Os hotéis são sítios fascinantes:
tenham mais ou menos requinte, estejam melhor ou pior localizados, sejam
modernos ou antiquados, o simples facto de tanta gente viver temporariamente e
deixar um bocado de si em cada quarto, que são imediatamente arrumados de forma
a obedecerem a padrões estandardizados de limpeza e aspecto para se parecem
como novos outra vez, torna-os como que um depósito de memórias que não deixam vestígios.
O músico Moby passou tanto tempo neles que acabou por lhes dedicar um álbum.
Umas quantas décadas antes, já alguém fazia uma soliloquia semelhante em Grand
Hotel.
A cidade é Berlim. O período é o
intervalo entre as duas Guerras Mundiais. Em modo proto-filme-mosaico, várias
personagens, quase todas apresentadas numa montagem de telefonemas a ocorrerem
em simultâneo nas cabines da recepção, intersectam-se no espaço do título, do
qual nunca saímos. Preysing (Wallace Beery) está prestes a vender a sua empresa
para mascarar a falência, Kringelein (Lionel Barrymore) é um doente terminal que
se entregou à vida loca, Grusinskaya (Greta Garbo) é uma bailarina idiossincrática,
von Geigern (John Barrymore) é um larápio com estilo e Flaemmchen (Joan
Crawford) é uma estenógrafa boémia.
O que os une, mais do que os
encontros e desencontros que se vão sucedendo, é o dinheiro. Não se pode dizer
que o filme seja anti-capitalista ou anti-materialista, até porque apresenta
com entusiasmo um mundo luxuoso de acesso muito restrito, porém tanto a falta
como o excesso dele têm um poder corruptível, levando Preysing a abdicar da sua
moral, o barão von Geigern a pôr em risco o amor e apenas trazendo alegria a
Kringelein porque este decidiu estourá-lo sem preocupações enquanto pode. No
fundo, quando decide partir para outro Grand Hotel, percebemos como tudo é
fútil perante a solidão e a morte.
É difícil negar que o filme está
datado, como se pode notar especialmente no romance entre o barão e Grusinskaya,
que fala sozinha de forma dramática, encontra um estranho escondido no quarto e
pimba, apaixona-se por ele. Inovador na época pelos sets construídos (há uns
planos magníficos no início que demonstram porquê) e pelo cast (as estrelas são
muitas e parecem competir saudavelmente, para benefício do filme, pela interpretação
mais memorável - pessoalmente, adoro a frescura de Crawford), o ritmo
inconstante fere-o ligeiramente. Resta-lhe ainda muito, muito charme. Afinal,
vê-se tanto num grande hotel.
6/10
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