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domingo, 3 de abril de 2016

Bride Of Frankenstein (James Whale, 1935)

Para que fique bem claro: Mary Shelley nunca escreveu uma sequela a Frankenstein. Como tal, o curto prólogo deste Bride Of Frankenstein, que consiste num diálogo fictício entre a autora, o marido e o amigo Lord Byron, ambos poetas ingleses de relevo no séc. IXX, tem o sabor amargo de uma justificação mal-amanhada do mítico produtor Carl Laemmle Jr. e da sua direção nos estúdios da Universal para a tentativa de espremer ao máximo a história do médico que gera vida num corpo feito de partes de cadáveres e garantir um novo sucesso de bilheteiras. Nada que seja invulgar nos dias de hoje, na realidade…

A isto segue-se um regresso ao moinho destruído pelo fogo que dita a morte do monstro no final de Frankenstein. Ou assim parecia. Enquanto vamos sendo novamente apresentados a personagens como o presidente da câmara, o pai da menina Maria ou Elizabeth – todas representadas por atores diferentes, daí a necessidade de se gastar tempo a vincar quem é quem – percebemos que Karloff está bem de saúde, tem a franja melhor arranjada e vai continuar a aterrorizar a região. Por outro lado, o amigo e o barão foram esquecidos e a casa de família ganhou, inexplicavelmente, uma governanta insuportável.

Henry Frankenstein (ainda Colin Clive), que viramos a ser atirado do topo do moinho no primeiro filme, é declarado morto e depois vivo em segundos, como se ele próprio renasce-se. Sem quaisquer mazelas físicas, o que é mais impressionante. Ou ilógico, depende da perspectiva. Como já não há doutor Waldman, outro professor da universidade vem bater-lhe à porta, um menos cético e íntegro que o anterior, o doutor Pretorius, que tem conduzido as suas experiências paralelas com a existência humana. A sua base teórica é mais biológica e menos tecnológica, tendo cultivado pessoas em miniatura, que guarda e jarros de vidro.

É uma ideia bizarra, que o argumento não consegue explicar para além de que terá sido desenvolvida uma espécie de semente. Por ironia, o método de Pretorius tem aspeto de ser mais eficaz do que a engenharia eletrotécnica de Frankenstein, o único problema, como o próprio admite, é o tamanho dos espécimes. Por razões que não se compreendem, nada disso volta a ser mencionado e este concorrente tenta convencer o novo barão a prosseguir o seu já conhecido trabalho. Elizabeth vai ter de esperar outra vez, é o que faz melhor, tirando berrar de medo.

O monstro não se limita a vaguear pelas montanhas. Aprende a falar, a beber, a fumar, faz um amigo e acaba por obedecer a Pretorius, ajudando à pressão que se abate sobre Henry para voltar a assumir o papel de criador, desta vez de uma mulher. Fica estabelecido que é possível reverter-lhe o comportamento homicida através da compreensão e quando alguém tolera a sua companhia (simbolicamente, um cego) os notórios laivos de moderação constituem uma variação bem-vinda. No entanto, nunca desenvolve uma consciência moral; dou como exemplo a vontade em ter a noiva que lhe prometem.

Digo isto porque se realmente estivesse a germinar nele um pingo de humanidade, não estaria motivado em fazer alguém passar pelo que tem passado. Mesmo que domado, fica a ideia de que permanecerá animalesco, o que, em certa instância, tornaria irrelevante qualquer tentativa de integração. Quando Tod Browning prosseguiu de Dracula para Freaks, foi no sentido de convidar o público a ver além do exterior e além da estereotipagem. James Whale preferiu reavivar a clivagem entre deuses e monstros, arrastando-se, com uma história menor, por um universo literário que já havia esgotado quatro anos antes.

Nos últimos minutos, para os quais estão reservadas duas reviravoltas que impedem o filme de ser um desperdício (para além da fotografia de John J. Mescall), Karloff irrita-se e destrói tudo e todos que o rodeiem, exceto o casal Frankenstein; Henry deu-lhe vida e agora mantém a sua. Não é misericórdia, é um reconhecimento, um aviso e uma chapada de luva branca desintencional. A noiva, a única alma penada à face da terra com a mesma origem, rejeita-o. O tesão transforma-se em raiva. Impiedosas ironias. Infelizmente, por essa altura já desfilou um sem número de convenções narrativas vetustas que em nada engrandecem o monstro ou acrescentam aos temas.

3/10

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

The Raven (Lew Landers, 1935)

Bela Lugosi ou Boris Karloff, Dracula ou Frankenstein? Qual dos dois actores o mais carismático, qual dos dois filmes o mais mítico? Perguntas difíceis de responder. Fácil mesmo será, para quem aprecia filmes de terror vetustos, ter altas expectativas antes de ver um que os juntou no grande ecrã, como é o caso com The Raven.

Tudo começa com um acidente nocturno de automóvel que deixa uma mulher, Jean, às portas da morte. Num rápido entrecorte de cenas, ficamos a saber que Lugosi é um cirurgião respeitado, que é obcecado com Edgar Allan Poe, que salva Jean no bloco operatório e que é um excelente organista (facto que se revela irrelevante). Claro que isto é só a superfície. A estima pelo autor americano é um pretexto para o Dr. Vollin canalizar o seu temperamento violento, o que o leva a construir máquinas de tortura na sua cave, a sentir fascínio pela dor e pela morte (em especial por símbolos que lhe são associados, como os corvos) e a perseguir uma mulher que não pode ter, precisamente a mulher que curou e que é noiva de um colega.

Karloff interpreta Bateman, um pobre coitado com historial criminoso e procurado pela polícia, que Vollin manipula para atingir o seu fim (que passa por eliminar quem for preciso para ter Jean), sob o pretexto de lhe conseguir mudar a aparência, que peca por não ser muito agradável e por aparecer demasiado nos jornais...

Claro que é conveniente demais que Bateman apareça de um momento para o outro à porta do cirurgião e que a realização nas cenas de maior acção é algo arcaica, senão mesmo amadora, mas há uma aura de mistério e um charme sombrio que só os tons cinéreos, o ritmo lento e as caras inesquecíveis características deste tipo de filmes conseguem atingir, basta ver aqui a cena em que Vollin retira as ligaduras da cara de Bateman para revelar um rosto ainda mais disforme que inicialmente. The Raven não é uma obra-prima, mas quem, ao saber da sua existência, fica com as expectativas altas o suficiente para o procurar, ver e ler até ao fim textos como este sobre ele, não deverá ficar desiludido.

7/10

IMDb