domingo, 30 de dezembro de 2012

2º Torneio Interblogues - Antevisão

O segundo Torneio Interblogues, levado a cabo pelo CINEdrio contará este ano com a presença d'O Narrador Subjectivo. Combinando cinema e futebol, esta iniciativa torna 8 críticos de bancada em treinadores de bancada, cada um com a sua equipa de realizadores, num mata-mata cujo resultado será determinado pela votação dos adeptos. Este blog apresentar-se-à em campo no primeiro jogo (precisamente contra o CINEdrio) com o único onze misto em competição, que podem conferir aqui:

Guarda-Redes: Sofia Coppola. A sua classe e compostura transmitem uma calma e uma segurança incomparáveis à linha defensiva.

Lateral Direito: Kim Ki-Duk. A sua solidez é um problema para os extremos mais atrevidos, que são sempre surpreendidos com um corte certeiro no momento em que julgavam estar prestes a escapar à marcação. Carácter silencioso, jogo severo.

Defesa Central: Gus Van Sant. Central conhecido pela técnica soberba, está constantemente alerta e em sintonia com o ambiente que o rodeia. Muito bom no ar.

Defesa Central: Bruno Dumont. Longe de ser o mais alto ou o mais veloz dos defesas, impõe-se pelo posicionamento preciso e pelo poder de antecipação. É capaz de moer a paciência ao mais recatado adversário e o seu trabalho sem bola passa despercebido até, qual líbero, salvar a sua baliza em cima da linha ou sacar um cabeceamento ao segundo poste que dá golo e pôr toda a gente a perguntar de onde é que terá aparecido.

Lateral Esquerdo: Andrea Arnold. Com um sentido de timing perfeito, esta lateral inglesa, apesar de primariamente defensiva, quando ataca é sempre com o pragmatismo que por vezes ajuda a decidir jogos na recta final.

Extremo Direito: Gaspar Noé. Às vezes criticado por ser demasiado brinca na areia, a sua velocidade e criatividade são inegáveis. Com diagonais que apanham qualquer defesa desprevenida, consegue deixar estádios de boca aberta.

Médio Defensivo: Jerzy Skolimowski. Afastado destas lides durante algum tempo, por vontade própria, o regresso de Skolimowski fez-se com a timidez que lhe é característica. Joga sempre limpo, está sempre no sítio certo à hora certa, e é o complemento perfeito para qualquer meio-campo cerebral de gestão de posse de bola. Muito subestimado.

Médio Ofensivo: Darren Aronofsky. É um jogador que enche o campo com a sua criatividade, nunca vai abaixo em momentos de grande tensão ou jogos de maior importância (aliás, encontra sempre forma de elevar a fasquia, mesmo quando já parece improvável alguém conseguir fazê-lo) e que impressiona pela velocidade de decisão; joga com a bola coladinha ao pé mesmo quando ultrapassa a barreira da luz em corrida. Com Skolimowski por trás, tem toda a liberdade ofensiva de que um verdadeiro número 10 gosta.

Extremo Esquerdo: Steve McQueen. Cruzamentos milimétricos e especialista das bolas paradas. Simplesmente letal, extremamente temido e imprevisível. Drulovic londrino.

Avançado-Centro: Lynne Ramsay. Avançado de trabalho cujo ritmo e visão de jogo estabelecem uma transição perfeita entre o número 10 e o ponta-de-lança, quando necessário. Sabe quando tem de vir atrás buscar jogo e acaba todas as épocas com quase tantas assistências quanto golos.

Ponta-de-Lança: George A. Romero. É aquele ponta-de-lança experiente que surpreende sempre pela capacidade de fugir à marcação seja de quem for. A sua longevidade tornam-no imparável, marcou uma era com o seu estilo único, já tem um legado - uma verdadeira lenda viva, respeitado por todos.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Lawless (John Hillcoat, 2012)


O quinto filme de John Hillcoat marca igualmente a sua terceira colaboração com Nick Cave. O músico australiano escreveu mais um argumento a transbordar de testosterona e violência para Lawless, apesar de, comparando com Ghosts Of The Civil Dead (1988) e The Proposition (2005), haver algum nível de romantismo envolvido, não só pela maior preponderância de figuras femininas, mas também pela aparente nostalgia por uma época na qual, obviamente, não viveu, de transição entre o velho oeste e os vícios das novas cidades.

