Foi recentemente enterrada mais
uma publicação portuguesa de cinema, a Empire, depois das duas vidas da
Premiere, do fim da versão papel da Magazine HD e da suspensão da Total Film.
Quando há não muitos anos se podiam encontrar nada mais nada menos que quatro
revistas da área nos escaparates, neste momento esse número foi reduzido a…
zero. Num país onde a tradição da sétima arte nunca foi dominante, o excesso de
oferta parecia óbvio, especialmente analisando o conteúdo: limitando-se a
competir entre si pelas novidades dos blockbusters de Hollywood, não podiam
resistir todas por muito tempo. Se o público português, no geral, nunca se
interessou o suficiente ao ponto de bater grandes recordes de audiências ou
apoiar obras nacionais com a mesma consistência que o fazem nas telenovelas,
era impossível que os concorrentes desta imprensa especializada fossem perdurar
como conseguem os jornais de futebol, por exemplo.
Talvez o cenário fosse diferente
se alguma tivesse optado por se diferenciar, dando mais destaque à história, a
géneros menos convencionais ou promovido eventos que a aproximassem do público
que gosta ao ponto de gastar aqueles 4€ todos os meses nas tabacarias. Quem
realmente se interessa por cinema quer ir além do óbvio, não se contenta com as
mesmas notícias e os mesmos protagonistas. Quem realmente se interessa por
cinema perde o interesse em revistas assim e o comum dos mortais não chega
sequer a folheá-las.
Claro que a ascensão das novas
tecnologias não facilita a tarefa e muitas impressoras têm os dias contados.
Não é só o facto de agora, por preços baixos, se ler no telemóvel, no tablet ou
no portátil as revistas e jornais de que gostamos, é também a facilidade com
que se obtém informação em sites que têm outras fontes de rendimento além do
contributo dos leitores e a multiplicação dos artigos de opinião amadora, que
conseguem satisfazer (raramente com o profissionalismo desejável, mas com
entusiasmo suficientemente captivante) as curiosidades e necessidades dos
cinéfilos mais ávidos.
Contudo, a sentença da Empire e
restantes foi a falta de meio-termo, porque nada substitui jornalismo
qualificado e de qualidade. Acredito que a descontinuação fosse o destino certo
do Ípsilon, caso se tornasse independente do Público e apenas sobre esta
vertente cultural, porque, apesar do conhecimento dos seus intervenientes e da
relevância das entrevistas e das reportagens que fazem, com habitual foco no
cinema de autor, torna-se maçador pela verborreia repetitiva e lacónica, por
norma negativa ao extremo, nas críticas. Resta perguntar: será assim tão
complicado criar e manter uma publicação abrangente (nem comercial, nem
pretensiosa), séria (que não exagere nas piadas em todas as legendas, mas que
não faça uma ida ao cinema assemelhar-se aos círculos do inferno de Dante) e
que dê vontade de ler do início ao fim?
Meu Deus !!!! Estou a tomar conhecimento neste momento da notícia... Eu até gostava do formato, comprava a Empire desde a edição número 1, esta revista passeou na minha mochila por mais de 3 anos e agora, o fim... É realmente triste, como é possível Portugal não ter uma única revista de cinema ?? Enfim, é ridículo...
ResponderEliminarÉ lamentável. O cinema parece estar a deixar de ser uma arte dominante para passar a ser uma arte periférica. Pode-se dizer que o mesmo terá acontecido com o teatro ou a pintura, a um certo nível. Mas o que a substitui? A televisão (finalmente, depois de décadas de ameaça). É a televisão um meio artístico? Questões para outro texto :P
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