sábado, 30 de junho de 2012

EVENTOS: FEST 2012 - Antevisão

O Festival Internacional de Cinema Jovem, FEST, começa amanhã em Espinho e prolonga-se até dia 8 de Julho. Em competição estão várias longas-metragens, incluindo o filme islandês Volcano (dia 3/7), por exemplo, que chegou a ser apresentado em Cannes, e 90 curtas.

No mesmo espaço, serão realizadas workshops das mais variadas áreas do cinema, desde a música à montagem, e incluirão a participação de grandes nomes a nível mundial, como o realizador espanhol nomeado para 1 Óscar, Fernando Trueba (dia 7/7), ou o director de fotografia americano nomeado para 1 Óscar, Tom Stern (dia 6/7).

O evento realiza-se no Centro Multimeios de Espinho, perto da estação de comboios, e a entrada diária normal custa 2.50€, havendo um desconto de 1€ para estudantes e cidadãos com mais de 65 anos.

O FEST destaca-se pela variedade de filmes e actividades, sendo um verdadeiro laboratório de ideias e uma montra de novos projectos e talentos do cinema nacional e estrangeiro. Quem passar por lá é certo que dará de caras comigo em alguns dias :)

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Child's Play (Tom Holland, 1988)


Chucky é hoje uma das figuras mais memoráveis de sempre do cinema fantástico. A ideia de um boneco que ganha vida e assassina quem o rodeia, acoplada com o aspeto bizarro imaginado para Chucky, fazem deste simultaneamente ridículo e assustador, uma receita certa para o sucesso. O que possibilita que este filme seja mais intenso e adulto do que o conceito pode fazer crer inicialmente é a habilidade do argumento em criar uma relação familiar credível entre a mãe e a criança que acolhem o boneco. A sua relação de confiança é posta em causa por um objeto e extrapola-se ao ponto de parecer aceitável, dados os factos, duvidar de Andy, que é enviado para uma instalação psiquiátrica quando as ações ocultas de Chucky originam casos de polícia. Karen não sabe que mais fazer, primeiro perdeu a melhor amiga em condições inexplicáveis, tendo o seu filho sido a única testemunha humana, agora o Estado tira-lhe Andy, que não se cansa de falar de uma impossibilidade. Vira-se então para o boneco e exige, não uma razão para acreditar num assassino de plástico e movido a pilhas mas uma confirmação, o que constitui uma prova do seu amor de mãe incondicional. Só nesta altura, 40 minutos dentro, é que Karen e o espectador vêm o óbvio mas ainda assim inacreditável acontecer e a face de um brinquedo inofensivo transforma-se na face do terror.

O resto de Child's Play é uma enérgica corrida contra a astúcia de Chucky, que foge do apartamento da família Barclay, e que tem uma personalidade e objetivos bem definidos. Ele é habitado pelo espírito de Charles Lee Ray (Brad Dourif, que também faz um trabalho ímpar com a voz do boneco), um estrangulador que é encurralado, na primeira cena, numa loja de brinquedos pelo polícia Mike Norris e cujos conhecimentos de magia negra lhe permitem transferir-se para outro corpo, neste caso, um inanimado. Mike julga tê-lo capturado sem vida, mas a realidade é bem diferente e muito pouco verosímil, pelo que, quando fica encarregue de investigar as circunstâncias que ligam Andy a mais de um crime, é natural a sua septicidade quanto às declarações do miúdo. Eventualmente sofre na pele a fúria de Chucky, que também o procura por vingança, e liga os dois casos.

Prefiro a subtileza da primeira parte ao estrépito da segunda, mas a progressão do filme é natural e continuamente recompensadora, graças à segurança e diligência da mise-en-scène de Tom Holland, que consegue sempre manter o negrume que este tipo de filmes exige e não o deixa cair no terreno da paródia, como viria a acontecer com as sequelas que inevitavelmente se seguiriam. Não é um prodígio da técnica, mas percebe a ressonância que tinham e têm certos elementos clássicos do cinema dos anos 80 que fazem aparições em Child's Play, como as esquálidas e ameaçadoras metrópoles americanas, com os seus pardacentos arranha-céus e ruas mal iluminadas de noite, os desafios das famílias monoparentais, tão presentes na filmografia de Steven Spielberg, por exemplo, e a necessidade de um maior realismo na abordagem dos métodos policiais e da violência, mesmo no mais estranho dos filmes de terror. É de notar a qualidade dos efeitos especiais, que dificilmente virão algum dia a parecer ultrapassados, o que contribui grandemente para a manutenção da credibilidade de Chucky, o seu aspeto, as suas expressões, o seu movimento, enquanto figura a temer, o que, mais de 20 anos depois, é um feito. Child's Play é o início de um franchise que não foi bem tratado e que caiu na vulgaridade auto-depreciativa, exatamente o que este original de 1988 consegue evitar.