Lawless é um western e um filme de gangsters ao mesmo tempo. Os sulistas são mais simples, menos expressivos e estão encarregues da parte menos glamorosa do tráfico de álcool no período da Lei Seca nos Estados Unidos: a sua produção. Os nortenhos vêm de Nova Iorque, Chicago e afins, com os fatos da moda, verborreias bem enfeitadas e assumem ou a comercialização ilegal dos líquidos proibidos ou o combate aos labregos sujos que não respeitam nada nem ninguém (pelo menos é assim que os vêem  por isso há que ser superior e… bater-lhes ou matá-los).

Percebendo que todos eles são criminosos à sua maneira, valorizar uns e vilificar outros pode sempre revelar-se infrutífero, mas é uma técnica antiga de Hollywood, que, não obstante, permeia grandes clássicos e resulta aqui pela mecânica entre os 3 irmãos Bondurant: juntos, tentam fazer pela vida com o que a terra que define a sua identidade lhes dá, ou seja, matéria-prima. Têm noções de família e honra que são ameaçadas mais pelo desprezo, sadismo e abuso de força das autoridades do que propriamente pela lei em si. Quando um contrafactor tem mais carácter e estaleca moral que um US Marshal, claro que vamos ficar do lado dos primeiros.

O filme joga habilmente com estes conflitos e só é pena que não consiga evitar dezenas clichés. O cenário é tão diferente dos filmes típicos sobre esta era, levando as guerras de território para o campo e dando a conhecer a realidade por detrás do império de homens como Al Capone e outros, mas a relação de Forrest, o mais velho, com Maggie, uma antiga dançarina farta da vida urbana, não passa do trivial, os diálogos mais profundos acabam por ficar deslocados quando se está tanto tempo a desenvolver personagens ríspidas e de poucas palavras e dá a impressão de que algumas cenas estão mal montadas. A qualidade do elenco vai amenizando estas imperfeições.

Dificilmente Hillcoat e Cave conseguiriam esculpir algo mais visceral que The Proposition, mas a decisão de adocicar esta história só não se revela completamente despropositada porque o amor jovem é sempre interessante e Shia LaBeouf e Mia Wasikowska têm bastante química juntos. A interpretação dele é especialmente captivante pela sua evolução, de irmão mais novo enfezado e curvado, que chora e pede misericórdia quando está a ser espancado, para assassino inconstante e sem papas na língua, preparado para assumir responsabilidades e puxar um gatilho.

A presença de Tom Hardy é imponente, e a cena em que é ferido com gravidade é a melhor. Por último, Guy Pearce volta a demonstrar a sua criatividade com Charlie Rakes, um niilista de sobrancelhas rapadas, pronto a violar mulheres e matar deficientes motores para chegar aos Bondurant. Fala de si na terceira pessoa e fica irritado quando o sangue dos pacóvios que esmurra suja as suas luvas colecção Outono/Inverno. Que fique claro - mesmo notando-se falta de rumo, Lawless não deixa de ser negro como a noite e um raro híbrido de géneros.

6/10

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

The Best Intentions (Bille August, 1992)

Uma música tão profunda, fria, simples, sofrida e certeira quanto o romance entre os pais de Ingmar Bergman, que é a base deste filme de Bille August, que trouxe à vida o argumento do mestre sueco, retirado há 10 anos depois de Fanny And Alexander. Sinceramente, gosto mais de The Best Intentions e acho curioso que Bergman tenha escolhido não fazer desta história o seu último filme...

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

TOP5: Natal

05. The Nightmare Before Christmas (Henry Selick, 1993)
O primeiro grande filme de animação stop-motion já tem quase 20 anos, mas continua a reter um charme e uma originalidade contagiantes. Henry Selick conhecera Tim Burton anos antes, quando ambos trabalhavam na Disney, e com o seu apoio deu vida a este pequeno delírio musical sobre um bizarro esqueleto, habitante em Halloweentown, que tenta perceber o conceito do Natal.

04. A Christmas Carol (Robert Zemeckis, 2009)
O livro de Charles Dickens é um clássico que sintetizava, na altura, novas e antigas tradições desta época festiva num conto de redenção em que um avarento idoso, Ebenezer Scrooge, é visitado por 3 fantasmas na véspera de Natal, que lhe mostram o seu passado, presente e futuro. Há muitas versões, mas escolhi este por a animação 3D em motion-capture ser particularmente bem conseguida e por adorar os planos contínuos logo no início.

