Quem melhor do que o hobbit
Elijah Wood, com o seu ar frágil e inocente, para dar corpo a um americano choninhas
que acaba de ser expulso de Harvard por posse de droga para proteger o seu
colega de quarto endinheirado, prestes a entrar num mundo sem artifícios, duro,
de fazer crescer barba na cara e, portanto, completamente oposto à sua
natureza? Matt Buckner deixa que lhe arruínem o futuro sem mais nem menos, mas
a vida vai ensiná-lo a lutar quando toma a decisão de viajar a Londres para
encontrar refúgio na irmã, já que o pai está sempre ausente, perdido algures no
mundo à procura das melhores histórias.
Shannon (a lindíssima Claire
Forlani) está casada com Steve Dunham, que também tem um irmão mais novo, Pete
(Charlie Hunnam), que rouba as cenas desde o início com o seu estilo
descomprometido e grosseiro típico das classes britânicas mais baixas como tantas vezes se encontra, por exemplo, no cinema de Shane Meadows. Matt é-lhe
impingido em dia de jogo do West Ham e é assim que o recém-chegado tem o seu
primeiro contacto com o futebol (e aprende a lição número um: nunca chamar-lhe
soccer) e, por conseguinte, com a claque organizada de que Pete faz parte, a
Green Street Elite.
Como em The Firm (Alan Clarke,
1988), aquilo que vulgarmente conhecemos por hooliganismo está embutido no
bairrismo que acompanha a paixão intensa pela equipa e quem o alimenta tem
empregos normais, casa, família e encontra-se com os amigos nos sítios do
costume, separando-se dos comuns mortais apenas pelo prazer que retiram da
violência que praticam contra outras claques, resvalando aí um pouco para o
terreno de um Fight Club (David Fincher, 1999), inclusive a nível estético,
sendo fácil, ultrapassado o choque dos combates mano-a-mano, sentirmo-nos parte
integrante, a descobrir e a aceitar esta cultura destrutiva.
Matt integra-se e sente-se vivo
como nunca, mas os repórteres são, compreensivelmente, o demónio para os seus
novos amigos, e a inscrição no curso de Jornalismo e a profissão do pai não se conseguem
ocultar para sempre. Isso, aliado a questões pessoais entre os Dunham e o líder
do grupo de Millwall (para além da rivalidade desportiva real e antiga), vai
levar a situação muito para longe do seu controlo. Com tanto já a acontecer, os
argumentistas cometem um único erro ao forçar a presença de Shannon no local da
luta final, para efeito dramático.
Tirando isso, Green Street
Hooligans avança consistentemente, apoiado em boas interpretações, tanto do
elenco americano como do inglês, à medida que revela uma realidade mundana que
já não devia ter lugar no futebol do século XXI. Parece ser tudo o que estes
fãs têm, são felizes a andar à porrada, o que, no fim das contas, é algo
triste. Para Matt há sempre a possibilidade da viagem de volta ao outro lado do
Atlântico, mas, para os Dunham, casa é isto. Em muitos aspectos, não é melhor nem
pior, é diferente. “Há uma altura para defender a nossa posição.” Também é bem verdade…
8/10