8/10

terça-feira, 26 de junho de 2012

LISTAS: Krzysztof Kieslowski

Os 11 filmes preferidos do visionário realizador polaco Kieslowski, uma lista feita em 1992, não muito tempo antes de perder a Palma de Ouro para o Pulp Fiction e de morrer em 1996 de complicações causadas pela SIDA. É de notar a homenagem a um dos seus mestres e "padrinhos" no meio, Karabasz.


  • Citizen Kane (Orson Welles, 1941)
  • The Kid (Charlie Chaplin, 1921)
  • Kes (Ken Loach, 1969)
  • La Strada (Federico Fellini, 1954)
  • The Loneliness Of The Long Distance Runner (Tony Richardson, 1962)
  • A Man Escaped (Robert Bresson, 1956)
  • Intimate Lighting (Ivan Passer, 1965)
  • The Musicians (Kazimierz Karabasz, 1960)
  • Ivan's Childhood (Andrei Tarkovsky, 1962)
  • Les 400 Coups (François Truffaut, 1959)
  • The Baby Carriage (Bo Widerberg, 1963)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

CURTAS: Regen (Joris Ivens, Mannus Franken, 1929)

Ivens era criticado por se focar apenas na técnica cinematográfica - não vejo problema nisso quando produz resultados como Regen, um poema urbano, que nos obriga a ver, não só olhar, para as cidades, os seus espaços, as suas pessoas, tudo o que a anima e complementa. O cinema evoluiu mas a beleza destas imagens é imortal.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Zorba The Greek (Mihalis Kakogiannis, 1964)


Se houvesse uma escala que medisse o alcance de um ator, Anthony Quinn certamente que chegaria à classificação mais elevada. Desde um árabe revolucionário (Lawrence Of Arabia), a um italiano barulhento (La Strada), a um mexicano manhoso (The Ox-Bow Incident), teve uma carreira muito diversificada, com interpretações sempre pautadas por elevadas doses de volatilidade, paixão e credibilidade. Em Zorba The Greek, para muitos o ponto alto da sua carreira, foi o grego jovial do título.

Quem é Zorba, exatamente? Não se percebe, mas é um homem com muito à vontade e sem papas na língua, o que leva Basil, um escritor inglês com ascendência grega prestes a ir para Creta retomar um antigo negócio de família, a exploração mineira de lignite, a confiar nele para o auxiliar na sua nova aventura, e cujas sonoras gargalhadas e lições de vida fazem dele um compêndio ambulante de sabedoria popular. Aparece de repente e incomodamente, mas é a companhia que Basil quer.

Zorba tem espírito de iniciativa e, com a sua adaptabilidade e conhecimento da cultura e línguas locais, arranja trabalhadores para todos os projetos do seu patrão, que educa e influencia. Transmite-lhe conceitos práticos sobre como administrar subordinados e como se inserir num meio que lhe é estranho, enquanto o direciona para as suas próprias ideias, por vezes aproveitando-se da clemência e ingenuidade do inglês (Alan Bates, novinho e simpático), o que mina a sua honestidade.

É inegável que há entendimento entre ambos, mas a tragédia está ao virar da esquina e o filme é menos cómico e agradável do que as primeiras impressões fazem crer, especialmente depois de cada um deles atrair um interesse amoroso, o mais velho juntando-se com a dona da pensão local, uma mulher tão despreocupada quanto ele, que já teve tantos maridos quanto o número de cabelos do taberneiro, e o mais novo com a viúva mais selvagem das redondezas.

Todos eles têm um destino malogrado pela frente e Zorba é claramente o único capaz de suportar as desilusões da vida. Porquê? Porque não se importa. É aqui que a porca torce o rabo e o filme me perde, parecendo celebrar Zorba e os modos mediterrânicos, que incluem boa música, a omnipotência da religião e vontade de apreciar o que a natureza oferece, mas também, pelos vistos, falta de lealdade nas relações interpessoais, violência motivada por reacionarismo e delírios irresponsáveis.

Basil desbrava um mundo novo, com os seus defeitos, mas impossível de condenar, ou um paraíso estrangeiro que esconde um inferno que foge à racionalidade empertigada anglo-saxónica? Se o propósito é o primeiro, a crueldade e a irresponsabilidade da população local é destacada com demasiada veemência e assusta até um latino como eu; se é o segundo, fazer um homem são passar de espectador a participante conformado, pronto a abraçar esta cultura, é incongruente.