03. It's A Wonderful Life (Frank Capra, 1946)
Os filmes de Capra parecem sempre muito doces e optimistas, mas creio que isso acontece apenas porque essa é a atitude que as personagens tentam ter em relação à vida, mesmo quando são confrontadas com grandes dificuldades, como a personagem principal deste filme. A presença de Jimmy Stewart, um dos melhores actores de sempre, e de Donna Reed, uma das mais bonitas actrizes de sempre, também ajuda.

02. Christmas Vacation (Jeremiah S. Chechik, 1989)
Muito me ria com esta comédia quando era mais novo e nunca percebi a insistência das televisões com o Home Alone quando podiam passar um filme muito melhor. Chevy Chase tem aquele ar de chefe de família pateta a quem todos conseguem dar a volta, mas no fundo é um bom homem e no fim coisas boas (ou menos más) acontecem e tudo fica bem. Como esquecer um Natal que acaba com a SWAT a arrombar a porta da frente?

01. Miracle On 34th Street (George Seaton, 1947)
Neste filme, um homem é hospitalizado por afirmar ser o verdadeiro Pai Natal. Claro que é o número um!

sábado, 22 de dezembro de 2012

To Be Or Not To Be (Ernst Lubitsch, 1942)


Certamente já ouviram falar do grande actor polaco Joseph Tura... não? A sério? Bem, vou tentar relativizar essa falha, visto ele ser uma personagem ficcional, mas se um dia alguém vos repetir esta pergunta, digam que sim - há uma grande probabilidade de ser o próprio a fazê-la. Seja no momento de confirmação do início da 2a Guerra Mundial, seja a tentar extrair informação secreta a um oficial de topo da Gestapo, nas piores ou mais tensas condições possíveis, o ego do actor parece sempre insaciável e necessitado de validação.

Claro que as situações são exageradas, mas Lubitsch acreditava (e falará por experiência própria) que actores são criaturas em constante procura de atenção, por vezes perdendo noção do mundo que os rodeia. Quando se predispôs a juntar isto com uma sátira ao regime nazi em 1942, a confusão foi significativa, dada a ameaça que Hitler representava e os relatos distantes dos horrores em ocorrência na Europa, apesar da real mestria da tragicomédia de To Be Or Not To Be.

O próprio pai de Jack Benny, o protagonista, terá odiado a ideia de ver o filho brincar com uma questão tão séria. Compreensível, mas o tempo encarrega-se de acalmar os ânimos e trazer objectividade a todas as discussões e Benny tem aqui, na realidade, o desempenho de uma carreira. Arrogante, mas de bom fundo, possessivo, sempre preocupado com a possibilidade de a sua mulher o trair, Tura é um desafio, por exigir interpretações sobre interpretações.

Tentando impedir que um espião germânico trafique mais informação, a companhia de teatro de Varsóvia improvisa esquemas perigosos de roubo de identidade e Benny acaba a fazer de Tura a fazer de coronel da Gestapo, quase conseguindo enganar o vil Professor Siletski, e de Tura a fazer de Professor Siletski, quase conseguindo enganar o ignorante coronel Ehrhardt. Este jogo de espelhos torna esta farsa hilariante e excitante de seguir, tanto mais que o seu falhanço pode resultar em morte.

Não há em To Be Or Not To Be um vestígio de desrespeito pelas vítimas da guerra, apenas uma tentativa de ridicularizar uma ideologia desumana através de uma história de equívocos resolvida por um grupo em frequente ilusão, actores. Como tal, consegue ser leve, ao que não é alheio o toque de Lubitsch na escrita de superpiadas, ou seja, trabalhar para uma boa piada que é logo seguida de outra inesperada e ainda melhor, e consciente, em simultâneo, não fosse o realizador ser um judeu alemão.

Apesar da proeminência do mítico solilóquio de Hamlet a que o título se refere, usado como senha para os encontros sem consumação da senhora Tura (Carole Lombard, fantástica de muitas formas) com um jovem aviador, é outra passagem de Shakespeare que melhor resume o filme, recitada por uma personagem menor após captura pelas SS: "if you prick us, do we not bleed? If you tickle us, do we not laugh? If you poison us, do we not die?" Afinal, um audaz apelo à tolerância.

