Apesar da infinita quantidade de
informação, histórias e audiovisual adicionados à internet diariamente, fazer
um filme sobre este meio tem-se revelado mais difícil do que seria de antever.
Ou serve de pano de fundo para thrillers banais (Untraceable), para comédias
românticas sobre troca de emails e mensagens que uns anos antes teriam sido
enviadas por correio (You’ve Got Mail) ou para ficção científica demasiado
metafísica (Matrix); raramente se encontram personagens com conflitos
verossímeis e que apenas existem porque as novas tecnologias têm as suas
vantagens e desvantagens, e estão presentes nas nossas vidas de formas mais
intrusivas e condicionantes do que às vezes pensamos. Disconnect é,
apropriadamente, um mosaico, tal como as janelas no ecrã dum computador,
abertas para paisagens diferentes de zeros e uns. Várias famílias são reunidas
pelas circunstâncias do mundo moderno, em que tudo aparenta estar mais próximo,
acessível e disponível, se descontarmos a maior distância emocional. Os Boyd
negligenciam a educação dos filhos, presos à necessidade de manter o estatuto
social através do trabalho e das aparências, ignorando o talento artístico de
Ben, adolescente solitário que é manipulado por dois colegas com um perfil de
Facebook feminino falso a tirar uma foto nú, que rapidamente se espalha pela
escola, tornando-o alvo de chacota. Os Hull vêem o seu dinheiro usurpado
sabe-se lá por quem, via informática, como se já não tivessem mais em que
pensar depois da morte do seu bebé. Harvey oferece lar, comida e protecção
paternal a menores sem rumo que se disponham a realizar actos sexuais em frente
a webcams. O realizador/argumentista Rubin vai ligando todos estes (e mais) aos
poucos e experiências reais e virtuais chocam. A desconexão do título é súmula do
afastamento das personagens, mas também apelo ao estado offline, como quem diz
“não se prendam aos computadores, tomem consciência do que vos rodeia e
apreciem as pessoas que estão convosco”. Pouco dado aos virtuosismos de outros
mosaicos recentes, que na ânsia de replicarem o sucesso de Magnolia costumam
resvalar para um fascínio conceptual que abafa a mais simples emoção (The
Nines, The Air I Breathe, Crossing Over, The Informers, etc.), Disconnect
consegue ser negro, provocador e funcional.
8/10
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