Há que reconhecer que Zorba é cativante e vê-lo dançar ao ritmo da mítica banda-sonora de Mikis Theodorakis tem o seu charme, mas o homem é um inútil. Deve ter passado por muito e dá bons insights sobre o povo, mas também gasta o dinheiro do seu empregador em prostitutas e num plano megalómano de fornecimento de madeira para a reconstrução da mina que dá para o torto. Qual é a sua solução? Dançar outra vez e seguir em frente.

Basil imita-o, numa evolução de carácter que é, então, inconsistente, especialmente depois de presenciar a implacabilidade dos gregos quanto à viúva com quem chega a ter contacto físico (não queria, mas a tentação é muita). Esta é talvez a narrativa que cria mais confusão e melhor mostra quão mal envelheceu o filme. A mulher é ostracizada, sabe-se lá porquê, é perseguida depois de um rapaz obcecado com ela se suicidar e é morta na praça pública por vingança, com o aval de toda a vilória.

A visceralidade da cena ainda hoje é eficaz, é verdade, mas mostra uma realidade primitiva, sexista e provavelmente criada para efeito dramático, já que, por muito limitados que fossem os afazeres, direitos e liberdades das mulheres na altura, custa-me a acreditar que no tempo dos meus avozinhos se degolassem viúvas desta maneira. Ainda mais mirabolante é a impunidade de Basil, um turista que se mete onde não é chamado, e a sua inércia perante tal cena.

Corrompeu o seu código moral e viu-se confrontado com a sua cobardia e fraqueza. Não há nada a celebrar e o verdadeiro sofrimento, o da alma, começa. Pelo menos é o que gostaria de deduzir no final, mas Zorba faz um derradeiro manguito e dança outra vez no areal - o mundo é uma comédia e o riso a melhor resposta. Depende e, dadas as circunstâncias, discordo. Há um tempo para tudo. Entrar em falência com o sangue de inocentes nas mãos não é um deles.

4/10

quinta-feira, 14 de junho de 2012

TRAILERS: Django Unchained (Quentin Tarantino, 2012)

Sim, apesar de ainda faltar (segundo o IMDb) mais de meio ano para o filme sair em Portugal, já há trailer e deixa água na boca! Há muito que Tarantino ameaçava fazer um western, e cá está ele, com Jamie Foxx, Christoph Waltz e Leonardo DiCaprio nos principais papéis. Let's look at the trailer!

terça-feira, 12 de junho de 2012

FEST 2012

Está prestes a ter lugar mais uma edição do FEST (Festival Internacional de Cinema Jovem). De 1 a 8 de Julho, este evento que é parte festival de cinema, parte workshop de cinema, decorrerá em Espinho. A multifuncionalidade separa-o dos restantes, e o contacto com profissionais das mais diversas vertentes técnicas é garantido. Confirmadas estão já, entre outras, a presença do realizador João Pedro Rodrigues (Odete, Morrer Como Um Homem) e do director de fotografia Tom Stern (Mystic River, Gran Torino) enquanto formadores. Uma óptima oportunidade para ter um contacto mais directo com a realidade do cinema (é de realçar o preço low-cost).

Site do festival

sábado, 9 de junho de 2012

Dark Shadows (Tim Burton, 2012)


Dark Shadows abre com um prólogo que explica o background de Barnabas Collins. Nascido numa família abastada de Liverpool no séc. XVIII, emigra ainda criança com os pais para o estado americano do Maine, onde estabelecem a vila piscatória de Collinsport e prosperam economicamente, ao ponto de erigirem no topo de uma colina sobranceira uma mansão que faria inveja à casa assombrada de qualquer filme de terror, tal a sua imponência e aparência ameaçadora. É uma época fértil para histórias com contornos góticos, em que a moda é elaborada, as regras de etiqueta são rígidas e as intrigas aristocráticas abundam. Johnny Depp interpreta a fase adulta de Barnabas, cujo charme natural, aliado a fatos rendados e piropos arcaicos, fazem dele um playboy que atrai Angelique Bouchard, uma empregada intimidante e impertinente com grandes atributos, e Josette DuPres, uma angelical descendente de realeza francesa. Enamorado pela segunda, afasta-se da primeira, sem saber que esta é uma bruxa que, na sua obsessão por ele, mata a concorrência na esperança de ter o amor de Barnabas. Não o consegue e enterra-o como um vampiro em jeito de vingança.