8/10

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Underground (Emir Kusturica, 1995)


Um dos momentos mais memoráveis e desconfortáveis de Cannes aconteceu em 1995 - nesse ano, dois filmes com as guerras recentes na Jugoslávia como pano de fundo assumiam-se como maiores candidatos à conquista da Palma de Ouro. Ulysses' Gaze de Theodoros Angelopoulos e Underground de Emir Kusturica procuravam encontrar razões para o carácter repetitivo de tão destruidores ciclos de violência e caminhos para uma paz duradoura,  através de execuções muito diferentes, ou pelo menos era o que se dizia. Na cerimónia de entrega dos prémios, o realizador sérvio viria a ganhar a honra maior do festival pela segunda vez na sua carreira e o seu homólogo grego teria de se contentar com o Grande Prémio do Júri, o que não aconteceu, pois assim que subiu ao palco para o receber disse apenas "se é só isto que têm para me dar, não tenho nada para vos dizer."

Não querendo justificar a atitude petulante de Angelopoulos, o seu filme é contemplativo, grandioso e de um virtuosismo técnico talvez unicamente superado por Tarkovsky, enquanto que o filme de Kusturica é um circo de auto-paródia que se deixa levar por brejeirice e fantasia; apesar do seu enorme alcance temporal, esboça pouco para além de uma caricatura dos eventos mais trágicos e das preocupações geopolíticas da região. A história segue dois bandidos muito amigos, que fazem dinheiro a roubar despojos de guerra para gastar em prostitutas e amantes que simpatizam com o regime nazi (ou pelo menos com os soldados). Blacky lidera as operações da resistência local com o seu espírito guerreiro e tem o poder de sobreviver a explosões de granadas, enquanto que Marko se assume como o seu essencial contraponto intelectual e um adepto da masturbação durante bombardeamentos.

Tomando uma cave como base, o grupo, composto por habitantes locais dos mais diversos grupos etários, passa a viver exclusivamente numa realidade alternativa, produzindo armamento dia e noite, tendo Marko como único ponto de contacto com o exterior, o que se revela um mau voto de confiança, já que este decide manter os conterrâneos na ignorância quando o conflito mundial finda em 1945 e o Marechal Tito toma o poder, perpetuando uma mentira durante 20 anos. Com que propósito? É uma boa pergunta. Será por querer roubar a actriz Natalija para si, quando o coração desta parece descair para Blacky? Será por lhe dar jeito um exército de escravos para atingir algum objectivo político numa Jugoslávia comunista? Ou será apenas uma metáfora para o isolamento que os regimes ditatoriais cultivam? Ideias mal passadas e personagens inconsistentes são regra.

Underground foi criticado por ser historicamente irresponsável e, no extremo, simpatizante com a causa Sérvia na última guerra dos Balcãs. Não chegaria tão longe, mas é de facto decepcionante que, tendo conhecimento de causa, Kusturica não consiga fazer mais do que cozinhar uma mistura insossa da espontaneidade do cinema checo com o slapstick de um Fellini, sem o vanguardismo e os subtextos do primeiro nem a fluidez e fulgor visual do segundo. Na última hora ainda se encontram vestígios de emoção e do infernal efeito nas personagens de todo o sofrimento a que foram subjugados ao longo do séc. XX, mas depois de duas horas de uma total confusão, banalidade e falta de profundidade a todos os níveis, é tarde. Underground diz pouco, entretém pouco, é longo e barulhento demais. O melhor é rever os clássicos de Menzel e Forman. Quiçá até o tal filme de Angelopoulos...

4/10

domingo, 16 de dezembro de 2012

TCN Blog Awards 2012

Precisamente nas traseiras do Mosteiro dos Jerónimos, o Centro Cultural Casapiano foi o local escolhido este ano para albergar os TCN Blog Awards. Depois de uma viagem de 3 horas de carro e de encher o bandulho com esparguete à beira-rio, com vista para o Jardim da Praça do Império de um lado e o Padrão dos Descobrimentos do outro, lá fui fazer o check-in. Estava preocupado com a possibilidade de o meu nome não aparecer na lista, dado a minha apurada memória apenas me ter lembrado de reservar o lugar por email na noite do dia anterior, mas não, lá estava O Narrador Subjectivo algures na lista.

