sábado, 13 de dezembro de 2014

Vibrations (Joseph W. Sarno, 1968)

Pode ser algo difícil de imaginar hoje, mas houve uma altura, não há tanto tempo assim, em que a pornografia não estava disponível à distância de um clique. É verdade, procurem na internet. Isso não impediu que houvesse uma revolução sexual nos anos 60 donde, com muita rebeldia juvenil e revolta contra os poderes e as políticas instaladas à mistura, adveio maior frontalidade na discussão do prazer, do combate de doenças venéreas, de relações não heterossexuais, de contracepção, em suma de todo um leque de temas até ai tabu.

Com tanta tentação, claro que isso se iria reflectir na cultura, e da mesma forma que apareceram novos géneros e artistas musicais a ultrapassar determinadas fronteiras na composição, no estilo e na imagem, também no cinema se trilharam novos caminhos. Joe Sarno realizou dezenas de filmes, mais ou menos explícitos, ao longo da sua carreira, tendo sido um dos pioneiros do sexploitation, chamando para os cinemas as hormonas que havia então à solta, libertas. Vibrations foi dos melhor sucedidos e, tendo em conta o amadorismo e a falta de gosto que hoje facilmente se reconhece noutros trabalhos semelhantes, é significativamente mais minimalista e bem escrito, talvez por isso não parecendo tão risível como o que Russ Meyer ou Radley Metzger andavam a fazer em simultâneo, já para nem comparar com um Deep Throat ou um The Opening Of Misty Beethoven, que vieram numa onda hardcore posterior.

Há corpos nus em mais de metade das cenas, mas nem sempre com cariz sensual; Sarno tem o mérito de conseguir aumentar a tensão usando a nudez como factor de desconforto. Diz-se que entre marido e mulher não se mete a colher, mas e entre duas irmãs? Barbara e Julia estão em permanente conflito, por isso é natural que haja ocasiões de catarse quando a convivência é tão intermitente. A primeira refugia-se num apartamento low-cost em Manhattan para escrever, só que a segunda acaba por a seguir e intrometer-se. Dada a personalidade influenciável de Barbara e a devassidão que Julia procura obsessivamente, podemos imaginar uma educação restritiva. Os desequilíbrios de ambas manifestam-se em sessões de sexo em grupo e masturbação pontuadas por sentimentos de nojo e culpa. The Silence (Ingmar Bergman, 1963) paira umas milhas acima.

Atenção, continuamos a estar nos anos 60 e o tom maroto com que são mostrados vibradores, a banda-sonora própria de desenho animado ou os planos de 10 minutos de casais unicamente na posição de missionário colocam o atrevimento de Vibrations ao nível de uma criança que acabou de dizer a palavra “pilinha” pela primeira vez, se pensarmos no mundo em que vivemos actualmente.

5/10

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