sábado, 31 de março de 2012

POSTERS: The Avengers (Joss Whedon, 2012)

Está quase a chegar o The Avengers, a esperada fita sobre uma congregação de heróis da Marvel destinada a combater inimigos comuns, um conceito muito popular enquanto banda-desenhada. O filme reúne o Capitão América com o Iron Man com o Hulk, mas também Scarlett Johansson com Robert Downey Jr. com Jeremy Renner. Um artista de nome Marko Manev fez esta série de posters minimalistas para celebrar a estreia do filme (marcada para 25/04/2012 em Portugal). Qual deles o melhor?






quarta-feira, 28 de março de 2012

NOTÍCIAS: 5 Noites, 5 Filmes

E parece que é oficial, a RTP2 vai voltar a transmitir o segmento do 5 Noite, 5 Filmes, voltando assim a oferecer cinema de qualidade em verdadeiro esforço de serviço público, todas as noites da semana. A pesar na decisão terá estado a petição iniciada pelo Luís Mendonça (do blog CINEdrio) pelo regresso da exibição regular de cinema na RTP2, assinada por mais de 3000 pessoas, entre as quais a actriz Beatriz Batarda. Um bem-haja para o Luís e fico à espera de voltar a ver bons filmes no pequeno ecrã.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Essential Killing (Jerzy Skolimowski, 2010)


Skolimowski é um dos maiores paradoxos do cinema mundial. Nascido na Polónia pouco antes da invasão nazi do país, haveria de ficar com cenários de destruição e situações de guerra como maiores recordações de infância. Apesar disso, ao longo da sua carreira parece ter-se sempre afastado propositadamente de assuntos históricos e concentrado em pequenas histórias de alienados e forasteiros. Longe do cinema durante 17 anos, concentrou-se na pintura, como que nunca conseguindo suprimir os seus impulsos artísticos, até voltar em 2008 ao grande ecrã com Four Night With Anna, um filme delicadíssimo e transgressivo, a que se seguiu este Essential Killing.

Um terrorista sem nome, numa terra irreconhecível, mata 3 americanos à bazucada num desfiladeiro. É perseguido por um helicóptero, donde jorra um míssil e soldados suficientes para o capturar. Metodicamente e com frieza, o filme mostra o que acontece à personagem interpretada de forma intensa por Vincent Gallo, um ator de olhos grandes e gentis, que se entrega de corpo e alma a representar um árabe que combate com a promessa de um lugar no céu na cabeça e que reage ao medo com violência, como um animal assustado e não como um crente extremista. É acima de tudo esta constatação que nos leva a interessar pelo seu destino, apesar da ideia formatada que talvez tenhamos da sua vileza.

O filme começa logo por triunfar ao virar as cartas do avesso e pôr o espectador do outro lado. Não que seja claro quais os propósitos ou ideais do homem, se é um taliban, se é um civil, se é um ocidental tipo John Walker Lindh, mas é claro que segue o Corão e que se opõe à presença militar estrangeira no seu país, seja ele qual for. Ao oferecer uma perspectiva diferente da que nos é mais afeta, mas despindo-a de posições políticas, Skolimowski realça a contemporaneidade do filme e a ambiguidade de qualquer conflito armado, pede para nos focarmos apenas na sua lógica circular de ação/reação e no processo pessoal de sobrevivência de quem fica envolvido.

Enviado para um black site algures na Europa, é vestido com um uniforme laranja e torturado. Constantemente em trânsito, a carrinha que o transporta uma noite, através duma região inóspita, sofre um acidente, cai numa ribanceira e ele consegue fugir. Na neve, pelo meio duma floresta enorme, longe do deserto por onde se movia no início, a personagem principal é obrigada a focar-se no essencial e a dar resposta às necessidades mais básicas. Um estranho numa terra estranha... Talvez como se sentem os soldados americanos destacados para o Iraque e Afeganistão? Afinal, porque razões e com que convicções vai alguém parar às fileiras de uma guerra? Nem sempre é preto no branco.

