Pode ser algo difícil de imaginar
hoje, mas houve uma altura, não há tanto tempo assim, em que a pornografia não
estava disponível à distância de um clique. É verdade, procurem na internet.
Isso não impediu que houvesse uma revolução sexual nos anos 60 donde, com muita
rebeldia juvenil e revolta contra os poderes e as políticas instaladas à
mistura, adveio maior frontalidade na discussão do prazer, do combate de
doenças venéreas, de relações não heterossexuais, de contracepção, em suma de
todo um leque de temas até ai tabu.
Com tanta tentação, claro que isso se iria
reflectir na cultura, e da mesma forma que apareceram novos géneros e artistas
musicais a ultrapassar determinadas fronteiras na composição, no estilo e na
imagem, também no cinema se trilharam novos caminhos. Joe Sarno realizou
dezenas de filmes, mais ou menos explícitos, ao longo da sua carreira, tendo
sido um dos pioneiros do sexploitation, chamando para os cinemas as hormonas
que havia então à solta, libertas. Vibrations foi dos melhor sucedidos e, tendo
em conta o amadorismo e a falta de gosto que hoje facilmente se reconhece
noutros trabalhos semelhantes, é significativamente mais minimalista e bem
escrito, talvez por isso não parecendo tão risível como o que Russ Meyer ou
Radley Metzger andavam a fazer em simultâneo, já para nem comparar com um Deep
Throat ou um The Opening Of Misty Beethoven, que vieram numa onda hardcore
posterior.
Há corpos nus em mais de metade das cenas, mas nem sempre com cariz
sensual; Sarno tem o mérito de conseguir aumentar a tensão usando a nudez como
factor de desconforto. Diz-se que entre marido e mulher não se mete a colher,
mas e entre duas irmãs? Barbara e Julia estão em permanente conflito, por isso
é natural que haja ocasiões de catarse quando a convivência é tão intermitente.
A primeira refugia-se num apartamento low-cost em Manhattan para escrever, só
que a segunda acaba por a seguir e intrometer-se. Dada a personalidade
influenciável de Barbara e a devassidão que Julia procura obsessivamente,
podemos imaginar uma educação restritiva. Os desequilíbrios de ambas
manifestam-se em sessões de sexo em grupo e masturbação pontuadas por
sentimentos de nojo e culpa. The Silence (Ingmar Bergman, 1963) paira umas
milhas acima.
Atenção, continuamos a estar nos anos 60 e o tom maroto com que
são mostrados vibradores, a banda-sonora própria de desenho animado ou os
planos de 10 minutos de casais unicamente na posição de missionário colocam o
atrevimento de Vibrations ao nível de uma criança que acabou de dizer a palavra
“pilinha” pela primeira vez, se pensarmos no mundo em que vivemos actualmente.
5/10
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