terça-feira, 19 de novembro de 2013

Wings (William A. Wellman, 1927)

Wings detém a distinção de ter sido o primeiro vencedor do Óscar de Melhor Filme, o que por si só lhe garante um lugar nas memórias de Hollywood. A história de dois jovens da mesma terra, apaixonados pela mesma mulher, que se alistam na força aérea para combater alemães na Europa pode parecer familiar, ou não tivesse servido de inspiração para outro sucesso de bilheteira mais recente, Pearl Harbor (Michael Bay, 2001). Com mais ou menos pieguice, essa é uma prova de que o melodrama tem uma qualidade intemporal, mas felizmente há pontos de maior interesse para além de pequenas curiosidades.

Com efeito, a fotografia deste filme é incontornável – constatar que a gravação das mais complexas manobras da aviação de guerra imaginárias, a quilómetros de altitude, foi possível no ano em que finalmente se conseguia juntar som à imagem numa sala de montagem com os pés bem assentes na terra é surpreendente. Seria de esperar que a segunda fosse mais simples, mas as câmaras montadas nos cockpits e controladas à distância inventadas por William A. Wellman e o director de fotografia Harry Perry, usadas em cerca de trezentas horas de voo, proporcionam ainda hoje um excitante espectáculo de cinema mudo.

O realizador tinha apenas 29 anos quando foi escolhido pela Paramount, em grande parte devido à sua experiência como piloto durante a Primeira Guerra Mundial, e talvez se possa dizer que essa conjugação de factores tenha dado um empurrão essencial para uma carreira com personalidade vincada. O seu espírito desafiante e a sua sensibilidade contida provaram ser uma conjugação rara, dando origem a clássicos como The Ox-Bow Incident ou The Public Enemy, onde o perfeccionismo técnico não se separava de preocupações morais associadas à violência ou histórias de sobrevivência.

A paixão por voar e as dinâmicas de grupo masculinas ganham destaque com Wellman, pelo que Wings, apesar de ser mais uma encomenda do que um filme de autor, ficando patente que já em 1927 os triângulos amorosos e os efeitos visuais eram puxados para a linha da frente, tem, então, indelevelmente, a sua marca. Mesmo com a presença de Clara Bow, rainha do grande ecrã na altura, é mais interessante a amizade entre Jack e David, que acaba com um beijo de reconforto e admiração que certamente não passaria pelo Hayes Code, e as cenas de guerra, mais amplas e menos realistas que as de All Quiet On The Western Front em 1930.

7/10

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