É de notar a natureza abstrata do filme e que facilmente responde ao questionável abandono do local do despiste pelos seus captores antes de se iniciar uma caça ao homem, à elevada densidade populacional de Border Collies com treino de procura e salvamento ou às constantes visões do terrorista. Não é difícil antever uma divisão dos espectadores a partir deste ponto: a fuga e sobrevivência de Vincent Gallo são, na realidade, deixadas em aberto, e o que resta é uma sensação de desconforto, que se estende até ao final. Sem sensacionalismos, o realizador opta por uma abordagem de tese: quinze minutos de enredo, uma hora de discussão, em que cada um pode ajuizar a justiça que se impõe.

Essential Killing é um ensaio impressionista filmado com uma audácia desconcertante. Atos bizarros sucedem-se no silêncio do inverno e são capturados através da câmara atenta e móvel de Skolimowski, sem descuidar a envolvente e o enquadramento, que são sempre perfeitos e que fazem de cada frame um verdadeiro quadro vivo com som (e que bela montagem). Este é provavelmente o mais enigmático e menos polarizante anti-herói da filmografia do polaco, mas que nos lembra, com a mesma força que o estudante inconformista que acaba por entrar nas forças armadas em Rysopis, como podemos ser, em simultâneo, relutantes e complacentes com algo de que duvidamos...

9/10

segunda-feira, 19 de março de 2012

CURTAS: Rejected (Don Hertzfeldt, 2000)

A popularidade de Hertzfeldt não tem precedentes e as suas curtas de animação negras e dementes já ganharam centenas de prémios e milhões de fãs por todo o mundo, com alguma ajuda da internet. Preparem os neurónios e vejam então, no youtube, o seu filme mais conhecido, Rejected, nomeado para Melhor Curta de Animação em 2000 (que devia ter ganho).

sexta-feira, 16 de março de 2012

The Help (Tate Taylor, 2011)


Não sei bem donde é que veio este Tate Taylor, mas pode estar orgulhoso por ter passado de total desconhecido para realizador de um dos filmes mais falados do ano: The Help. O racismo é um assunto delicado, especialmente numa nação que entrou em guerra civil por causa da convicção dum presidente em acabar com a escravatura, caso dos Estados Unidos da América. A terra da liberdade e das oportunidades tem uma história longa de confrontos raciais e nos anos 60 ainda se andava a discutir direitos civis, tendo surgido um movimento pacífico afro-americano que imporia o fim da discriminação.

É neste contexto que a jovem idealista Skeeter Phelan (Emma Stone), motivada pelo seu desejo de ser uma jornalista de renome em Nova Iorque, decide escrever sobre as serviçais negras, que faziam todo o tipo de trabalho doméstico nas casas de brancos abastados, mas encontrar quem queira ser entrevistada para contar a verdade sobre a vida enquanto cidadãs de segunda classe a sustentar, com muito trabalho duro e remuneração abaixo do salário mínimo nacional, o mundo dos ricos é tarefa quase impossível, ainda para mais no estado do Mississippi, onde o ódio racial era enorme, como ouvimos a certa altura.

O filme é algo manso a abordar o quadro maior, praticamente sonegando a brutalidade de grupos supremacistas do sul como o Ku Klux Klan e a luta de figuras como Malcolm X ou Martin Luther King, optando por um retrato mais íntimo e quotidiano da convivência entre raças. O seu valor está nos pormenores: famílias que constroem casas-de-banho no quintal porque o valor das casas aumenta se as empregadas negras não usarem as interiores, táxis com a inscrição "white only", mulheres brancas que esperam ter sempre prioridade com os carrinhos nos corredores dos supermercados, entre outros.

Apesar disso, Skeeter e o argumento reconhecem a importância real destas pessoas. O aumento da violência leva Aibileen e Minny a aceitar fazer confissões sob anonimato, e o que elas têm para contar revela as contradições duma sociedade cheia de dogmas e equívocos, onde mulheres superficiais, sem emprego e incompetentes para a vida têm filhos como se não houvesse amanhã, mas não participam na sua educação, não lhes dão atenção nem carinho, relegando essas funções para as serviçais negras, que acabam por ser as referências das crianças que, mais tarde, se tornam nos seus novos opressores.

