terça-feira, 13 de novembro de 2012

The Dictator (Larry Charles, 2012)


Sasha Baron Cohen não é conhecido pela sua subtileza e, sob essa perspectiva, The Dictator não desaponta. Depois de Ali G, Borat e Brüno, tudo personagens anteriormente em destaque no programa televisivo Da Ali G Show que tiveram direito a filmes próprios, o Almirante General Aladeen, líder supremo da ficcional República de Wadiya, é a primeira instância de um veículo primariamente cinematográfico na carreira do cómico britânico. Perdido está o estilo documental escolhido para adornar os seus dois últimos argumentos, adequado para seguir as aventuras e desventuras de um ingénuo jornalista cazaque obcecado com Pamela Anderson ou de um extravagante repórter austríaco pelo mundo da moda, mas que não faria tanto sentido na presença de uma história menos episódica e mais convencional (mas nem por isso menos atrevida) como a de The Dictator.

Depois de uma introdução inicial hilariante em jeito de biografia da personagem principal, que inclui uma entrevista com Larry King sobre um suposto programa atómico (não sei porquê, parece-me familiar) e um vislumbre da Plaza de España de Sevilha transformada num palácio presidencial no meio do deserto com cúpulas islâmicas nas torres, percebemos que as Nações Unidas acabam de ameaçar Aladeen com acções militares caso este não desista, de uma vez por todas, de querer desenvolver bombas atómicas. Determinado a fazer vencer a sua vontade no mundo como faz no seu país natal, viaja para Nova Iorque, onde é vítima de uma conspiração destinada a derrubá-lo e a empossar o seu tio Tamir (Ben Kingsley, sempre a manter a posse de estadista que falta ao sobrinho barbudo). Seria o fim da tirania e o início da democracia na nação africana, uma heresia que tem de ser travada, pois o povo de Wadiya adora ser oprimido.

Perdido numa terra estranha, Aladeen é obrigado pelas circunstâncias a misturar-se, a ser menos racista, a ser menos sexista, a confiar em terceiros, a trabalhar, no fundo a confrontar a sua própria solidão e ridicularia: é um homem que toda a vida teve tudo o que queria, todos os caprichos atendidos, mas sem alguém para amar, e é um líder respeitado apenas superficialmente, adorado como um ídolo falso, arauto da ameaça e do medo. Aliás, o seu distanciamento da realidade é tal que se reflecte não só numa evidente falta de compreensão da vida dos seus súbditos como até na aparente dificuldade de processar o conceito de morte, por exemplo. Aladeen e Borat estão unidos pela extrema ingenuidade, a diferença sendo que o primeiro parece muito mais perigoso e ambíguo pelo poder que tem e pelas questões sociais e geopolíticas a que alude.

Espaço para a sátira é o que separa The Dictator dos três filmes anteriores com Cohen como protagonista. Do seu talento enquanto actor nunca houveram grandes dúvidas. Do seu timing cómico e capacidade de chocar muito menos. No entanto, sempre me perguntei se alguma vez conseguiria dar substrato às suas piadas e deixar de ser excessivo sem propósito. O discurso que pretende realçar as diferenças entre Wadiya e os EUA mas que acaba por os aproximar ("imaginem se a América fosse uma ditadura: podiam deixar 1% das pessoas ter toda a riqueza, podiam ignorar as necessidades dos pobres (...), podiam torturar prisioneiros estrangeiros") é magistral em provar que sim. Claro que não deixamos de ter linhas com contornos ofensivos ("vais ter um menino ou um aborto?") e cenas de humor duvidoso (o general e a sua apaixonada a trocarem olhares enquanto realizam um parto vem-me à mente), é impossível seguir Cohen por todos os caminhos que ele escolhe, mas não escondo o sentimento de satisfação pela sua descoberta de mais equilíbrio e sagacidade. Ganham também com isso o filme e o espectador.

7/10

IMDb 

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