Aqueles takes longos e silenciosos, aquela mistura de sons e
imagens misteriosas e aquela utilização dos elementos naturais para esconder
ameaças prestes a ser reveladas que são transversais aos melhores filmes de
John Carpenter contribuem para criar uma atmosfera singular - é exatamente isso
que David Robert Mitchell parece perseguir em It Follows, essa impressão de que
um assassino está à espera num quintal do subúrbio mais pacífico imaginável, de
que fantasmas podem saltar do nevoeiro numa banal vila costeira ou até de que
aliens se refugiam debaixo da pele de pessoas com que nos cruzamos todos os
dias.
Lentamente, somos apresentados a uma família composta por
várias mulheres de diferentes idades, na qual a mãe se mantém praticamente ausente
e as filhas dividem o tempo entre as aulas, a piscina desmontável e, no caso de
Jay (Maika Monroe), encontros com um rapaz que conhece mal. Após fazerem sexo
pela primeira vez, ela inicia um monólogo romântico e é um belo cenário de amor
que quase nos ilude de que nada se passa, quando, de repente, ele salta-lhe em
cima e abafa-a com clorofórmio. O filme começa. Ao acordar, Jay fica a saber
que lhe foi transferida, qual DST, uma maldição que a perseguirá sob a forma de
espectros lentos e com vontade de matar, apenas visíveis pelo(a) hospedeiro(a).
Sendo impossível de prever onde e quando a alcançarão, ela
não pode parar num só sítio nem adormecer, sob pena de ser apanhada durante o
sono. As irmãs e os amigos notam uma diferença brutal no seu comportamento e,
depois de Jay partilhar esta história sobrenatural, eles acompanham-na numa
série de tentativas para decifrar a verdade, incluindo os mais céticos. Para
além de jogar com as ansiedades sobre a sexualidade juvenil da forma mais
subversiva desde Kids (1995), pondo de lado o realismo extremo de Larry Clark e
substituindo-o pela criatividade do cinema de terror, coloca-se um enorme
dilema moral através das seguintes opções: deixar-se ser apanhada e morrer,
fugir até à exaustão ou passar o vírus a outrem.
Para onde quer que o grupo vá, algo os segue. A união que se
gera levará a um excesso de solidariedade? Serão interrompidos por um ato
invisível de violência em casa ao abrir a porta do quarto, no parque infantil
com algo a saltar de trás de uma árvore ou na margem do lago onde se escondem
temporariamente? Pode acontecer a qualquer momento e é incrível como nunca
deixamos de ter consciência disso. Os contrastes da cidade de Detroit, a
familiaridade das personagens e lugares e a banda sonora a relembrar Halloween
(1978) elevam It Follows ao nível de um clássico moderno do género.
9/10
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