Diary Of A Mad Housewife é produto
do seu tempo, uma altura em que o dilema entre resignar-se à vida de dona de
casa da classe média-alta ou impor uma atitude activa face ao trabalho e de
partilha de responsabilidades era vincado, especialmente para um casal de
novos-ricos que se tentava inserir em determinados círculos, sentindo por isso
uma necessidade redobrada de ser conservador para ser aceite, ao invés de
aderir a modernices como a emancipação das mulheres. Para os Balser, tudo isto
é areia a mais para a sua camioneta.
Jonathan (Richard Benjamin) transforma-se (isto
se quisermos acreditar que não o era, apesar de o filme não dar espaço para
optimismos) num pretensioso irritante, daqueles que passa a vida a berrar pela
esposa em casa e que a abandona em festas só para dar duas de treta com um
famoso qualquer ou para lamber as botas a alguém com mais dinheiro do que ele.
Tina (Carrie Snodgress) deixa-se arrastar para um marasmo do qual não tem
coragem de abdicar, por ser minimamente confortável, não estabelecendo limites
com o marido nem sequer com as filhas, a quem está a dever uns tabefes nas trombas,
em vez de as encher de comida e roupas pirosas. Assim, faz o que sensatamente
se deve fazer na sua condição: comer, calar e… trair? Uma relação
extra-conjugal tem o efeito de despertar em Tina uma réstia de adrenalina, mas
não de amor-próprio ou confiança, não fosse a intenção do escritor George (o
primeiro papel de Frank Langella) única e simplesmente o sexo, como realça
repetidamente, quando ela está é primariamente carenciada a nível afectivo.
Em
Diary Of A Mad Housewife não há refúgios; a casa é um inferno, os eventos a que
os Balser vão roçam a tortura e mesmo a pequena hipótese que Tina tem para
saborear algum prazer, e pela qual corre riscos, se revela uma fonte de
humilhação. Apesar de ser um filme muito à anos 70, afinal temos um concerto de
Alice Cooper que acaba numa luta de almofadas, não deixa de ser bastante
sofisticado. A frieza e o cinismo que rodeiam a Mrs. Balser são difíceis de
engolir mas, com dois momentos finais anti-climáticos, ninguém nos pede para
desculpar ou compreender quem quer que seja. No fundo, que pode ser mais
deprimente que a indiferença?
7/10
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