Não se pode duvidar que Whiplash,
o indie que custou três milhões de dólares e foi nomeado para cinco Óscares, é
um filme de emoções fortes. Arrisco que quem não gosta de jazz vai mudar de
ideias depois de o ver, porque a banda sonora é muito bem escolhida e as
sequências musicais foram filmadas com uma intensidade e uma atenção ao detalhe
imaculadas. Em simultâneo, as personagens principais estão constantemente em
conflito, entre elas ou consigo mesmas, no sentido de serem os melhores no que
se propõem a fazer e provarem um ao outro que estão errados… o que acaba por
confirmar que ambos estavam certos.
Andrew (Miles Teller) é aprendiz
de baterista numa escola reputada de Nova Iorque, que deve a sua fama a
Fletcher (J.K. Simmons), maestro da banda do estilo supramencionado. A vontade
do aluno de estar ao nível dos seus ídolos move-o a praticar todos os dias até
as mãos sangrarem, a ridicularizar a inclinação familiar para o desporto ou a
pôr um travão nas hormonas, afastando a rapariga que trabalha no cinema onde
costuma ir com o pai, Nicole (Melissa Benoist), apesar de ter sido ele a
mostrar iniciativa e convidá-la para saírem juntos, e é apenas rivalizada pela
violência que o professor utiliza com o intuito de puxar os seus músicos ao
máximo.
A teoria de Fletcher, ilustrada
com o exemplo de Jo Jones ter atirado um prato a um adolescente Charlie Parker
em plena actuação, motivando o mais novo a treinar no saxofone e tornar-se numa
lenda no instrumento sob o cognome Bird, é de que a sua severidade, reforçada
cada vez com maior exagero, levará a encontrar um talento de alto gabarito,
porque esse usará as contrariedades por ele criadas para se ultrapassar. Só uma
mente distorcida pode preferir trabalhar sob tal filosofia de ensino a servir
de mentor, com realismo e pragmatismo, mas sem violentar, física e
psicologicamente, aqueles que o procuram para com ele aprenderem. Fletcher é
uma farsa.
Ninguém daria emprego, muito
menos manteria nos quadros, fossem quais fossem os resultados em competições
que ele obtivesse, alguém que leva os alunos a chorar, a atacarem-no em palco e
ao suicídio. Andrew busca a sua aprovação como uma inocente Anastasia busca a
aprovação do seu incompreendido Christian, pelo meio subjugando-se ao masoquismo, e
sim, acabo de ligar Whiplash a 50 Shades Of Grey. Menos chicotes, mais
baquetas. O que o redime é o amor pela música; apesar da lógica da história ser
completamente retorcida, as versões da Caravan são as cenas mais pornográficas
do ano, a concentração é total, o suor cai, a velocidade aumenta, os olhares
cruzam-se. É um grande elogio. Talvez Damien Chazelle pudesse aquecer o filme
de Sam Taylor-Johnson.
5/10
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