Esta pequena pérola de 1993 tem a distinção de juntar Elijah
Wood e Macaulay Culkin muito antes das aventuras por Mordor do primeiro e das
desventuras com drogas do segundo. Apesar de ambos terem já, por esta altura,
uma carreira algures entre o muito positivo e a fama estrondosa, a memória
colectiva de The Good Son é difusa e largamente inferior quando comparada com
Home Alone ou Radio Flyer, constatação facilmente justificável com o pouco
apelativo (por muito comercial que o produto seja) grau de vilificação de uma
das crianças.
Psicologia infantil não é um assunto estranho a Ian McEwan –
o escritor inglês granjeava sucesso há 15 anos quando escreveu este argumento,
e, para quem já leu The Cement Garden (1978) ou The Child In Time (1987), a
inovação que se pode encontrar aqui (e que deve ser apreciada por todos) é a multitude
de perspectivas sobre as acções e pensamentos de tanto Mark como Henry.
Vemo-los como os adultos que os rodeiam os vêem e como eles se vêem um ao outro
em simultâneo, surgindo assim conflitos entre o combate e a incredulidade
perante uma óbvia fonte de instabilidade.
Lembro-me de um fedelho que chateava tudo e todos no recreio
da minha primária mas ia correr a fazer queixinhas às auxiliares quando provava
do seu próprio veneno e do filho dum primo em 3º grau ou algo do género que
nunca levou as palmadas que devia por me desligar várias vezes a Mega Drive em
pleno jogo; passando à frente essas frustrações próprias da meninice e falando
honestamente, as crianças conseguem ser cínicas e o potencial sociopata da
personagem de Culkin extrapola-o, para nos desafiar com a relatividade da
inocência.
Um dos meus momentos cinemáticos preferidos de todos os
tempos é quando o jovem de Come And See (Elem Klimov, 1985), um filme sobre a
destruidora passagem nazi pela Bielorrúsia (eu prometo uma boa conclusão para
esta analogia), dispara contra uma fotografia de Hitler que, depois de várias
montagens anti-cronológicas, se transforma num bebé ao colo da mãe, dentro da
moldura – esta é a grande implicação, o mal pode ser adquirido, mas poderá
também ser genético? Pode alguém ser reles por natureza? Se pudéssemos,
mataríamos um assassino antes de ele matar? Quanto antes?
Aqui podemos discutir a irresponsabilidade do final em The
Good Son: apesar da forma vertiginosa como é filmado e que faria Hitchcock
corar com ciúmes, somos forçados a aceitar uma escolha, quando toda a premissa
se baseava na ambiguidade da transformação de uma figura frágil num monstro sem
escrúpulos. Hollywood vulgar e simplista. A história não deixa de ser
ocasionalmente subdesenvolvida, havendo pouca consideração pela transição entre
cenas, mas merecia melhor destino, por todos os riscos que corre e por nos
lembrar de que as aparências iludem – e de que maneira.
6/10
Eu conheci este filme pela crítica do Doug Walker, aconselho, é hilariante! :)
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=YEfYaNgEagQ
Lolol, está muito bom! Acho que é um bom complemento à minha crítica xD
EliminarFoi um filme produzido para o então astro mirim Macaulay Culkin, mas quem mostrou talento foi Elijah Wood.
ResponderEliminarAbraço