De todos os realizadores clássicos de Hollywood, Howard Hawks deve ter o
pior rácio popularidade/nomeações para o Óscar de Melhor Realizador. Não que
isso seja o derradeiro indicador de qualidade, mas talvez não seja um facto
completamente descabido. Os argumentos brilhantemente intrincados e o tom
sarcástico dos seus melhores filmes eram elegantes e irresistíveis, fosse qual
fosse o género escolhido (e Hawks fez um pouco de tudo, de westerns a noir a filmes de gangsters), mas, em termos técnicos, sempre me pareceram jogar
demasiado pelo seguro, com pouca originalidade e uma maçuda repetição de planos
médios. Os diálogos, os actores e a entrega dos primeiros pelos segundos
dominam a mise-en-scène, às vezes de forma opressiva, como é o caso em Bringing
Up Baby.
Cary Grant e Katherine Hepburn são estrelas intemporais e com uma química
inabalável como o paleontologista David Huxley e a socialite Susan Vance,
respectivamente, e fazem uso da vasta gama de caretas e trejeitos cómicos de
que dispõem nos seus reportórios para ilustrarem a forma como as suas personagens,
ele mais empertigado, ela mais despassarada, reagem aos gags que se sucedem um
a seguir a outro. Susan recebeu um leopardo do irmão pelo correio que tem de
entregar à tia, por sinal a milionária que está indecisa sobre se irá doar ou
não dinheiro ao museu onde David trabalha. Confessa-se apaixonada à primeira
vista e improvisa formas de o manter por perto, o que é uma boa decisão, porque
ele é facilmente manipulável ou talvez esteja intimamente desanimado com o seu
noivado com outra.
Chega a ser algo patético a forma como David se deixa levar por uma mulher
tão claramente incompatível com o seu carácter (claro que no fim ficam juntos),
mas esta noção de polos opostos a atraírem-se não é nova no cinema de Hawks, sendo
mesmo uma das suas maiores forças; o pior é a incessante barulheira. O filme
tem piadas que são prolongadas até ao fim do mundo, lidas a velocidades
supersónicas e sensivelmente ao volume de um martelo pneumático em
funcionamento. A cena pivô na prisão é o exemplo claro de uma ideia decente levada
ao extremo. Claro que tudo isto é caricatural, mas perde o interesse mesmo
nesse contexto. O rendimento dos actores é ofuscado pela pouca personalidade de
Hawks enquanto realizador. Escusado será dizer que, mais uma vez, não mereceu a
consideração da Academia...
5/10
Hawks não sendo propriamente um realizador que admiro (as razões são um pouco na linha do que dizes), tão pouco o descredibilizo tanto, sobretudo neste filme, em que a componente cómica, narrativa e interpretativa estão em grande forma. Pelo que, em geral, discordo de ti quanto ao filme, mas concordo contigo quanto ao Hawks. Apesar tudo, tenho lido em muito sítio que o realizador é uma espécie de redescoberta a cada nova revisão que fazemos dos seus filmes, pelo que continuo na defensiva sempre que o cito.
ResponderEliminarCumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo
Talvez; seja como for, acho que, mesmo não gostando muito de Hawks, o His Girl Friday está muitos furos acima deste. Já viste?
EliminarJá vi já. Sim é capaz de ser melhor, His Girl Friday é até, para muitos, a melhor comédia daquele período de Hollywood. Mas de Hawks, prefiro os seus westerns (Rio Bravo, Red River,...).
ResponderEliminarCumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo
Top20, talvez :P Enfim, seja como for, o que interessa é que o Cary Grant é o maior :)
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