Hilly Holbrook é uma dessas mães, que não olha a meios para garantir a hegemonia branca na cidade de Jackson. Muito se tem falado no elenco feminino deste filme, sem dúvida um dos pontos fortes de The Help, com grandes interpretações de Viola Davis ou Jessica Chastain, mas Bryce Dallas Howard como Hilly merece destaque: retrograda, mentirosa, quase sádica na forma como lida com aquelas que cuidam realmente da sua casa e família, e, por fim, vítima de um simples mas inesquecível golpe de justa vingança por parte de Minny (Octavia Spencer, a segunda melhor interpretação), que não me atrevo a descrever.

As personagens são tridimensionais e numerosas, o que torna o filme num mosaico abrangente e capaz de agradáveis momentos cómicos e desconfortáveis momentos dramáticos. Um argumento bem escrito, que pede apenas uma questão, se, para um filme de 2 horas e meia, não haveria tempo para mostrar mais sobre as repercussões do ato desafiador destas mulheres e da comunidade afro-americana em geral, algo que bem podia substituir o insosso namoro de Skeeter. Mérito por, mesmo assim, escavar fundo nesta questão e neste período, quando, 50 anos depois, os EUA têm um presidente negro.

7/10

quarta-feira, 14 de março de 2012

TOP5: Alien

05. Alien 3 (David Fincher, 1992)
Apesar do seu ambiente claustrofóbico, é o filme mais aborrecido da saga, com pouco enredo e uma ideia algo rebuscada. Ripley não parece a mesma nas suas reacções.

04. Alien Resurrection (Jean-Pierre Jeunet, 1997)
O criativo Jeunet é chamado para a realização dum filme da Saga e não desilude em termos visuais, um filme irrepreensível nesse aspecto.

03. Alien Vs. Predator (Paul W.S. Anderson, 2004)
Este filme recebeu muito criticismo quando saiu, mas considero-o uma fusão muito boa de duas criaturas conhecidas, as explicações dadas pelo argumento são convincentes e há muito suspense no meio da neve. Um filme diferente desta saga.

02. Aliens (James Cameron, 1986)
Menos intenso que o original, com mais acção e efeitos especiais mais elaborados, nota-se o toque de Cameron ao tornar o andróide deste filme um dos heróis, um subtil enaltecimento do seu eterno optimismo relativamente à tecnologia.

01. Alien (Ridley Scott, 1979)
Um dos filmes mais intensos e claustrofóbicos alguma vez feitos, capaz de fazer qualquer um guinchar na cadeira. Quando o alien se aloja e sai disparado da barriga dum dos tripulantes da nave, é a definição de terror. Sigourney Weaver como Ripley é fantástica.

segunda-feira, 12 de março de 2012

TRAILERS: Le Gamin Au Vélo (Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne, 2011)

Os irmãos Dardenne já ganharam duas Palmas de Ouro, em 1999 com Rosetta e em 2005 com L'Enfant. Regressam agora com um novo filme. Yup, quero ver isto.

quarta-feira, 7 de março de 2012

The Artist (Michel Hazanavicius, 2011)


Quando The Artist apareceu em Maio do ano passado no festival de Cannes, dificilmente alguém anteveria o sucesso que veio a ter no seio da crítica cinematográfica internacional e, em especial, numa certa e determinada cerimónia de prémios americana. Robert De Niro, na altura presidente do júri que atribuiu a Palma de Ouro a The Tree Of Life, chegou a dizer posteriormente que gostaria de ter recompensado melhor o filme mudo e a preto-e-branco de Michel Hazanavicius, conhecido (ou nem por isso), por 2 spoofs de 007. Um estilo que, outrora, seria a norma, é agora considerado arrojado e chique. Talvez nunca o tenha deixado de ser e talvez parte do sucesso do filme venha logo daí: a forma como recicla o passado para o recordar e testar a sua durabilidade.

 Sim, está aqui toda a parafernália do século passado e do anterior ainda, os intertítulos, a música incessante, a proporção quase quadrada 4:3, homens com largos queixos e finos bigodes, mulheres com sinais pintados e mais, muito mais, o que poderia fazer de The Artist apenas uma sessão desenxabida de plágio e mímica, mas que, graças ao evidente amor pelo cinema de quem o escreveu e concebeu, o tornam tão charmoso como os filmes do antigamente com Douglas Fairbanks ou Rudolph Valentino, só que com uma nova dimensão de ludismo que uma sincera homenagem consegue trazer. Porque, mais do que isso, é uma ótima história de romance que tinha de ser contada desta forma.

