quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

The Immigrant (James Gray, 2013)

Apesar dos 238 anos de independência dos EUA, há algo a ser dito sobre a população yankee se dividir mais em imigrantes e seus descendentes provenientes dos quatro cantos do mundo e que não esquecem as suas origens do que propriamente se unir em torno de uma identidade nacional singular. Quantas vezes, no cinema e na televisão, somos alertados para o facto de esta ou aquela figura ter cabelo ruivo e sardas porque os trisavós atravessaram o oceano Atlântico de barco a partir da Irlanda, dever o sufixo “ski” do apelido graças aos vários êxodos da Polónia ou ser não só americano, mas afro-americano?

Ellis Island tem, por isso, uma mística própria. Plantada na baía onde se encontram os rios Hudson e East, em frente a Manhattan, a pouca distância da Governors Island, onde se concentraram maioritariamente serviços administrativos e militares ao longo dos tempos, e da Liberty Island, onde se ergue destacada a Estátua da Liberdade, em que este filme começa por se focar logo nos primeiros segundos, por ser um símbolo de boas-vindas para quem vinha da Europa à procura de uma vida melhor, a Estação de Imigração lá construída foi o primeiro local que milhões de pessoas pisaram no país e é hoje um monumento nacional.

Ewa (Marion Cotillard) desembarca em 1921, sem noção de que vai atravessar quase todos os compartimentos da ilha, desde as filas de inspecção ao grande hall, passando pelas celas e o hospital, onde a irmã tuberculosa é imediatamente internada. Tendo como único contacto uns tios que lhe deram uma morada inválida, vá-se lá saber porquê (na realidade, vem-se mesmo a saber, e o motivo não é nada digno), ela vê-se longe de casa, só, abandonada e prestes a ser deportada, quando intervém Bruno (Joaquin Phoenix). O que faz é pouco claro de início. Nada é de borla e Ewa tem todo um historial de pouca sorte…

Extremamente carinhoso, ele vai arranjando pretextos para a manipular e a arrastar para um mundo de clubes eróticos e de prostituição. O estilo que começa por ser a fachada captivante de um fraudulento típico, com várias mulheres debaixo da sua alçada, vai ficando ameaçado pela atracção crescente que tem por Ewa e que gera nele um interessante conflito interior. Não lhe agrada vender o corpo da amada e muito menos mantê-la perto convencendo-a de que a está a ajudar da melhor maneira a pagar o tratamento e a alta hospitalar da irmã, mas como os seus sentimentos não são retribuídos, a situação arrasta-se.

Não tarda a aparecer um terceiro determinado a resolver este impasse. Emil (Jeremy Renner) é um ilusionista primo de Bruno que também se apaixona por Ewa e lhe tenta oferecer um futuro fora de Nova Iorque, talvez na Califórnia, a dois. As relações de família estão tensas há muitos anos e, como sabemos desde Gangs Of New York, a América teve uma infância violenta, pelo que vão rolar cabeças de certeza. The Immigrant não surpreende e acredito que o melhor de James Gray ainda está para vir. Contudo, o trio de protagonistas é de uma classe a toda a prova e a realização clássica dá ao filme um aspecto intemporal.

8/10

Sem comentários:

Enviar um comentário