sábado, 6 de fevereiro de 2016

The Martian (Ridley Scott, 2015)

Cada vez que Ridley Scott regressa à ficção científica é notícia. Não é para menos, afinal, para os mais distraídos, está-se a falar do homem por detrás de Alien e Blade Runner, dois filmes seminais no género. Contudo, nem o ambiente sufocante do início da saga de Ripley, nem o tom noir que envolveu a procura por quatro replicantes através de uma Los Angeles debaixo de noite e chuva perpétuas têm qualquer tipo de ressonância neste The Martian.

A história gira, como os planetas à volta do sol, em torno de uma equipa de astronautas em visita a Marte que é surpreendida por uma tempestade e tem de abandonar a superfície apressadamente. Infelizmente, um deles, Mark Watney (Matt Damon), é atingido por uma antena que se solta do habitáculo construído para apoio à expedição científica e fica para trás, supostamente morto, dado o impacto que sofre, as más condições atmosféricas e os dados vitais deficitários emitidos pelo fato.

Os restantes cinco membros da missão Ares III chegam sãos e salvos à nave e iniciam uma longa viagem de volta à Terra. A verdade é que Watney acorda no meio da areia, abandonado mas determinado a sobreviver. Com residência já estabelecida, começa a dar uso ao treino intensivo que recebeu para conseguir estabelecer comunicações, encontrar água e multiplicar os mantimentos. Como não podia deixar de ser, era o botânico de serviço, o que é muito conveniente para plantar batatas num ambiente adverso.

The Martian é um mashup de manual de sobrevivência com viagens problemáticas no espaço; imaginem Cast Away e Apollo 13 a embaterem um no outro como dois meteoritos. A interpretação de Matt Damon é também a soma das interpretações de Tom Hanks nesses filmes, em especial no esforço em transformar Watney num homem comum numa situação extraordinária. O humor quotidiano ajuda a criar esse relacionamento e a aliviar a tensão.

Teria sido um erro apostar no dramatismo dos riscos corridos pela NASA para recuperar o seu cientista, porque quando se tenta representar a incerteza de meses em solidão forçada convém haver espaço para a história respirar. Por isso acontecer, os momentos-chave acabam por ter a gravidade que merecem. Win-win. Não são precisos romances lamechas para nos preocuparmos com as pessoas que estão na tela nem elucubrações mirabolantes para atingir relevância científica (tira notas, Nolan).

Auxiliado por sólidos atores, efeitos especiais, fotografia e montagem, Ridley Scott realiza a sua incursão mais verosímil pelos meandros do espaço e da tecnologia. Mesmo que seja duvidoso que o congresso americano voltasse a gastar biliões para resgatar Matt Damon outra vez, os clássicos já mencionados têm um carácter especulativo infinitamente mais vincado. A aposta está ganha e quase arrisco a afirmar que é o melhor filme de Scott desde o subestimado Kingdom Of Heaven. Já agora: o Sean Bean não morre.

8/10

1 comentário:

  1. "Perdido em Marte": 5*

    "Perdido em Marte" é sem dúvida alguma um dos melhores filmes de 2015...
    "The Martian" tem uma história arrebatadora e um brilhante elenco...

    Cumprimentos Frederico Daniel...
    PS, também pensei nisso acerca do Sean.

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