quinta-feira, 17 de julho de 2014

Holy Motors (Leos Carax, 2012)

2012 não é um ano de boa colheita para filmes de limousines. Claro que isso não é um género por si só, mas a ligação é fácil de fazer quando os famosos carros de luxo tomam o palco principal ao mesmo tempo em Cosmopolis e Holy Motors, que se estrearam em Portugal com poucos meses de intervalo. Para Cronenberg, servem de metáfora para as discrepâncias económicas alimentadas pelo capitalismo feroz, que ameaça cavar um fosso cada vez maior entre o 1% mais rico da população ocidental e os restantes 99%; somos guiados por uma viagem delirante, com conteúdo, ainda que extremamente mal desenvolvido.

Se me perguntarem porque é que Carax se deixa fascinar pelo mesmo veículo no contexto de Holy Motors, não sei que responder. Aparentemente, serve apenas para transportar Oscar (Denis Lavant) de um lado para outro com a sua infindável carga de roupa e maquilhagem. Se fosse uma Ford Transit faria o mesmo sentido, mas seria ligeiramente menos glamoroso, suponho. Pelo menos neste aspecto há que ser consistente, quando se pede a Eva Mendes (que nem diz uma palavra) e à cidade de Paris emprestada a sua beleza não se pode filmar como se estivéssemos na Feira de Custóias.

Há momentos que fazem suspirar pelo romantismo impulsivo de The Lovers On The Bridge, mais pelas travessias sobre o Sena à noite, com a Torre Eiffel de fundo, do que por qualquer relação estabelecida no ecrã, já que tal nunca acontece. Kylie Minogue aparece como uma figura do passado de Oscar, mas apenas para, do nada, lhe cantar uma música e suicidar-se antes que alguém se interesse minimamente pelo seu destino. O próprio realizador parece nostálgico por outros tempos, porque pontua este puzzle escatófago com planos da Pont Neuf. Infelizmente, fica-se por aí.

Oscar vai de compromisso em compromisso e Lavant tem carta-branca para se mascarar quantas vezes quiser. Talvez Holy Motors seja um filme (ou vários) dentro dum filme, sobre um actor camaleónico e electrizante sem vida própria e em crise existencial, só que esta estrutura episódica apenas se presta à irrelevância e pouco mais fica para além da bizarria, regra geral, imperscrutável. Ah, e, só por curiosidade, as limousines falam quando não há condutores com máscaras impessoais por perto. Carax passa de uma referência a Eyes Without A Face para outra a Toy Story com a suavidade de um ralador na barba.

2/10

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