytI-UKgcNdEis5VDPDerlhlxnXmboACK4B/s1600/After%2BHours%2B%25281985%2529%2B2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="193" src="https://4.bp.blogspot.com/-7y8sB2lZswk/VxN3FNXiaUI/AAAAAAAACto/QVpytI-UKgcNdEis5VDPDerlhlxnXmboACK4B/s320/After%2BHours%2B%25281985%2529%2B2.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Catherine O'Hara em After Hours (1985)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-scyenhPlzy0/VxN3IKGNTZI/AAAAAAAACtw/12lmwLqv_YYnZxJmlioVn8xc4jJJzKxwQCK4B/s1600/Life%2BLessons%2B%25281989%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="240" src="https://3.bp.blogspot.com/-scyenhPlzy0/VxN3IKGNTZI/AAAAAAAACtw/12lmwLqv_YYnZxJmlioVn8xc4jJJzKxwQCK4B/s320/Life%2BLessons%2B%25281989%2529.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Rosanna Arquette em Life Lessons (1989)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-yFuCwNchQvc/VxN3LqV4SCI/AAAAAAAACt4/1csz1c3kjHwSvLcVXqmVt3DTogHIysFlACK4B/s1600/Cape%2BFear%2B%25281991%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="180" src="https://4.bp.blogspot.com/-yFuCwNchQvc/VxN3LqV4SCI/AAAAAAAACt4/1csz1c3kjHwSvLcVXqmVt3DTogHIysFlACK4B/s320/Cape%2BFear%2B%25281991%2529.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Jessica Lange em Cape Fear (1991)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-13l1XacpBBQ/VxN3O30rcpI/AAAAAAAACuA/mkscprVnUCcVEwjIAB-HSg5-NXEUe_AUwCK4B/s1600/The%2BAge%2Bof%2BInnocence%2B%25281993%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="136" src="https://4.bp.blogspot.com/-13l1XacpBBQ/VxN3O30rcpI/AAAAAAAACuA/mkscprVnUCcVEwjIAB-HSg5-NXEUe_AUwCK4B/s320/The%2BAge%2Bof%2BInnocence%2B%25281993%2529.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Michelle Pfieffer em The Age Of Innocence (1993)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-WFWw_OyYHK4/VxN3RztL-_I/AAAAAAAACuI/ClM1rLoTI5QOQyxTeVewW8sPiSHHlFdlwCK4B/s1600/Casino%2B%25281995%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="213" src="https://4.bp.blogspot.com/-WFWw_OyYHK4/VxN3RztL-_I/AAAAAAAACuI/ClM1rLoTI5QOQyxTeVewW8sPiSHHlFdlwCK4B/s320/Casino%2B%25281995%2529.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Sharon Stone em Casino (1995)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-s1DJkhSTuGY/VxN3ZxAob5I/AAAAAAAACuQ/xWhioF0RjFgAq3674LpNJSfgZRVTzoKigCK4B/s1600/The%2BAviator%2B%25282004%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="211" src="https://1.bp.blogspot.com/-s1DJkhSTuGY/VxN3ZxAob5I/AAAAAAAACuQ/xWhioF0RjFgAq3674LpNJSfgZRVTzoKigCK4B/s320/The%2BAviator%2B%25282004%2529.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Gewn Stefani em The Aviator (2004)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-ymCsjcTSbZ0/VxN3dM56III/AAAAAAAACuY/hwlaTUD3noMNWaA4yAScSTq8oQ0hdAQgwCK4B/s1600/Shutter%2BIsland%2B%25282010%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="132" src="https://4.bp.blogspot.com/-ymCsjcTSbZ0/VxN3dM56III/AAAAAAAACuY/hwlaTUD3noMNWaA4yAScSTq8oQ0hdAQgwCK4B/s320/Shutter%2BIsland%2B%25282010%2529.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Michelle Williams em Shutter Island (2010)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-rVH9IQdaVyo/VxN3fpovmJI/AAAAAAAACug/uV5dwsbikeAmYc2QOnyr6wW-ra__AtowQCK4B/s1600/Hugo%2B%25282011%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="231" src="https://3.bp.blogspot.com/-rVH9IQdaVyo/VxN3fpovmJI/AAAAAAAACug/uV5dwsbikeAmYc2QOnyr6wW-ra__AtowQCK4B/s320/Hugo%2B%25282011%2529.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Chlöe Grace Moretz em Hugo (2011)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-nkGSL2iqTUM/VxN3iLmUmAI/AAAAAAAACuo/PljzsFsL_RcbcER2_ocGB2NoaXIlPTmuACK4B/s1600/The%2BWolf%2Bof%2BWall%2BStreet%2B%25282013%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="188" src="https://2.bp.blogspot.com/-nkGSL2iqTUM/VxN3iLmUmAI/AAAAAAAACuo/PljzsFsL_RcbcER2_ocGB2NoaXIlPTmuACK4B/s320/The%2BWolf%2Bof%2BWall%2BStreet%2B%25282013%2529.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Margot Robbie em The Wolf Of Wall Street (2013)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
O Narrador Subjectivohttp://www.blogger.com/profile/10331009128091023030noreply@blogger.com0