Como foi a minha primeira presença neste "certame" não sabia bem o que esperar, pelo que fiquei impressionado com a capacidade de planeamento e de improviso do Manuel Reis enquanto anfitrião. Os muitos momentos de interacção com o público, em especial, ajudaram a manter a atmosfera relaxada do início ao fim, não tendo escapado algumas referências às situações, equívocos e frases mais embaraçosas do ano. Nota de rodapé, descobri que ambos temos a Luísa Barbosa (que marcou presença no evento e apresentou um dos prémios) e a Odete Santos no top3 das portuguesas mais sensuais.

Foi uma pena não se ter visto as 3 curtas que estava planeado serem projectadas ao longo da cerimónia, devido a problemas com o som em Assim Assim, de Sérgio Garciano (que deu origem, há pouco tempo, a uma longa-metragem com algum sucesso comercial e um grande elenco de actores) e em Black Mask (Filipe Coutinho), que provavelmente só não se manifestaram durante a exibição de Auguste (Amadeu Pena da Silva, Pedro Santasmarinas) pelo simples facto de não conter quaisquer diálogos. Sessões de cinema durante um evento destes cortam um pouco o ritmo, mas gosto sempre de ver novos trabalhos.

O Narrador Subjectivo não venceu em nenhuma das 2 categorias para que estava nomeado directamente (Melhor Blog Individual e Melhor Crítica de Cinema) nem viu nenhuma das iniciativas em que participou ganharem o prémio correspondente, mas fica aqui uma mensagem de parabéns à concorrência, pois sei que a vitória dos meus colegas do CCOP Catarina D'Oliveira e Tiago Ramos foram mais que merecidas. Lamento ter encurtado o convívio final com todos os que conheci neste dia, mas certamente haverão outros encontros. Cumprimentos a todos vocês e à organização desta festa, que atingiu dimensões surpreendentes.

Agradecimentos finais ao pessoal do TVDependente, que me aturou durante o almoço e à tardinha, à Carolina Sales, que me deu os enormes posters de cinema que tinha ganho, incluindo um do Amour (Michael Haneke ftw), e, em especial, ao Vitor Rodrigues, Ricardo Leal e António Guerra, pela boleia e companhia, incluindo uma viagem de regresso mais longa do que o esperado!

Lista dos vencedores dos TCN Blog Awards 2012:

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

TRAILERS: Man Of Steel (Zack Snyder, 2013)

Fico um bocado perplexo com esta lógica, que está transformada em moda, de fazer remakes de histórias de origem que já tiveram remakes há 5-10 anos, mas a verdade é que a ideia de Zack Snyder a realizar um filme do Super-Homem é maravilhosa e este trailer deixa água na boca. Ah, e a Amy Adams é a Lois Lane!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Faust (Aleksandr Sokurov, 2011)


In Soviet Russia, you don’t see paintings; paintings see you. Bem, a Rússia já não é um estado soviético e, mesmo que fosse, a acção de Faust desenrola-se na Alemanha do séc. XIX, mas a verdade é que este filme de Sokurov parece transportar-nos para um museu de pintura, talvez flamenga, ou melhor ainda, dá o efeito de um museu de pintura flamenga a circundar à nossa volta enquanto estamos sentados numa cadeira e mais do que obrigar-nos a prestar atenção aos contrastes de luz e significados alegóricos, perscruta-nos sub-repticiamente, como que mostrando a descida ao inferno da personagem principal, mas, acima de tudo, perguntando até que ponto qualquer um de nós consegue resistir às tentações do diabo.

O realizador, como bom aluno do mestre Tarokvsky que foi, sempre primou pelo fulgor visual, ou não estivéssemos a falar do homem por detrás de Russian Ark, uma mastodôntica viagem pelo Hermitage contida num único plano-sequência de 96 minutos, mas considero Faust mais multidimensional; a imagem, maioritariamente difusa, captada por filtros que variam na distorção que provocam e na claridade que transmitem, tem uma opressiva qualidade onírica que reflecte a fantasia e o grotesco inerentes a esta lenda, popularizada pela interpretação dramatúrgica de Goethe, de um médico que assina em sangue um contrato com Mefistófeles para obter amor e conhecimento, pagando o preço com a sua alma.

