Nunca mais será possível ver
qualquer filme em que o protagonista sofre com algum tipo de incapacidade
motora ou mental sem pensar num diálogo específico de Tropic Thunder entre as
personagens de Ben Stiller e Robert Downey Jr. no qual o segundo revela ao
primeiro uma lei básica de Hollywood: “never go full retard”. Por exemplo,
Dustin Hoffman em Rain Man parece atrasado, mas é autista, conseguindo
contar cartas e sacar dinheiro num casino. Óscar no papo. Tom Hanks em Forrest
Gump é lento, contudo ganha competições de ping pong e torna-se num herói de
guerra. Óscar instantâneo. Sean Penn em I Am Sam esforça-se imenso, porém
entrou em modo full retard. Mãos vazias.
A ideia tem a sua razão de ser,
há que admitir. A sorte está do lado de Eddie Redmayne no que diz respeito a
prémios individuais, pois com o papel de Stephen Hawking representa um
cientista brilhante com a desdita de lhe ser diagnosticada esclerose lateral
amiotrófica em 1963, a mesma doença neurodegenerativa que motivou o Ice Bucket
Challenge, para lhe dar um contexto mais moderno. Apesar de ser raro
manifestar-se na juventude, neste caso foi descoberta aos 21 anos e as melhores
perspectivas apontavam para uma esperança de vida inferior a dois anos. The
Theory Of Everything é de fazer chorar as pedras da calçada e ainda por cima é
uma biografia. Parece o isco perfeito.
Deixando de parte estes rótulos e
este cinismo em geral, a eficácia constante do drama histórico inglês é
inegável, tornando-se difícil ignorar a qualidade dos valores de produção e da
interpretação principal. Pela investigação no domínio da cosmologia, pela
preocupação em tornar compreensíveis para o público geral conceitos complexos
através do livro A Brief History Of Time e por ser um sobrevivente contra todas
as expectativas, Stephen Hawking ultrapassou a barreira do anonimato académico
para se transformar numa figura da cultura popular, a quem falta apenas um
prémio Nobel por as suas teorias físicas continuarem a carecer de provas
empíricas.
The Theory Of Everything aborda
um pouco esses três aspectos e, principalmente, a vida privada, marcada por uma
longa relação com Jane Wilde, aluna de humanidades (mais tarde professora) e católica praticante (facto
de relevo), que começa nos tempos da universidade e termina nos anos 90, ambos
embarcando em segundos casamentos. Casais que se apaixonam e vão perdendo a
chama mas nunca a admiração e o respeito mútuo deixam-me mais piegas do que
grandes mecanismos dramáticos como doenças devastadoras, confesso. Não há
dúvida de que Eddie Redmayne toma conta do recado. De resto, prevalece uma
falta de risco que se traduz em competência meio enfadonha.
7/10
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