A emigração é um fenómeno perene. As motivações podem
variar, ainda que tenham sempre como base a vontade/necessidade de procurar uma
situação melhor do que aquela que se deixa para trás. Enquanto na Europa se
adia uma resposta ao êxodo do mundo muçulmano que atola o Mediterrâneo de
embarcações precárias, na América extrema-se o debate sobre o crescente fluxo
de mexicanos através da fronteira sul. O potencial do cinema para refletir, e
até prever, questões sociais contemporâneas faz com que esta já venha a ser
abordada há alguns anos. Eden Is West (Costa-Gavras, 2009), Babel (Alexandro
Gonzalez Iñarritu, 2008) e The Visitor (Tom McCarthy, 2007) são exemplos.
Alguns países do velho continente que hoje empurram com a
barriga a iniciativa da procura de soluções realistas foram casas de partida
para milhões num passado não tão longínquo quanto isso. A Irlanda tem uma
relevância geográfica diminuta na recente crise de refugiados e estará a receber
4000 pessoas do médio oriente, mas pertence a uma união onde os movimentos nacionalistas
ressurgem com virulência. Na década de 1950, em que Brooklyn decorre, quase
50000 irlandeses trocaram a sua pátria pelos EUA. Claro que as diferenças
culturais num e noutro caso não têm as mesmas dimensões; de notar que Eilis
(Saoirse Ronan) é branca, católica, fala inglês e tem emprego certo do outro
lado o oceano…
A história é parca em conflitos. A Nova Iorque em que a
jovem desembarca não é o labirinto em calçada de Gangs Of New York (Martin
Scorsese, 2002) ou Far And Away (Ron Howard, 1992), antes a capital do mundo livre
no pós-guerra. Apesar de na sua terra natal a acusarem de egoísmo por deixar
para trás a irmã mais velha e a mãe, estas apoiam-na, visto a falta de
perspetivas de futuro ser evidente. Mantendo-se humilde, Eilis ultrapassa as
saudades aos poucos, recebe bons conselhos e acaba por conhecer um italiano com
quem pode contar para iniciar uma vida de amor e respeito. No fundo, é uma
sortuda, sem lhe tirar o mérito da coragem em emigrar sozinha. Isto até um
golpe do destino ironizar com o seu esforço de integração.
Acaba por lhe ser oferecida a possibilidade de ter na
Irlanda o que encontrou na América. Decidir entre o local que a viu nascer ou o
local que a acolheu é ingrato. Qual é a sua casa? A própria não sabe responder
e, na dúvida, segue em frente, escolhe as incertezas do desconhecido sobre a
saturação da zona de conforto. Brooklyn é um filme ligeiro com aquela contenção
britânica intemporal. Evita as analogias com o presente, mas, pelo tema, é
sintomático que esteja nomeado para três Óscares neste momento. Saoirse Ronan tem
liberdade total para exibir a sua maturidade e não falha uma nota. Sinceramente,
graças a estes olhos azuis até o The Host (Andrew Niccol, 2013) foi bom, por
isso nem valia a pena lerem esta crítica, bastava ver o nome dela no poster.
7/10
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