Não é difícil aceitar que Jimmy
Stewart tenha sido um dos mais amados actores da Hollywood clássica. Esguio,
naturalmente simpático e com uma pronúncia muito peculiar, figurou em alguns
dos mais populares filmes dos anos 30, 40 e 50, maioritariamente como o bom da
fita, e é natural tomar o seu lado, por exemplo, em You Can’t Take It With You,
Mr. Smith Goes To Washington ou It’s A Wonderful Life, as suas três
colaborações com Frank Capra.
Na primeira é Tony Kirby, o filho
único de um grande banqueiro prestes a concluir um grande negócio, que
levará o seu principal concorrente na área do investimento em armamento à
falência. Para tal, falta-lhe expropriar uma casa, onde, coincidentemente, mora a
estenógrafa do jovem, Alice, por quem está apaixonado. Claro que a mamã e o papá Kirby não
aprovam o namoro (prestes a evoluir para um noivado) devido às diferenças de
estatuto, ainda que a rapariga pareça atinada...
Ao contrário da sua família. Lionel
Barrymore é um avô adorável, mesmo não pagando impostos, mas há que considerar
que a vida parece fácil demais para quem ganha a vida a fazer o que quer, isto
é, a vender selos, e que habita com uma filha que escreve peças por diversão,
um genro que engenha fogo-de-artifício, outra neta, que só faz biscoitos e
dança terrivelmente (quem o diz é o seu professor), o esposo desta, que vende
doces, dois empregados full-time e DePinna (nem perguntem, é totalmente
irrelevante).
O filme tenta ser edificante ao
contrastar uma postura despreocupada e humanista com uma ambiciosa e alienante,
e podia sê-lo, como acontece noutros de Capra. Os Kirby são austeros e
elitistas, porém a família da noiva é mais infantil e irresponsável do que
captivante. Quando, por um mal-entendido, vão todos parar à cadeia, os segundos
parecem encarar a situação como se fosse uma brincadeira. Fico muito contente
que tenham centenas de amigos dispostos a ajudá-los, mas que cenário forçado…
Não consegui apreciar You Can’t
Take It With You num nível puramente alegórico e esse costuma ser o trunfo do
realizador. É injusto pedir algo tão fora de carácter, mas se o final fosse
Kirby a entrar no elevador, sem sabermos se ia subir para a reunião da
consagração ou descer para a rua, a dúvida teria sido adequada. Muito pode ser
dito sobre como não devemos deixar o dinheiro e o materialismo tomar conta de
nós, mas há formas mais sérias de o fazer. Valha-nos Jimmy Stewart (e Jean
Arthur, já agora).
5/10
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