Conto pelos dedos as vezes em que já me senti a imergir tão profundamente no surrealismo de um filme unicamente graças à fotografia como aqui e a intenção desse efeito é mesmo evidenciada por um mergulho dado no rio, arrastando Gretchen, a jovem por quem Faust se baba e cuja inocência fere na tentativa de a possuir. A queda dele causa tanta vertigem que a tela chega a ameaçar rodar sobre um eixo horizontal para o seguir. Faust procura, acima de tudo, poder, e é nessa perspectiva que Sokurov o insere numa tetralogia inaugurada com Moloch, a que se seguiram Taurus e The Sun, com a diferença de esses se focarem em figuras históricas (Hitler, Lenine e Hirohito) cuja corrupção moral teve consequências bem reais.

O seu estilo, contudo, é mais adequado à fábula e revela-se engrandecido com esta mudança. Não mais sob uma influência demasiado ostensiva do seu professor (The Lonely Voice Of Man ou The Second Circle, por exemplo, parecem-me ainda hoje ideias que Tarkovsky mandaria para o lixo), Sokurov encontrou, com o passar do tempo, novos caminhos por onde levar as suas próprias preocupações éticas, familiares e espirituais, ancorando-as também em vagueza narrativa e plasticidade estética. Os diálogos são incessantes e o humor passa frequentemente despercebido, é verdade (há algum no início, talvez extraviado) – mas olhem bem para esta maravilha! In (not-so) Soviet Russia, you don’t speak of the devil; the devil speaks of you.

8/10

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

TRAILERS: Little Manhattan (Mark Levin, 2005)

Este filme é adorável, não há outra palavra. Para além disso, explora cantos de Nova Iorque muito para além do olhar turístico, lugarzinhos que todas as cidades têm mas normalmente só os nativos conhecem, o que é sempre interessante. Também há um tempo para a lamechice e quando ele chega encaixar o Little Manhattan é uma decisão acertada.

domingo, 2 de dezembro de 2012

SONDAGENS: Novembro de 2012


Qual o melhor James Bond?

  1. Sean Connery (35%)
  2. Roger Moore (21%)
  3. George Lazenby (21%)
  4. Pierce Brosnan (14%)
  5. Daniel Craig (7%)
  6. Timothy Dalton (0%)
Amostra: 14 votos.

O melhor James Bond de sempre, segundo os leitores deste blog, é Sean Connery, o 007 cinemático original. George Lazenby surpreende ao ficar em 2º (empatado com Roger Moore); apesar da qualidade do filme On Her Majesty's Secret Service (o único com gravações em Portugal), o actor australiano foi o menos utilizado no franchise.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Bringing Up Baby (Howard Hawks, 1938)


De todos os realizadores clássicos de Hollywood, Howard Hawks deve ter o pior rácio popularidade/nomeações para o Óscar de Melhor Realizador. Não que isso seja o derradeiro indicador de qualidade, mas talvez não seja um facto completamente descabido. Os argumentos brilhantemente intrincados e o tom sarcástico dos seus melhores filmes eram elegantes e irresistíveis, fosse qual fosse o género escolhido (e Hawks fez um pouco de tudo, de westerns a noir a filmes de gangsters), mas, em termos técnicos, sempre me pareceram jogar demasiado pelo seguro, com pouca originalidade e uma maçuda repetição de planos médios. Os diálogos, os actores e a entrega dos primeiros pelos segundos dominam a mise-en-scène, às vezes de forma opressiva, como é o caso em Bringing Up Baby.

Cary Grant e Katherine Hepburn são estrelas intemporais e com uma química inabalável como o paleontologista David Huxley e a socialite Susan Vance, respectivamente, e fazem uso da vasta gama de caretas e trejeitos cómicos de que dispõem nos seus reportórios para ilustrarem a forma como as suas personagens, ele mais empertigado, ela mais despassarada, reagem aos gags que se sucedem um a seguir a outro. Susan recebeu um leopardo do irmão pelo correio que tem de entregar à tia, por sinal a milionária que está indecisa sobre se irá doar ou não dinheiro ao museu onde David trabalha. Confessa-se apaixonada à primeira vista e improvisa formas de o manter por perto, o que é uma boa decisão, porque ele é facilmente manipulável ou talvez esteja intimamente desanimado com o seu noivado com outra.

