Apesar do sucesso que os filmes de acção costumam ter nas
bilheteiras, o género é frequentemente menosprezado pela crítica. John Woo é,
descontando a fase Hollywood no início do século, uma das excepções: A Better
Tomorrow, The Killer ou Hard Boiled recolheram desde o início elogios pelo
trabalho de câmara enérgico, a representação descomprometida da violência e a
exploração dos códigos de moral, amizade e honra, por vezes ambíguos, pelos
quais vive quem faz das armas o seu trabalho, seja de que lado da lei estiverem,
para além do escapismo e da diversão que não deixam de oferecer.
The Killer em específico é o mais dramático. Yun-Fat Chow,
colaborador frequente do realizador chinês, aparece como um assassino
respeitado com ligações às tríades de Hong Kong, cujos sentimentos se
intrometem no exercício da sua profissão quando se vê envolvido num banho de
sangue num bar e, para além de matar umas dezenas de malfeitores com um único
carregador, deixa quase cega uma cantora que lá trabalhava. Cada vez mais
alheado, decide tentar reparar os estragos e ajudá-la com tratamentos pagos e a
promessa de uma cirurgia correctiva, o que, por sua vez, o faz pensar que está
na hora de se retirar.
Claro que não será assim tão fácil, pois para além de um
detective estar na sua peugada, também o líder da máfia não vê com bons olhos o
quebrar de uma ligação que deve ser para toda a vida e o seu amigo mais antigo
da velha guarda trai-o. Essas três personagens secundárias representam três
níveis diferentes do espectro da ética, o primeiro tem padrões elevados e não
se importa de admitir que admira Ah Jong pela sua tenacidade, o segundo não tem
escrúpulos e o terceiro anda na corda bamba, inseguro das atitudes que tem de
tomar. As ameaças e os confrontos armados são muitos e intensos.
Woo usa a câmara lenta ciente da visceralidade mas também do
lirismo dessas cenas e o efeito é fantástico. Há uma set-piece que vai dum
assassinato público para uma perseguição de barco para fogo cruzado numa praia
para uma perseguição de carro para um stand-off no hospital – not bad. Apesar
de tudo isto, o filme é minado pela lamechice da banda sonora, por alguns
clichés dos policiais de Hong Kong, pela forma como a cantora é protegida como
uma criança e pela falta de sal dessa personagem. Em 1989 talvez passasse
despercebido. Hoje, podemos dizer que Hard-Boiled ou Face/Off são mais
equilibrados.
6/10
Sem comentários:
Enviar um comentário