Cada vez que Ridley Scott regressa à ficção científica é
notícia. Não é para menos, afinal, para os mais distraídos, está-se a falar do
homem por detrás de Alien e Blade Runner, dois filmes seminais no género. Contudo,
nem o ambiente sufocante do início da saga de Ripley, nem o tom noir que
envolveu a procura por quatro replicantes através de uma Los Angeles debaixo de
noite e chuva perpétuas têm qualquer tipo de ressonância neste The Martian.
A história gira, como os planetas à volta do sol, em torno
de uma equipa de astronautas em visita a Marte que é surpreendida
por uma tempestade e tem de abandonar a superfície apressadamente.
Infelizmente, um deles, Mark Watney (Matt Damon), é atingido por uma antena que
se solta do habitáculo construído para apoio à expedição científica e fica para
trás, supostamente morto, dado o impacto que sofre, as más condições
atmosféricas e os dados vitais deficitários emitidos pelo fato.
Os restantes cinco membros da missão Ares III chegam sãos e
salvos à nave e iniciam uma longa viagem de volta à Terra. A verdade é que
Watney acorda no meio da areia, abandonado mas determinado a sobreviver. Com
residência já estabelecida, começa a dar uso ao treino intensivo que recebeu
para conseguir estabelecer comunicações, encontrar água e multiplicar os
mantimentos. Como não podia deixar de ser, era o botânico de serviço, o que é
muito conveniente para plantar batatas num ambiente adverso.
The Martian é um mashup de manual de sobrevivência com
viagens problemáticas no espaço; imaginem Cast Away e Apollo 13 a embaterem um
no outro como dois meteoritos. A interpretação de Matt Damon é também a soma
das interpretações de Tom Hanks nesses filmes, em especial no esforço em
transformar Watney num homem comum numa situação extraordinária. O humor
quotidiano ajuda a criar esse relacionamento e a aliviar a tensão.
Teria sido um erro apostar no dramatismo dos riscos corridos
pela NASA para recuperar o seu cientista, porque quando se tenta representar a
incerteza de meses em solidão forçada convém haver espaço para a história
respirar. Por isso acontecer, os momentos-chave acabam por ter a gravidade que
merecem. Win-win. Não são precisos romances lamechas para nos preocuparmos com
as pessoas que estão na tela nem elucubrações mirabolantes para atingir
relevância científica (tira notas, Nolan).
Auxiliado por sólidos atores, efeitos especiais, fotografia
e montagem, Ridley Scott realiza a sua incursão mais verosímil pelos meandros
do espaço e da tecnologia. Mesmo que seja duvidoso que o congresso americano
voltasse a gastar biliões para resgatar Matt Damon outra vez, os clássicos já
mencionados têm um carácter especulativo infinitamente mais vincado. A aposta
está ganha e quase arrisco a afirmar que é o melhor filme de Scott desde o
subestimado Kingdom Of Heaven. Já agora: o Sean Bean não morre.
8/10
"Perdido em Marte": 5*
ResponderEliminar"Perdido em Marte" é sem dúvida alguma um dos melhores filmes de 2015...
"The Martian" tem uma história arrebatadora e um brilhante elenco...
Cumprimentos Frederico Daniel...
PS, também pensei nisso acerca do Sean.