A administração de Bill Clinton ficará para sempre marcada
pela impugnação do mandato, na sequência do escândalo Lewinsky, o que é
sintomático da ingenuidade ou alheamento relativamente a questões mais sérias
que um período de estabilidade social e económica como os anos 90 pode semear,
copulado com o crescente poder de manipular a informação e de a disseminar
rapidamente dos media. Em retrospetiva, devia ser embaraçoso para a América que
todas as atenções tenham sido voltadas para um vestido com manchas numa altura
em que o país devia estar grato pelo baixo desemprego, baixas taxas de inflação
ou baixo crime atingidos entre 1993 e 2001… mas também atento para as
movimentações no mundo árabe, em especial para as possíveis consequências de
terem treinado e armado organizações terroristas, sem ideologia clara para além
do caos e que prestavam vassalagem a ninguém.
O cúmulo dos ataques registados no dia 11 de Setembro de
2001 é que não houve falta de avisos, e aqui podemos chegar ao real nadir da
passagem de Clinton pela Casa Branca: não autorizar a morte de Osama Bin Laden
quando teve oportunidade para o fazer em 1999. O líder da Al-Qaeda já havia
emitido por duas vezes apelos para uma guerra santa contra os EUA e patrocinado
vários ataques bombistas. Um deles acontecera em 1993 no World Trade Center e é
o foco deste filme.
Apesar de todo este contexto, Path To Paradise põe a
política de lado e concentra-se em recapitular a preparação da detonação e as
investigações do FBI, antes e depois, com grande precisão. Logo no início temos
a imagem assustadora dos terroristas a treinar tiro ao alvo em Jersey City, com
as Torres Gémeas em pano de fundo, do outro lado do rio Hudson. Todos eles
frequentavam a mesquita do sheik Omar Abdel Rahman, um clérigo cego conhecido
pelas suas posições extremistas contra o Ocidente, ou seja, também ele estava
integrado na sociedade que odiava, como todos os intervenientes.
A atitude dos serviços secretos é a do deixa andar, mesmo
quando têm um informador a avisá-los do que pode estar para vir, que dispensam
por ele exigir 500 dólares por semana como compensação pelos riscos que estava
a correr. Mais tarde são forçados a pagar-lhe 1 milhão e a fazê-lo desaparecer.
Com clareza e detalhe, o argumento e a realização nunca perdem o rumo e escalpelizam
a incompetência e as incongruências de ambos os lados, bem como as consequências
das suas ações.
Para o espectador sobra um sentimento enorme de raiva, pois
fica patente a ideia de que tanto o ataque de 1993 como o de 2001 (vendo o
filme agora é impossível não estabelecer paralelos) podiam ter sido impedidos com
o correto funcionamento das instituições, menos burocracia e melhores decisores.
Também é verdade que a compulsão dos EUA de intervirem no que não deviam nem
percebem precisa de terminar, mas não há defesa para bárbaros que matam contra
um determinado estilo de vida enquanto usufruem do mesmo. O filme é profético
na ameaça que deixa do risco de futuros atentados no solo americano em nome de
Alá e da religião da paz, nomeadamente na última cena, onde um dos
conspiradores é transportado pelo FBI de helicóptero sobre o WTC e diz “next
time we’ll bring them both down.” Se calhar havia assuntos mais importantes que
um broche ao presidente.
8/10
Mesmo tendo sido produzido para tv, este é um bom filme por mostrar com detalhes os absurdos erros do serviço secreto americano e da polícia que resultaram neste ataque de 2003.
ResponderEliminarA sequência de erros de avaliação das autoridades é inacreditável, assim como o personagem de Peter Gallagher dando o depoimento sobre os erros é muito parecido com os personagens reais fariam tentando justificar 11 de setembro.
Já comentei sobre este filme no blog, mas sei que poucas pessoas o assistiram.
http://cinema-filmeseseriados.blogspot.com.br/2011/04/o-grande-atentado.html
Abraço