O drama vem de expressões faciais, linguagem corporal e grandes contrastes de luz, e é tudo o que é preciso para contar a vida de George Valentin, estrela ficcional da Hollywoodland (como era referida, esperem para ver como era o mítico sinal na colina) dos anos 20, representado pelo ator fetiche de Hazanavicius, Jean Dujardin, uma encarnação perfeita do tipo de leading man da época. Fascinado por Peppy Miller (Bérénice Bejo), com quem parece destinado a encontrar-se casualmente, ajuda-a a entrar na indústria e destacar-se da concorrência. Com a chegada do som, os 2 iniciam carreiras antagónicas: ele vai perdendo protagonismo, fatal num homem boémio e que adora atenção, e ela vai subindo.

A química entre eles é óbvia, mas é minada pelas mudanças. Esse é o tema principal do filme, mudança, algo a que os EUA são sensíveis, basta lembrar os posters da campanha presidencial de Obama em 2008. O pior é quando o progresso parece ameaçar o que havia até ai, e nesse sentido Valentin está verdadeiramente ameaçado. Começam a ser-lhe oferecidos menos papéis, a esposa pede o divórcio (um casamento que não convence e é o elo mais fraco do guião), o dinheiro escasseia e o investimento num projeto condenado, que o próprio realiza, não ajuda. Em pouco tempo passa a caminhar as ruas da amargura e a afogar-se no álcool. Dujardin imprime dignidade a um homem demasiado orgulhoso e a duvidar de si.

Falar de Hugo, o outro filme famoso de 2011, é inevitável. Os dois vão, de formas muito distintas, dar ao mesmo - um através de um conto infantil e com o maior estardalhaço que as novas tecnologias permitem, o outro através de uma história de amor e infortúnio com aspeto vetusto. Hazanavicius revelou já, por várias vezes, ter sido inspirado por Wilder, Lubitsch e Hitchcock, chegando mesmo a roubar a música de Vertigo, mas é a influência do primeiro que mais se nota, especialmente quando Valentin inicia a sua curva descendente, desde cenas de bebedeira semelhantes a ver The Lost Weekend com o volume no mínimo, aos paralelismos com a atriz sem voz no ecrã Norma Desmond, de Sunset Blvd.

Mesmo sendo mudo, The Artist consegue subverter esse cinema, pois é mudo por escolha e brinca com o público por isso. Veja-se a cena do pesadelo de Valentin, em que ele não consegue ouvir a sua própria voz, um paradoxo fabuloso para o espectador, que também não ouve a voz dele, mas que é forçado a sentir o nervosismo da personagem principal, ao mesmo tempo que o score pára pela única vez no filme para ser possível ouvir tudo o mais, desde objetos a cair, a veículos à distância. A maior piada acaba por ser o destaque dado ao cão de Valentin, um ator que não fala nem que queira. E por fim, antes do cair do pano, um sinal de otimismo em relação ao futuro (you'll know it when you see it)...

The Artist é apenas o segundo filme mudo a ganhar o Óscar de Melhor Filme, depois de Wings, na primeira cerimónia. Divirto-me a pensar se teria tanto sucesso se tivesse sido feito nos anos 30. Talvez, pelo menos Hazanavicius deve pensar que sim, afinal fala-nos sobre a intemporalidade do verdadeiro talento, mesmo que a sua popularidade não esteja no topo. Claro que não sairia da mesma forma e algumas referências seriam anacrónicas, mas o poder da história é inegável, pelo fascínio do cinema, pelas interpretações comunicativas, pela gratidão de Peppy, pela humildade que a vida impõe a Valentin e a nós. Os sorrisos no fim são merecidos. From France, with love.

8/10

sábado, 3 de março de 2012

Tertúlia de Cinema - Março 2012

Este mês vou estar por detrás da Tertúlia de Cinema para falar sobre cinema polaco, mais concretamente sobre as primeiras obras de realizadores que surgiram nos anos 60/70. Confiram aqui.

