Quando Stephen (Ryan Gosling) diz a Mike (George Clooney),
governador democrata à procura de apoio suficiente dentro do seu partido para
concorrer à presidência dos EUA, em plenas eleições primárias no sempre crítico
estado do Ohio, que na política “you can lie, you can cheat, you can start a
war, you can bankrupt the country, but you can’t fuck the interns”, vem
inevitavelmente à memória o caso Monica Lewinski. The Ides Of March joga com
imagens e fantasmas recentes da história daquele país de forma extremamente
eficaz, por vezes furtiva, como através da semelhança dos cartazes de apoio a
Mike com os de Obama em 2008, tentando projectar à partida uma imagem de um
candidato tolerante, moderno, acessível e carismático, que é depois desfeita
pela revelação da sua relação extraconjugal com Molly, que trabalha na sua
campanha, é filha de um amigo do topo da pirâmide do partido e tem apenas 20
anos.
O filme partilha uma grande clareza de linguagem e um olhar
clínico sobre poder e corrupção com clássicos como All The President’s Men, Network
e o mais recente Michael Clayton, sendo conduzido por diálogos cuidados,
soluções de grande cinismo e personagens com morais ambíguas, à excepção de
Stephen… pelo menos no início.
De facto, as descobertas que o jovem faz e as más decisões
que toma, ainda que sem malícia, acabam por funcionar como uma bola de neve num
enredo que se vai adensando e motivando traições, cobardias e confrontos,
funcionando como um ritual de passagem, o fim da ingenuidade e o início de uma
carreira com potencial. Enquanto a Philip Seymour Hoffman são permitidos alguns
momentos de maior exaltação, como a brilhante cena em que despede Stephen,
Gosling e Clooney entram num tête-à-tête sibilino, não menos memorável, de
charme e trapaçaria, cada um elevando a sua poker face à perfeição. É imputada
ao processo democrático a corrupção como uma inevitabilidade; enquanto
eleitores e cidadãos sabemos que tal é possível mas esperamos que não seja
certo. Porém, The Ides Of March não deixa espaço para optimismo nem esperança
quanto ao futuro, acabando com um dos mais enigmáticos close-ups dos últimos
anos.
8/10
Ótimo filme e texto muito bem escrito!
ResponderEliminarAbraço!
Obrigado :)
EliminarO filme mostra todo descontentamento de Clooney com a política, principalmente com o governo Obama.
ResponderEliminarO único senão é frieza em algumas sequências, mas provavelmente por escolha do próprio Clooney para mostrar que na política não existe lugar para emoção ou idealismo.
Abraço