quarta-feira, 9 de julho de 2014

An American In Paris (Vincente Minnelli, 1951)

Vincente Minnelli realizou muitos musicais, mas talvez nenhum tão extravagante como An American In Paris. Em abono da verdade, a história, já de si algo ténue, torna-se secundária perante tanto cuidado e planeamento a nível estilístico e que se reflete nas coreografias de sapateado e dança, no guarda-roupa cheio de rendilhados e fantasias e nos movimentos de câmara, como se vê no início quando Jerry Mulligan (Gene Kelly), o ex-militar aliado que ficou em Paris depois da guerra para pintar e adotar o estilo de vida do artista em dificuldades, arruma o seu quarto e apresenta os vizinhos - e isso é apenas uma amostra do que está para vir.

Jerry, o pianista Adam da porta ao lado, e um amigo deste, o cantor Henri, fazem as delícias do bistro com improvisos musicais e pouco nos resta para além de sorrir e entrar no ritmo. O filme começa logo em festa e passam 20 minutos até que finalmente aparece alguém para complicar a vida profissional e amorosa do nativo de Perth Amboy, New Jersey, como comicamente informa a uma conterrânea, aspirante a snob, na esquina onde costuma vender a sua arte (numa rua de Montmartre mais-que-perfeita). De seguida, uma senhora com dinheiro a mais e companhia a menos compra-lhe quadros (coisa rara) e convence-o a acompanhá-la ao hotel Ritz.

Milo Roberts é uma personagem triste e opaca, de quem pouco sabemos para além de que sente uma enorme solidão. Patrocina Jerry, oferece-lhe um estúdio, leva-o a festas elaboradas, beija-o, mas não o ama realmente, é Jerry mas podia ser outro qualquer a estar naquela posição, como, aliás, haviam estado anteriormente um escultor e um compositor, informa-nos um amigo. Ao mesmo tempo, ele conhece Lise, que rejeita os seus avanços inicialmente, mas lá vai cedendo. O que não lhe diz é que tem namorado… Henri! Coincidência das coincidências. Ambos estão, portanto, numa situação semelhante: demasiado dependentes da segurança de terceiros.

O enredo não é original, estes encontros e desencontros são forçados e os diálogos ficam-se pela mediania. Agora, sempre que alguém abre as goelas ou mexe os pés, o filme ganha uma vitalidade inigualável. A introdução de Lise, que Henri descreve com características contraditórias, é uma explosão de cor e música, o delírio de Adam, que se imagina capaz de se multiplicar numa orquestra em concerto, é absurdo e hilariante e o ballet dos últimos 20 minutos nem precisa de palavras, rivalizando com o medley de Singin’ In The Rain para sequência musical mais elaborada da história do cinema. Kelly e o compositor Gershwin são as estrelas.

8/10

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