2012 não é um ano de boa colheita
para filmes de limousines. Claro que isso não é um género por si só, mas a
ligação é fácil de fazer quando os famosos carros de luxo tomam o palco
principal ao mesmo tempo em Cosmopolis e Holy Motors, que se estrearam em
Portugal com poucos meses de intervalo. Para Cronenberg, servem de metáfora
para as discrepâncias económicas alimentadas pelo capitalismo feroz, que ameaça
cavar um fosso cada vez maior entre o 1% mais rico da população ocidental e os
restantes 99%; somos guiados por uma viagem delirante, com conteúdo, ainda que
extremamente mal desenvolvido.
Se me perguntarem porque é que
Carax se deixa fascinar pelo mesmo veículo no contexto de Holy Motors, não sei
que responder. Aparentemente, serve apenas para transportar Oscar (Denis
Lavant) de um lado para outro com a sua infindável carga de roupa e
maquilhagem. Se fosse uma Ford Transit faria o mesmo sentido, mas seria
ligeiramente menos glamoroso, suponho. Pelo menos neste aspecto há que ser consistente,
quando se pede a Eva Mendes (que nem diz uma palavra) e à cidade de Paris
emprestada a sua beleza não se pode filmar como se estivéssemos na Feira de Custóias.
Há momentos que fazem suspirar
pelo romantismo impulsivo de The Lovers On The Bridge, mais pelas travessias
sobre o Sena à noite, com a Torre Eiffel de fundo, do que por qualquer relação
estabelecida no ecrã, já que tal nunca acontece. Kylie Minogue aparece como uma
figura do passado de Oscar, mas apenas para, do nada, lhe cantar uma música e
suicidar-se antes que alguém se interesse minimamente pelo seu destino. O
próprio realizador parece nostálgico por outros tempos, porque pontua este
puzzle escatófago com planos da Pont Neuf. Infelizmente, fica-se por aí.
Oscar vai de compromisso em compromisso
e Lavant tem carta-branca para se mascarar quantas vezes quiser. Talvez Holy
Motors seja um filme (ou vários) dentro dum filme, sobre um actor camaleónico e
electrizante sem vida própria e em crise existencial, só que esta estrutura
episódica apenas se presta à irrelevância e pouco mais fica para além da
bizarria, regra geral, imperscrutável. Ah, e, só por curiosidade, as limousines
falam quando não há condutores com máscaras impessoais por perto. Carax passa
de uma referência a Eyes Without A Face para outra a Toy Story com a suavidade
de um ralador na barba.
2/10
De acordo. Abraço!
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