domingo, 13 de abril de 2014

Green Street Hooligans (Lexi Alexander, 2005)

Quem melhor do que o hobbit Elijah Wood, com o seu ar frágil e inocente, para dar corpo a um americano choninhas que acaba de ser expulso de Harvard por posse de droga para proteger o seu colega de quarto endinheirado, prestes a entrar num mundo sem artifícios, duro, de fazer crescer barba na cara e, portanto, completamente oposto à sua natureza? Matt Buckner deixa que lhe arruínem o futuro sem mais nem menos, mas a vida vai ensiná-lo a lutar quando toma a decisão de viajar a Londres para encontrar refúgio na irmã, já que o pai está sempre ausente, perdido algures no mundo à procura das melhores histórias.

Shannon (a lindíssima Claire Forlani) está casada com Steve Dunham, que também tem um irmão mais novo, Pete (Charlie Hunnam), que rouba as cenas desde o início com o seu estilo descomprometido e grosseiro típico das classes britânicas mais baixas como tantas vezes se encontra, por exemplo, no cinema de Shane Meadows. Matt é-lhe impingido em dia de jogo do West Ham e é assim que o recém-chegado tem o seu primeiro contacto com o futebol (e aprende a lição número um: nunca chamar-lhe soccer) e, por conseguinte, com a claque organizada de que Pete faz parte, a Green Street Elite.

Como em The Firm (Alan Clarke, 1988), aquilo que vulgarmente conhecemos por hooliganismo está embutido no bairrismo que acompanha a paixão intensa pela equipa e quem o alimenta tem empregos normais, casa, família e encontra-se com os amigos nos sítios do costume, separando-se dos comuns mortais apenas pelo prazer que retiram da violência que praticam contra outras claques, resvalando aí um pouco para o terreno de um Fight Club (David Fincher, 1999), inclusive a nível estético, sendo fácil, ultrapassado o choque dos combates mano-a-mano, sentirmo-nos parte integrante, a descobrir e a aceitar esta cultura destrutiva.

Matt integra-se e sente-se vivo como nunca, mas os repórteres são, compreensivelmente, o demónio para os seus novos amigos, e a inscrição no curso de Jornalismo e a profissão do pai não se conseguem ocultar para sempre. Isso, aliado a questões pessoais entre os Dunham e o líder do grupo de Millwall (para além da rivalidade desportiva real e antiga), vai levar a situação muito para longe do seu controlo. Com tanto já a acontecer, os argumentistas cometem um único erro ao forçar a presença de Shannon no local da luta final, para efeito dramático.

Tirando isso, Green Street Hooligans avança consistentemente, apoiado em boas interpretações, tanto do elenco americano como do inglês, à medida que revela uma realidade mundana que já não devia ter lugar no futebol do século XXI. Parece ser tudo o que estes fãs têm, são felizes a andar à porrada, o que, no fim das contas, é algo triste. Para Matt há sempre a possibilidade da viagem de volta ao outro lado do Atlântico, mas, para os Dunham, casa é isto. Em muitos aspectos, não é melhor nem pior, é diferente. “Há uma altura para defender a nossa posição.” Também é bem verdade…

8/10

1 comentário:

  1. Realmente é um ótimo filme, mostra com competência o mundo dos holligans e como estes utilizam o futebol apenas como pretexto para a violência.O resultado em campo não interessa, o que vale é bater no inimigo.

    Abraço

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