À cabeça, um aviso: para quem já se
aborreceu com os anteriores da Sofia Coppola é impossível aturar este filme.
Não digo que seja mais vagaroso que Lost In Translation ou mais derivante que
Marie Antoinette, mas o estilo é o mesmo, liderado por raparigas dengosas, composto
por visuais poéticos e banda sonora pop ocasionalmente invasiva e preocupado
com o voyeurismo e a exposição social. Pode ser impossível de aturar… ou
completamente hipnotizante.
De facto, esta história verídica
de um grupo de raparigas do secundário que, fascinadas com o culto das
celebridades (moda que infelizmente está a ser exportada dos EUA para todo o
mundo, promovendo-se gente que tem fama de ser famosa e zero de talento ou QI),
encetam uma série de arrombamentos e roubos às casas de Paris Hilton, Orlando
Bloom, entre outros, é uma bela tela da experiência da adolescência, focada em
comportamentos muito específicos da sociedade actual.
Aproximado a The Virgin Suicides
pelas próprias idiossincrasias da realizadora e simultaneamente separado por um
tom tão crítico quanto compreensivo, The Bling Ring é, assim, o seu trabalho
mais maduro – vai além de uma certa fantasia da juventude, conserva alguma frieza,
não se deixa levar pela melancolia e assume ter consciência de que a puberdade acarreta
inevitavelmente erros e más decisões, mas não é desculpa para a criminalidade.
Muito menos quando é protagonizada
por pitas sem nada na cabeça. Por falar nisso, grandes interpretações da
Katie Chang e da Emma Watson. É fácil desvalorizar o esforço das actrizes porque
os papéis requerem alguma indolência aparente e beleza física, mas a verdade é
que, conscientemente, replicam a inconsciência da superficialidade (Watson com excelentes
laivos cómicos) que Coppola identifica num grupo materialista e manipulador,
alheio a conceitos como privacidade e retórica.
Não vivem sem a validação da
diversão imediata e do contacto permanente possibilitado pelas novas
tecnologias, por outro lado parecendo incapazes de estabelecer relações com
significado. Todos tentam ser iguais uns aos outros, querem as mesmas roupas, tablets
e jóias, preferencialmente sem terem de se esforçar para os merecerem. Quanto
aos pais, não transmitem valores de família ou de compromisso e educam os
filhos segundo O Segredo, libertando-os apenas à noite…
A perfeição atinge-se com o longo
plano do assalto à casa de Audrina Patridge (quem? não faço a mínima), filmado
de muito longe. Sim, é o filme mais distante da Sofia Coppola. Aliás, pela
primeira vez, ela parece não se identificar com as personagens, não há a aura
de crise existencial de Lost In Translation ou Somewhere. Marie Antoinette era confusa
porque estava presa ao palácio. Este gangue procura a vacuidade e essa inversão
de papéis torna The Bling Ring singular.
8/10
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