domingo, 4 de dezembro de 2016

It Follows (David Robert Mitchell, 2014)

Aqueles takes longos e silenciosos, aquela mistura de sons e imagens misteriosas e aquela utilização dos elementos naturais para esconder ameaças prestes a ser reveladas que são transversais aos melhores filmes de John Carpenter contribuem para criar uma atmosfera singular - é exatamente isso que David Robert Mitchell parece perseguir em It Follows, essa impressão de que um assassino está à espera num quintal do subúrbio mais pacífico imaginável, de que fantasmas podem saltar do nevoeiro numa banal vila costeira ou até de que aliens se refugiam debaixo da pele de pessoas com que nos cruzamos todos os dias.

Lentamente, somos apresentados a uma família composta por várias mulheres de diferentes idades, na qual a mãe se mantém praticamente ausente e as filhas dividem o tempo entre as aulas, a piscina desmontável e, no caso de Jay (Maika Monroe), encontros com um rapaz que conhece mal. Após fazerem sexo pela primeira vez, ela inicia um monólogo romântico e é um belo cenário de amor que quase nos ilude de que nada se passa, quando, de repente, ele salta-lhe em cima e abafa-a com clorofórmio. O filme começa. Ao acordar, Jay fica a saber que lhe foi transferida, qual DST, uma maldição que a perseguirá sob a forma de espectros lentos e com vontade de matar, apenas visíveis pelo(a) hospedeiro(a).

Sendo impossível de prever onde e quando a alcançarão, ela não pode parar num só sítio nem adormecer, sob pena de ser apanhada durante o sono. As irmãs e os amigos notam uma diferença brutal no seu comportamento e, depois de Jay partilhar esta história sobrenatural, eles acompanham-na numa série de tentativas para decifrar a verdade, incluindo os mais céticos. Para além de jogar com as ansiedades sobre a sexualidade juvenil da forma mais subversiva desde Kids (1995), pondo de lado o realismo extremo de Larry Clark e substituindo-o pela criatividade do cinema de terror, coloca-se um enorme dilema moral através das seguintes opções: deixar-se ser apanhada e morrer, fugir até à exaustão ou passar o vírus a outrem.

Para onde quer que o grupo vá, algo os segue. A união que se gera levará a um excesso de solidariedade? Serão interrompidos por um ato invisível de violência em casa ao abrir a porta do quarto, no parque infantil com algo a saltar de trás de uma árvore ou na margem do lago onde se escondem temporariamente? Pode acontecer a qualquer momento e é incrível como nunca deixamos de ter consciência disso. Os contrastes da cidade de Detroit, a familiaridade das personagens e lugares e a banda sonora a relembrar Halloween (1978) elevam It Follows ao nível de um clássico moderno do género.

9/10

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