sábado, 29 de dezembro de 2012

Lawless (John Hillcoat, 2012)


O quinto filme de John Hillcoat marca igualmente a sua terceira colaboração com Nick Cave. O músico australiano escreveu mais um argumento a transbordar de testosterona e violência para Lawless, apesar de, comparando com Ghosts Of The Civil Dead (1988) e The Proposition (2005), haver algum nível de romantismo envolvido, não só pela maior preponderância de figuras femininas, mas também pela aparente nostalgia por uma época na qual, obviamente, não viveu, de transição entre o velho oeste e os vícios das novas cidades.

Lawless é um western e um filme de gangsters ao mesmo tempo. Os sulistas são mais simples, menos expressivos e estão encarregues da parte menos glamorosa do tráfico de álcool no período da Lei Seca nos Estados Unidos: a sua produção. Os nortenhos vêm de Nova Iorque, Chicago e afins, com os fatos da moda, verborreias bem enfeitadas e assumem ou a comercialização ilegal dos líquidos proibidos ou o combate aos labregos sujos que não respeitam nada nem ninguém (pelo menos é assim que os vêem  por isso há que ser superior e… bater-lhes ou matá-los).

Percebendo que todos eles são criminosos à sua maneira, valorizar uns e vilificar outros pode sempre revelar-se infrutífero, mas é uma técnica antiga de Hollywood, que, não obstante, permeia grandes clássicos e resulta aqui pela mecânica entre os 3 irmãos Bondurant: juntos, tentam fazer pela vida com o que a terra que define a sua identidade lhes dá, ou seja, matéria-prima. Têm noções de família e honra que são ameaçadas mais pelo desprezo, sadismo e abuso de força das autoridades do que propriamente pela lei em si. Quando um contrafactor tem mais carácter e estaleca moral que um US Marshal, claro que vamos ficar do lado dos primeiros.

O filme joga habilmente com estes conflitos e só é pena que não consiga evitar dezenas clichés. O cenário é tão diferente dos filmes típicos sobre esta era, levando as guerras de território para o campo e dando a conhecer a realidade por detrás do império de homens como Al Capone e outros, mas a relação de Forrest, o mais velho, com Maggie, uma antiga dançarina farta da vida urbana, não passa do trivial, os diálogos mais profundos acabam por ficar deslocados quando se está tanto tempo a desenvolver personagens ríspidas e de poucas palavras e dá a impressão de que algumas cenas estão mal montadas. A qualidade do elenco vai amenizando estas imperfeições.

Dificilmente Hillcoat e Cave conseguiriam esculpir algo mais visceral que The Proposition, mas a decisão de adocicar esta história só não se revela completamente despropositada porque o amor jovem é sempre interessante e Shia LaBeouf e Mia Wasikowska têm bastante química juntos. A interpretação dele é especialmente captivante pela sua evolução, de irmão mais novo enfezado e curvado, que chora e pede misericórdia quando está a ser espancado, para assassino inconstante e sem papas na língua, preparado para assumir responsabilidades e puxar um gatilho.

A presença de Tom Hardy é imponente, e a cena em que é ferido com gravidade é a melhor. Por último, Guy Pearce volta a demonstrar a sua criatividade com Charlie Rakes, um niilista de sobrancelhas rapadas, pronto a violar mulheres e matar deficientes motores para chegar aos Bondurant. Fala de si na terceira pessoa e fica irritado quando o sangue dos pacóvios que esmurra suja as suas luvas colecção Outono/Inverno. Que fique claro - mesmo notando-se falta de rumo, Lawless não deixa de ser negro como a noite e um raro híbrido de géneros.

6/10

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