domingo, 16 de fevereiro de 2014

You Can't Take It With You (Frank Capra, 1938)

Não é difícil aceitar que Jimmy Stewart tenha sido um dos mais amados actores da Hollywood clássica. Esguio, naturalmente simpático e com uma pronúncia muito peculiar, figurou em alguns dos mais populares filmes dos anos 30, 40 e 50, maioritariamente como o bom da fita, e é natural tomar o seu lado, por exemplo, em You Can’t Take It With You, Mr. Smith Goes To Washington ou It’s A Wonderful Life, as suas três colaborações com Frank Capra.

Na primeira é Tony Kirby, o filho único de um grande banqueiro prestes a concluir um grande negócio, que levará o seu principal concorrente na área do investimento em armamento à falência. Para tal, falta-lhe expropriar uma casa, onde, coincidentemente, mora a estenógrafa do jovem, Alice, por quem está apaixonado. Claro que a mamã e o papá Kirby não aprovam o namoro (prestes a evoluir para um noivado) devido às diferenças de estatuto, ainda que a rapariga pareça atinada...

Ao contrário da sua família. Lionel Barrymore é um avô adorável, mesmo não pagando impostos, mas há que considerar que a vida parece fácil demais para quem ganha a vida a fazer o que quer, isto é, a vender selos, e que habita com uma filha que escreve peças por diversão, um genro que engenha fogo-de-artifício, outra neta, que só faz biscoitos e dança terrivelmente (quem o diz é o seu professor), o esposo desta, que vende doces, dois empregados full-time e DePinna (nem perguntem, é totalmente irrelevante).

O filme tenta ser edificante ao contrastar uma postura despreocupada e humanista com uma ambiciosa e alienante, e podia sê-lo, como acontece noutros de Capra. Os Kirby são austeros e elitistas, porém a família da noiva é mais infantil e irresponsável do que captivante. Quando, por um mal-entendido, vão todos parar à cadeia, os segundos parecem encarar a situação como se fosse uma brincadeira. Fico muito contente que tenham centenas de amigos dispostos a ajudá-los, mas que cenário forçado…

Não consegui apreciar You Can’t Take It With You num nível puramente alegórico e esse costuma ser o trunfo do realizador. É injusto pedir algo tão fora de carácter, mas se o final fosse Kirby a entrar no elevador, sem sabermos se ia subir para a reunião da consagração ou descer para a rua, a dúvida teria sido adequada. Muito pode ser dito sobre como não devemos deixar o dinheiro e o materialismo tomar conta de nós, mas há formas mais sérias de o fazer. Valha-nos Jimmy Stewart (e Jean Arthur, já agora).

5/10

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