Não é segredo que os Led Zeppelin pediram emprestadas sem
nunca mais devolver as melodias de vários clássicos do seu catálogo. Logo no
primeiro álbum encontramos Dazed And Confused, que hoje é descrita como sendo
inspirada numa música com o mesmo nome de Jack Holmes, artista com quem Jimmy
Page se cruzara ainda no tempo dos The Yardbirds. Inspirada é um eufemismo.
Provavelmente consciente das parecenças deste filme com American Graffiti, o realizador
Richard Linklater ironiza na escolha do título e segue em frente com a sua
visão de um dia na vida de adolescentes americanos, sem receio do pastiche.
George Lucas preferira o mês de setembro em vez do fim do
ano letivo numa escola secundária, diferença subtil que torna Dazed And
Confused mais relaxado, porque um verão inteiro de liberdade se avizinha e a
entrada na universidade ainda não é iminente. As conversas focam-se menos nas
incertezas quanto ao futuro ou em relações em risco. Pelo contrário, resvalam para
férias, festas, rituais escolares e romances de rápida evolução. Ninguém acaba
a trocar a terra pelo resto do mundo, antes a celebrar atos de rebeldia
imprudente. Estes elementos estão omnipresentes em ambos, só que em quantidades
totalmente inversas.
Os eventos sucedem-se aleatoriamente, não há uma história,
apenas deambulações, próprias da juventude. Todas as gerações têm as suas modas
e se tentam distinguir das anteriores, mas há estereótipos que parecem
perpetuar-se: o bully, o cromo, o atleta, entre outros. O que muda são os
comportamentos e, com os anos 70 em pano de fundo, Dazed And Confused pisa mais
o risco. O álcool e as drogas disseminaram-se como nunca, metade dos diálogos
têm a ver com cerveja ou marijuana. Nas entrelinhas pode-se ler que esta não é
a América em estado de graça no pós-guerra, é a América do Vietname, sem
Kennedy e depois de Woodstock.
Com Aerosmith, Kiss, Alice Cooper ou Foghat na magnífica
banda sonora e Matthew McConaughey, Ben Affleck ou Parker Posey a darem um ar
da sua graça, é a contracultura que ganha o papel principal, consistente com o
perfil de autor alternativo, antiautoritário e autodidata de Linklater. A forma
como alterna o foco entre as várias personagens é mais equilibrada do que em
Slacker, o seu filme anterior, não aparecem e desaparecem, vão e vêm, havendo
várias interligações. Retrata-se com maior proximidade um determinado espaço e
tempo, uma qualidade que foi aperfeiçoando ao longo da carreira.
8/10