Veronika
Decide Morrer é talvez, a par de O Alquimista, o livro mais famoso de Paulo
Coelho, o escritor brasileiro que para uns encontra na espiritualidade resoluções
para sentimentos como o medo e o amor, e para outros apela à pieguice através
de charlatanismo. Sarah Michelle Gellar assume o papel principal de uma jovem
que não consegue deixar de estar permanentemente insatisfeita, se não com o
rumo que a sua vida tomou, então com o rumo que a sua vida pode tomar. Há
pessoas assim, que nem recebendo todo o dinheiro, toda a beleza, todo o carinho
do mundo deixam de ter pena de si próprias. Por vezes, estes casos
justificam-se com questões pessoais de fundo há muito enterradas ou com
distúrbios mentais, que os tornam merecedores de simpatia e compreensão.
Lembro-me de Face To Face de Ingmar Bergman, um filme verdadeiramente visceral
e envolvente sobre esta situação.
Veronika
Decides To Die não chega tão longe, limitando-se a uma superficial procura de
significado existencial, partindo da ideia sufista (a corrente mais
contemplativa do Islão) de que todos somos um bocadinho loucos, simplesmente
alguns perdem o controlo, para chegar à ideia de que a forma de lidar com um
pessimista é fazê-lo crer que o pior está a acontecer e rezar para que tenha
sido manipulado o suficiente para começar a ver o melhor em tudo. Há muitas más
concepções sobre os procedimentos psiquiátricos aqui, porque enfermeiros
agarrarem à força um paciente que mostra espontaneamente os primeiros sinais de
melhoria, apenas falando pela primeira vez ao fim de muito tempo internado, é
uma distorção da realidade, mas com a música certa torna-se um belo momento
dramático; a história é fina e incongruências destas são formas baratas de
sentimentalismo. Não quer dizer que não hajam cenas genuinamente tocantes,
lembro-me da visita dos pais de Veronika na instituição para a qual é enviada
depois da sua overdose voluntária de medicamentos, no entanto até essas sofrem
quase sempre com maus diálogos, má direcção de actores ou de prolongamento
desnecessário.
A
componente mais romântica, em que o relacionamento com um catatónico a faz
reavaliar a sua existência e o transforma no namorado perfeito sem grande
explicação, também não sai ilesa. Há pouca noção de ritmo, o que, associado a
uma realização que se limita a movimentos aleatórios, a focar só o que está em
primeiro plano, entre outros truques que acabam por não fazer transparecer a
claustrofobia, proximidade e desgraça iminente que se calhar se pretendia, estende
um manto de mediocridade sobre o filme. Eu não deixo de gostar da Sarah
Michelle Gellar e de achar que o seu esforço enquanto protagonista é mais que
satisfatório, para não falar de Melissa Leo e Erika Christensen, também elas residentes
na instituição, e agradeço aos argumentistas a redução ao essencial do misticismo
frequentemente parolo de Paulo Coelho, mas o material de origem já não é,
digamos, muito eloquente, e a execução de Emily Young não o eleva a outro
nível.
5/10
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