É um início brilhante, que sobreviveria muito bem independentemente do resto do filme como uma curta de grande orçamento e com o inconfundível sentido estético de Tim Burton. Fast forward para 1972 com as expectativas altas, em que Bella Heathcote já não é Josette mas sim Victoria Winters, Collinsport é agora dominada por uma empresa chamada Angel Bay e os Collins se resumem a um clã de 7 pessoas fechadas nas ruínas do que já foi um casarão com mais de 100 empregados. Elizabeth (Michelle Pfeiffer) é a matriarca de serviço, que tenta, sem sucesso, manter o irmão, o sobrinho e a filha longe de peneiras que não podem financiar e as revoluções sociais (musicais, sexuais e eteceteras) que possam envergonhar a memória dos antepassados. Enquanto realizador que nunca se inibiu de omitir ou subverter simbologia religiosa quando a oportunidade aparece (relembro Sleepy Hollow, em que até crucifixos servem para andar à porrada), Burton explora em Dark Shadows, com maior evidência e claridade do que nunca, aquele que é um dos seus temas sagrados, mas que fica frequentemente disfarçado debaixo das habituais doses elevadas de caracterização e delírios fantasiosos: a família.

Barnabas tem muito tempo para refletir no que o pai lhe dizia sobre a família ser a única verdadeira riqueza. Demasiado até, sendo libertado, graças à construção de um McDonalds depois de 200 anos num caixão, com imensa sede (e não é de água) e nenhuma noção das evoluções que o mundo sofreu entretanto (assim que vê o logotipo vermelho e amarelo da tal cadeia de restaurantes, tão parecido com outro que vira num livro antigo de bruxaria, toma-o por um sinal mágico do diabo, vulgo Mefistófeles). Depois do melodrama dos primeiros minutos, o filme entra num ritmo de sitcom que talvez se assemelhe mais à novela em que é baseado, ainda que com mais sofisticada e maior quantidade de comédia, que frequentemente advém da ignorância de Barnabas sobre os tempos atuais e do choque entre a sua forma antiquada de falar ou vestir com o que é contemporaneamente aceite. O argumento nem sempre é eficaz a confrontar o vampiro com os outros Collins (Roger, por exemplo, torna-se bastante irrelevante) ou a criar uma relação entre ele e Victoria, por quem imediatamente se apaixona, dadas as semelhanças com Josette, e que foi parar à mansão para ser governanta de David, o filho de Roger.

Não anda muito longe de uma nova versão filmada de The Addams Family, com criaturas estranhas que se vão relevando ao longo do tempo e contrastes de cor que Burton organiza na perfeição, mas com uma dose inesperada de erotismo, em que até a adolescente Chlöe Grace Moretz é algo sexualizada. É um facto que a pureza de Victoria acaba por sair vencedora, porque Burton não esquece a receita de sucesso dos contos de fadas em que trabalhou na Disney, por muito kitsch e macabros que os seus filmes possam ficar, mas o sexo está bem presente e é levado ao extremo quando Angelique seduz Barnabas pela última vez (mais explicitamente, é levado para a secretária, para o sofá, para as paredes, para o teto, até o escritório da bruxa, que, também imortal, nunca esqueceu o seu objeto de obsessão e se tornou na dona da vila, estar em fanicos). Afinal, os vampiros são conhecidos por terem hábitos perversos e quando Eva Green entra em cena o filme ganha irreverência. Johnny Depp é irrepreensível nesta personagem, cheio de expressões e gestos que são só seus, como o grande ator/autor que é. Tal como as suas criações, Burton é um monstro à parte, impossível de não adorar. Raramente se supera mas nunca desilude.

8/10

terça-feira, 5 de junho de 2012

POSTERS: Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives (Apichatpong Weersethakul, 2010)

Vencedor de uma Palma de Ouro, realizado por um homem com o nome mais difícil de pronunciar da história da Humanidade, propagandeado por um poster extremamente enigmático.

domingo, 3 de junho de 2012

Fantasia (vários realizadores, 1940)

Fantasia foi a terceira longa produzida pela Disney. Depois dos mais convencionais Snow White And The Seven Dwarfs e Pinocchio, em 1940 apareceu esta pérola: sem enredo, sem diálogos e episódico, Fantasia é, ainda hoje, um dos mais excêntricos e únicos filmes que alguma vez vi, pela extrema liberdade criativa no desenho de segmentos animados que acompanham a progressão e a ambiência de 8 das mais conhecidas peças de música sinfónica de sempre. Impossível esquecer Mickey com um chapéu de feiticeiro, elefantes bailarinos ou uma montanha pelada que esconde um demónio gigantesco. É daqueles raros momentos em que a arte se transforma numa experiência... por vezes assustadora, por vezes cómica, sempre maravilhosa.