Émile Zola chegou a ser o
escritor mais popular em França, tendo encabeçado o movimento naturalista, que
se focava nas agruras do quotidiano, procurando o realismo e a honestidade
independentemente do contexto. No início do filme podemos ver como penou nos
primeiros anos após ter regressado a Paris, encaixando naquela imagem do
artista totalmente dedicado ao que faz, mais preocupado em encontrar a sua voz
do que em conseguir uma refeição decente que seja por dia, tal como o pintor
Cézanne, seu amigo de infância, que sempre o acompanhou e que viria, ele
próprio, a tornar-se uma referência no seu ofício.
Contudo, é na sua intervenção num
mediático caso de injustiça social contra um oficial de ascendência judaica do
exército que The Life Of Émile Zola mais se foca, acima de tudo para demonstrar
que a fama e o conforto, que o escritor mereceu e a que se podia ter votado,
não devem ser emissários de insensibilidade. Atordoado pela derrota na guerra
franco-germânica de 1870, abalado por uma onda nacionalista e anti-semítica, o
país encontrou no caso Dreyfus um escape fácil para as tensões e frustrações
acumuladas, inerentes a todo o período da Terceira República.
A polémica descoberta de um
documento traficado para a embaixada alemã com informação delicada exigia uma
resolução rápida e o capitão foi o bode expiatório. O exército rapidamente manipulou
a opinião pública contra Dreyfus e acusou-o de espionagem, organizando até um
julgamento de fachada, humilhando-o em público e expatriando-o para uma prisão
remota na Guiana Francesa. A mulher e os filhos ficaram para trás e
inteligentemente tentaram envolver uma figura de renome a favor da inocência.
Zola hesita, mas acaba por se envolver e ser acusado por difamação.
A dimensão que a mentira criada
pelos poderes instalados toma é surreal, mesmo quando as provas a favor de
Dreyfus começam a surgir. O argumento é extremamente hábil a revelar todas as
manipulações da situação, sendo fácil e interessante de seguir. Não é de
estranhar que os dois papéis masculinos principais tenham sido reconhecidos com
nomeações pela Academia, pois tanto Paul Muni (talvez o melhor actor americano
dos anos 30) e Joseph Schildkraut recriam as suas personagens com humanismo e
credibilidade. Mais do que nunca, é bom ver exemplos históricos de como a
justiça vem sempre ao de cima.
8/10