sexta-feira, 4 de julho de 2014

O Fim do Cinema

Foi recentemente enterrada mais uma publicação portuguesa de cinema, a Empire, depois das duas vidas da Premiere, do fim da versão papel da Magazine HD e da suspensão da Total Film. Quando há não muitos anos se podiam encontrar nada mais nada menos que quatro revistas da área nos escaparates, neste momento esse número foi reduzido a… zero. Num país onde a tradição da sétima arte nunca foi dominante, o excesso de oferta parecia óbvio, especialmente analisando o conteúdo: limitando-se a competir entre si pelas novidades dos blockbusters de Hollywood, não podiam resistir todas por muito tempo. Se o público português, no geral, nunca se interessou o suficiente ao ponto de bater grandes recordes de audiências ou apoiar obras nacionais com a mesma consistência que o fazem nas telenovelas, era impossível que os concorrentes desta imprensa especializada fossem perdurar como conseguem os jornais de futebol, por exemplo.

Talvez o cenário fosse diferente se alguma tivesse optado por se diferenciar, dando mais destaque à história, a géneros menos convencionais ou promovido eventos que a aproximassem do público que gosta ao ponto de gastar aqueles 4€ todos os meses nas tabacarias. Quem realmente se interessa por cinema quer ir além do óbvio, não se contenta com as mesmas notícias e os mesmos protagonistas. Quem realmente se interessa por cinema perde o interesse em revistas assim e o comum dos mortais não chega sequer a folheá-las.

Claro que a ascensão das novas tecnologias não facilita a tarefa e muitas impressoras têm os dias contados. Não é só o facto de agora, por preços baixos, se ler no telemóvel, no tablet ou no portátil as revistas e jornais de que gostamos, é também a facilidade com que se obtém informação em sites que têm outras fontes de rendimento além do contributo dos leitores e a multiplicação dos artigos de opinião amadora, que conseguem satisfazer (raramente com o profissionalismo desejável, mas com entusiasmo suficientemente captivante) as curiosidades e necessidades dos cinéfilos mais ávidos.

Contudo, a sentença da Empire e restantes foi a falta de meio-termo, porque nada substitui jornalismo qualificado e de qualidade. Acredito que a descontinuação fosse o destino certo do Ípsilon, caso se tornasse independente do Público e apenas sobre esta vertente cultural, porque, apesar do conhecimento dos seus intervenientes e da relevância das entrevistas e das reportagens que fazem, com habitual foco no cinema de autor, torna-se maçador pela verborreia repetitiva e lacónica, por norma negativa ao extremo, nas críticas. Resta perguntar: será assim tão complicado criar e manter uma publicação abrangente (nem comercial, nem pretensiosa), séria (que não exagere nas piadas em todas as legendas, mas que não faça uma ida ao cinema assemelhar-se aos círculos do inferno de Dante) e que dê vontade de ler do início ao fim?

2 comentários:

  1. Meu Deus !!!! Estou a tomar conhecimento neste momento da notícia... Eu até gostava do formato, comprava a Empire desde a edição número 1, esta revista passeou na minha mochila por mais de 3 anos e agora, o fim... É realmente triste, como é possível Portugal não ter uma única revista de cinema ?? Enfim, é ridículo...

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    1. É lamentável. O cinema parece estar a deixar de ser uma arte dominante para passar a ser uma arte periférica. Pode-se dizer que o mesmo terá acontecido com o teatro ou a pintura, a um certo nível. Mas o que a substitui? A televisão (finalmente, depois de décadas de ameaça). É a televisão um meio artístico? Questões para outro texto :P

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