Dizer que o western é o género mais americano de todos não
será propriamente inovador; a constatação tem sido evidenciada por figuras de
renome tanto do lado da produção como do lado da crítica. Com o mínimo de
conhecimento histórico e alguns clássicos na bagagem, instintivamente se
identifica a preponderância das paisagens do país em todas as suas geografias
como elemento fundamental para sobrelevar qualquer dilema ou conflito, a
exploração dos acontecimentos que moldaram a construção de uma identidade
nacional e mesmo os paralelismos com a atualidade que escoam para estas
representações do passado. Quentin Tarantino tem sido a voz mais audível de
aclamação destas qualidades nos últimos anos.
Nada que André Bazin não tivesse já notado desde os
primeiros tempos da Cahiers du Cinéma, revista que ajudou a fundar em 1951. O
seu investimento na análise dos filmes de John Ford, Anthony Mann e outros como
mais do que objetos de puro entretenimento, como eram a generalidade das
coboiadas, muito à conta de representações infantis dos confrontos entre os
civilizados caras pálidas e os selvagens peles vermelhas, está documentado, bem
como a sua admiração por Seven Men From Now em particular. A secura que
Boetticher adota, nos cenários do oeste montanhoso, no fleumático Randolph
Scott e na rejeição dos subterfúgios da psicologia, são por si expoentes
máximos desta iconografia do rigor estético e moral.
A procura por justiça é uma viagem que não dispensa os
acidentes de percurso, mas não pode deixar de ser o destino. Com Ben Stride,
xerife caído em desgraça e viúvo desde que do assalto à Wells Fargo da sua
cidade resultou a morte da esposa, que trabalhava na companhia financeira, essa
viagem é também movida por vingança, talvez a forma mais cinemática de
ação/reação. Nada poderá impedir a morte dos criminosos, apesar de serem sete,
a continuidade do seu altruísmo, apesar de proteger John Greer (Walter Reed),
que não foi brindado com a mesma firmeza de princípios, nem a exaltação da
memória da mulher, apesar da tentação que representa a bela Annie Greer (Gail
Russell).
Isso é tudo tão inevitável ao ponto de Boetticher atalhar a
representação das eventuais contrariedades. Dos disparos fatais já só ouvimos o
eco posterior ou só vemos os corpos a cair, nunca o sacar da arma. O fim de
Greer virá naturalmente, é desprezável para a personagem principal. Stride e
Annie nunca se beijam. Seven Men From Now é surpreendente na sua simplicidade,
por conscientemente negar certos estereótipos narrativos. Da mesma forma, o
deserto não é um amontoado de areia aborrecido, antes um habitat com uma
constância reconfortante que escondeu tesouros de cowboys, testes de bombas
nucleares, mitos de contactos com alienígenas, petróleo para explorar e sabe-se
lá que outros segredos.
8/10
Assisti muitos westerns, mas esse eu não conhecia.
ResponderEliminarMe parece bem interessante, além de ter o grande Lee Marvin.
Abraço
Grande papel do Lee Marvin, como sempre :)
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