domingo, 20 de outubro de 2013

The Good Son (Joseph Ruben, 1993)

Esta pequena pérola de 1993 tem a distinção de juntar Elijah Wood e Macaulay Culkin muito antes das aventuras por Mordor do primeiro e das desventuras com drogas do segundo. Apesar de ambos terem já, por esta altura, uma carreira algures entre o muito positivo e a fama estrondosa, a memória colectiva de The Good Son é difusa e largamente inferior quando comparada com Home Alone ou Radio Flyer, constatação facilmente justificável com o pouco apelativo (por muito comercial que o produto seja) grau de vilificação de uma das crianças.

Psicologia infantil não é um assunto estranho a Ian McEwan – o escritor inglês granjeava sucesso há 15 anos quando escreveu este argumento, e, para quem já leu The Cement Garden (1978) ou The Child In Time (1987), a inovação que se pode encontrar aqui (e que deve ser apreciada por todos) é a multitude de perspectivas sobre as acções e pensamentos de tanto Mark como Henry. Vemo-los como os adultos que os rodeiam os vêem e como eles se vêem um ao outro em simultâneo, surgindo assim conflitos entre o combate e a incredulidade perante uma óbvia fonte de instabilidade.

Lembro-me de um fedelho que chateava tudo e todos no recreio da minha primária mas ia correr a fazer queixinhas às auxiliares quando provava do seu próprio veneno e do filho dum primo em 3º grau ou algo do género que nunca levou as palmadas que devia por me desligar várias vezes a Mega Drive em pleno jogo; passando à frente essas frustrações próprias da meninice e falando honestamente, as crianças conseguem ser cínicas e o potencial sociopata da personagem de Culkin extrapola-o, para nos desafiar com a relatividade da inocência.

Um dos meus momentos cinemáticos preferidos de todos os tempos é quando o jovem de Come And See (Elem Klimov, 1985), um filme sobre a destruidora passagem nazi pela Bielorrúsia (eu prometo uma boa conclusão para esta analogia), dispara contra uma fotografia de Hitler que, depois de várias montagens anti-cronológicas, se transforma num bebé ao colo da mãe, dentro da moldura – esta é a grande implicação, o mal pode ser adquirido, mas poderá também ser genético? Pode alguém ser reles por natureza? Se pudéssemos, mataríamos um assassino antes de ele matar? Quanto antes?

Aqui podemos discutir a irresponsabilidade do final em The Good Son: apesar da forma vertiginosa como é filmado e que faria Hitchcock corar com ciúmes, somos forçados a aceitar uma escolha, quando toda a premissa se baseava na ambiguidade da transformação de uma figura frágil num monstro sem escrúpulos. Hollywood vulgar e simplista. A história não deixa de ser ocasionalmente subdesenvolvida, havendo pouca consideração pela transição entre cenas, mas merecia melhor destino, por todos os riscos que corre e por nos lembrar de que as aparências iludem – e de que maneira.

6/10

3 comentários:

  1. Eu conheci este filme pela crítica do Doug Walker, aconselho, é hilariante! :)

    http://www.youtube.com/watch?v=YEfYaNgEagQ

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    1. Lolol, está muito bom! Acho que é um bom complemento à minha crítica xD

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  2. Foi um filme produzido para o então astro mirim Macaulay Culkin, mas quem mostrou talento foi Elijah Wood.

    Abraço

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