Diana (Rita Martins) tem todo o
ar de quem está a atravessar aquela fase na qual tomamos 90% das decisões de
que mais tarde nos arrependemos chamada adolescência, desde cortes de cabelo
que rapidamente ficam ultrapassados, passando por namoricos sem ponta por onde
se lhe pegue, a um natural processo tentativa/erro que se estende a todos os
desafios que teimam em afastar-nos irremediavelmente da infância e atirar-nos
para as responsabilidades adultas, plantando muitas dúvidas pelo caminho,
algumas das quais nunca chegam sequer a ser resolvidas. Apesar disto, ter essa
idade é um espectáculo. Em que outra altura faz tanto sentido ter um candeeiro
de lava no quarto, passares horas na rua a falar sobre amor com um amigo(a)
daqueles ou inscreveres-te em aulas de escalada só porque tens uma paixoneta
pelo(a) professor(a)? Claro que há factores inesperados que podem complicar as
contas; estares em vias de roubar o amante da tua madrasta pode ser um deles.
Apesar de tudo, Diana tem assente
que o pai é o homem da sua vida e faz o que está ao seu alcance para o ajudar e
proteger, incluindo esconder a relação ilícita de Madalena (Margarida Marinho, sensualidade
a turbinar), na esperança de que pudesse terminar pelo simples facto de ter
sido descoberta, para poderem voltar a fingir que são uma família. Claro que a
história não se desenrola assim e o ingénuo Gabriel acaba por sair de casa, com
o coração desfeito, como, aparentemente, já havia acontecido no passado. Apesar
da juventude, os níveis de responsabilidade e sanidade que Diana emana não têm
comparação com os das personagens mais velhas que a rodeiam.
Gabriel, Madalena e Miguel
(Filipe Duarte) são um perigo para o seu crescimento e não é de estranhar que
atirar-se de uma escarpa abaixo chegue a passar-lhe pela cabeça. 4 Copas tem um
ritmo lento que atrai o espectador paciente mas nem sempre o recompensa. Depois
de se explanar a premissa nos primeiros 30 minutos, o filme foca-se quase
exclusivamente na crescente proximidade entre Diana e Miguel (convincente) e no
vício do jogo que o unia a Madalena e os dois a uma espécie de máfia
(aborrecido). O pai é de tal forma esquecido que cheguei a pensar tratar-se de
uma homenagem a L’Avventura, o clássico de Antonioni em que duas almas
solitárias se aproximam depois do desaparecimento de uma amiga comum, que nunca
mais é mencionada até ao fim. Mas não, Gabriel lá volta para assinar os papéis
do divórcio, confirmando o seu estatuto de corno. Faço a ressalva de que é uma
interpretação afável de João Lagarto, para mim um dos melhores actores
portugueses no activo.
6/10
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