Vincente Minnelli realizou muitos
musicais, mas talvez nenhum tão extravagante como An American In Paris. Em
abono da verdade, a história, já de si algo ténue, torna-se secundária perante
tanto cuidado e planeamento a nível estilístico e que se reflete nas
coreografias de sapateado e dança, no guarda-roupa cheio de rendilhados e
fantasias e nos movimentos de câmara, como se vê no início quando Jerry
Mulligan (Gene Kelly), o ex-militar aliado que ficou em Paris depois da guerra
para pintar e adotar o estilo de vida do artista em dificuldades, arruma o seu
quarto e apresenta os vizinhos - e isso é apenas uma amostra do que está para
vir.
Jerry, o pianista Adam da porta
ao lado, e um amigo deste, o cantor Henri, fazem as delícias do bistro com
improvisos musicais e pouco nos resta para além de sorrir e entrar no ritmo. O
filme começa logo em festa e passam 20 minutos até que finalmente aparece
alguém para complicar a vida profissional e amorosa do nativo de Perth Amboy,
New Jersey, como comicamente informa a uma conterrânea, aspirante a snob, na
esquina onde costuma vender a sua arte (numa rua de Montmartre mais-que-perfeita).
De seguida, uma senhora com dinheiro a mais e companhia a menos compra-lhe
quadros (coisa rara) e convence-o a acompanhá-la ao hotel Ritz.
Milo Roberts é uma personagem
triste e opaca, de quem pouco sabemos para além de que sente uma enorme
solidão. Patrocina Jerry, oferece-lhe um estúdio, leva-o a festas elaboradas, beija-o,
mas não o ama realmente, é Jerry mas podia ser outro qualquer a estar naquela
posição, como, aliás, haviam estado anteriormente um escultor e um compositor,
informa-nos um amigo. Ao mesmo tempo, ele conhece Lise, que rejeita os seus
avanços inicialmente, mas lá vai cedendo. O que não lhe diz é que tem namorado…
Henri! Coincidência das coincidências. Ambos estão, portanto, numa situação
semelhante: demasiado dependentes da segurança de terceiros.
O enredo não é original, estes
encontros e desencontros são forçados e os diálogos ficam-se pela mediania.
Agora, sempre que alguém abre as goelas ou mexe os pés, o filme ganha uma
vitalidade inigualável. A introdução de Lise, que Henri descreve com
características contraditórias, é uma explosão de cor e música, o delírio de
Adam, que se imagina capaz de se multiplicar numa orquestra em concerto, é absurdo
e hilariante e o ballet dos últimos 20 minutos nem precisa de palavras,
rivalizando com o medley de Singin’ In The Rain para sequência musical mais
elaborada da história do cinema. Kelly e o compositor Gershwin são as estrelas.
8/10
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