sábado, 18 de outubro de 2014

Disconnect (Henry Alex Rubin, 2012)

Apesar da infinita quantidade de informação, histórias e audiovisual adicionados à internet diariamente, fazer um filme sobre este meio tem-se revelado mais difícil do que seria de antever. Ou serve de pano de fundo para thrillers banais (Untraceable), para comédias românticas sobre troca de emails e mensagens que uns anos antes teriam sido enviadas por correio (You’ve Got Mail) ou para ficção científica demasiado metafísica (Matrix); raramente se encontram personagens com conflitos verossímeis e que apenas existem porque as novas tecnologias têm as suas vantagens e desvantagens, e estão presentes nas nossas vidas de formas mais intrusivas e condicionantes do que às vezes pensamos. Disconnect é, apropriadamente, um mosaico, tal como as janelas no ecrã dum computador, abertas para paisagens diferentes de zeros e uns. Várias famílias são reunidas pelas circunstâncias do mundo moderno, em que tudo aparenta estar mais próximo, acessível e disponível, se descontarmos a maior distância emocional. Os Boyd negligenciam a educação dos filhos, presos à necessidade de manter o estatuto social através do trabalho e das aparências, ignorando o talento artístico de Ben, adolescente solitário que é manipulado por dois colegas com um perfil de Facebook feminino falso a tirar uma foto nú, que rapidamente se espalha pela escola, tornando-o alvo de chacota. Os Hull vêem o seu dinheiro usurpado sabe-se lá por quem, via informática, como se já não tivessem mais em que pensar depois da morte do seu bebé. Harvey oferece lar, comida e protecção paternal a menores sem rumo que se disponham a realizar actos sexuais em frente a webcams. O realizador/argumentista Rubin vai ligando todos estes (e mais) aos poucos e experiências reais e virtuais chocam. A desconexão do título é súmula do afastamento das personagens, mas também apelo ao estado offline, como quem diz “não se prendam aos computadores, tomem consciência do que vos rodeia e apreciem as pessoas que estão convosco”. Pouco dado aos virtuosismos de outros mosaicos recentes, que na ânsia de replicarem o sucesso de Magnolia costumam resvalar para um fascínio conceptual que abafa a mais simples emoção (The Nines, The Air I Breathe, Crossing Over, The Informers, etc.), Disconnect consegue ser negro, provocador e funcional.

8/10

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