Drive (Nicolas Winding Refn, 2011)

A música dos créditos inicias de Drive dá um ar retro ao filme - a estética adequada para este conto neo-noir, com carros, sangue e L.A. à mistura.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Hugo (Martin Scorsese, 2011)


Martin Scorsese faz um filme para toda a família. Ninguém diria, mas é verdade. Segundo o que se diz, o que aconteceu foi o seguinte: a filha mais nova do lendário realizador americano leu um livro recente de ficção histórica chamado The Invention Of Hugo Cabret e terá gostado tanto que insistiu com o pai para fazer dali um filme que ela pudesse ver, para variar, e este acabou por ceder. Pedidos de gente próxima de si geraram já dois dos seus mais conhecidos trabalhos, depois da vontade de Robert De Niro em interpretar Jake LaMotta ter levado a Raging Bull e depois da vontade de Leonardo DiCaprio em interpretar Howard Hughes ter levado a The Aviator. Mas desta vez temos aqui algo realmente diferente.

A personagem do título é um órfão parisiense que vive nas paredes da estação de comboios de Montparnasse, no início do século XX. O seu pai era um relojeiro que morreu num incêndio e lhe deixou um bizarro autómato, que deverá conseguir escrever se for arranjado e acionado através duma chave em forma de coração. O tempo é, aliás, um tema recorrente nesta celebração dum passado não muito distante, em especial desde que Ben Kingsley entra em cena como o realizador Georges Méliès, o avô ancião de Isabelle (Chloë Grace Moretz), a rapariga que forma uma amizade com Hugo e, sedenta por uma aventura, o ajuda a desvendar o mistério do boneco herdado e a reinseri-lo no mundo.

Sim, Martin Scorsese é um notório cinéfilo e um entusiástico historiador da sétima arte, sempre fazendo longos discursos sobre as suas influências em entrevistas e replicando planos ou cenas de obras-primas em momentos-chave das suas próprias obras-primas, como a mítica imagem de Joe Pesci a enfiar umas balas na câmara no fim de Goodfellas, tal como um bandido em The Great Train Robbery (Edwin S. Porter, 1903), mas não creio que alguma vez tenha feito uma homenagem ao cinema de forma tão pronunciada como aqui, a não ser talvez nos seus documentários My Voyage To Italy e A Personal Journey Through American Movies, em que parece uma verdadeira criança a falar daquilo que mais gosta.

Esqueçam por um momento a classificação etária de Hugo e concentrem-se no que claramente interessa: o amor a este ofício. Imaginem a admiração, a revelação que deve ter sido assistir à primeira sessão pública de sempre, no Grand Café em 1895, com os irmãos Lumière a exibir a sua nova invenção. Imaginem o impacto que isso deve ter tido num homem empreendedor e sonhador como Méliès. Não imaginem só, olhem para o ecrã e testemunhem. O que Scorsese captura é magia a acontecer em frente dos nossos olhos, é o que ele, é o que eu, é o que qualquer amante do cinema deve ter sentido ao entrar pela primeira vez numa sala de projeção, um fascínio inexplicável e perene pelo meio.

Do primeiro ao último frame, Hugo é uma viagem acelerada num microambiente real moldado digitalmente de forma a quase parecer um parque de diversões, numa verdadeira overdose de efeitos especiais e planos-sequência virtuosos, com personagens caricaturescas e tropelias inofensivas. Essa visão infantil é importante numa França a recuperar da Primeira Guerra Mundial e os filmes de Méliès representam, de certa forma, a ingenuidade de outras épocas, que se deve relembrar e retomar sempre que possível. Vê-los, ainda que parcialmente, no grande ecrã, e ver a reconstituição da sua conceção, na estufa-estúdio do realizador, é por si só razão suficiente para ficar com um sorriso na cara.

O gosto de Scorsese pelo que estava a fazer devia ser tal que voltou a ter um cameo, como fotógrafo, algo que não acontecia desde Gangs Of New York, outro projeto querido do nova-iorquino. A França seguia em frente, o jovem Hugo consegue seguir em frente, o cinema segue em frente, das experiências mudas ao controverso 3-D, cujo uso teima em ser cada vez mais generalizado, mas que, mais uma vez, se revela uma forma de distorcer a imagem e obrigar o espectador a gastar dinheiro em óculos de plástico, e não um mecanismo de amplificar a experiência de ver um filme. Enfim, não quero ser velho do Restelo, que este filme é sobre juventude. A segunda juventude de Martin Scorsese.

9/10