Chega a ser algo patético a forma como David se deixa levar por uma mulher tão claramente incompatível com o seu carácter (claro que no fim ficam juntos), mas esta noção de polos opostos a atraírem-se não é nova no cinema de Hawks, sendo mesmo uma das suas maiores forças; o pior é a incessante barulheira. O filme tem piadas que são prolongadas até ao fim do mundo, lidas a velocidades supersónicas e sensivelmente ao volume de um martelo pneumático em funcionamento. A cena pivô na prisão é o exemplo claro de uma ideia decente levada ao extremo. Claro que tudo isto é caricatural, mas perde o interesse mesmo nesse contexto. O rendimento dos actores é ofuscado pela pouca personalidade de Hawks enquanto realizador. Escusado será dizer que, mais uma vez, não mereceu a consideração da Academia...

5/10

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

LISTAS: Cahiers Du Cinéma (2012)

Pelo 5º ano consecutivo, o top10 da revista Cahiers Du Cinéma conta com um filme português. Depois de Juventude Em Marcha (Pedro Costa, 2008), Singularidades De Uma Rapariga Loira (Manoel De Oliveira, 2009), Morrer Como Um Homem (João Pedro Rodrigues, 2010) e O Estranho Caso de Angélica (Manoel De Oliveira, 2011), é chegada a vez de Miguel Gomes, realizador de Tabu. O filme, que já havia estado em destaque na última edição do Festival De Berlim, onde ganhou 2 prémios, recebe assim mais uma distinção. Interessante também é a dupla presença de Abel Ferrara e o primeiro lugar de Leos Carax, dois realizadores pouco consensuais, mas nunca irrelevantes. A lista completa é a seguinte (por ordem):

  1. Holy Motors (Leos Carax)
  2. Cosmopolis (David Cronenberg)
  3. Twixt (Francis Ford Coppola)
  4. 4:44 Last Day On Earth (Abel Ferrara)
  5. In Another Country (Hong Sang-Soo)
  6. Take Shelter (Jeff Nichols)
  7. Go Go Tales (Abel Ferrara)
  8. Tabu (Miguel Gomes)
  9. Faust (Alexander Sokurov)
  10. Keep The Lights On (Ira Sachs)

domingo, 25 de novembro de 2012

The Lion King (Roger Allers, Rob Minkoff, 1994)

Foi no Cinema Trindade, entretanto fechado, que fui ver O Rei Leão, andava ainda na escola primária. É uma das minhas grandes memórias do poder da Sétima Arte - não apenas em mim, que fiquei embasbacado a olhar para o enorme ecrã assim que a música Ciclo Sem Fim, interpretada pela Ana Paulino na versão portuguesa, começou a tocar, acompanhada de imagens de dezenas e dezenas de animais de todas as cores e feitios a caminhar na mesma direcção, mas também na audiência que me rodeava, maioritariamente composta por outras crianças de bata. Vi o bruta-montes da minha turma chorar com a morte do Mufasa e nunca mais o vi da mesma forma. Comprei o VHS e a caderneta de cromos, coleccionei os tazos e os bonecos que saiam nos cereais.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Four Nights With Anna (Jerzy Skolimowski, 2008)

Para muitos, o nome Skolimowski não dirá muito. Alguns talvez se lembrem de o ver nos créditos de Knife In The Water como escritor, ou de Eastern Promises como actor; ou talvez não. Seja como for, este veterano polaco, pertencente à geração de Polanski, Zulawski e Kieslowski (três realizadores igualmente talentosos, todos com carreiras e vidas muito distintas), já não fazia cinema há 17 anos, e os seus filmes, de qualquer forma, nunca tiveram muito sucesso comercial.

Este regresso pouco badalado revelar-se-à merecedor de ser celebrado para quem ousar descobrir Four Nights With Anna. O filme, produzido por Paulo Branco, conta, de forma muito livre, a história dum funcionário do crematório hospitalar, Leon, que aparenta ter uma obsessão amorosa por uma enfermeira sua vizinha, com quem nunca fala mas parece ter uma ligação misteriosa, progressivamente revelada através de interlúdios anacrónicos que não conseguimos situar nem no passado nem no futuro, inicialmente. Leon é um solitário, um pouco desastrado, e, acima de tudo, muito silencioso.

No entanto, é incrível como o silêncio pode ser revelador - Skolimowski sabe-o e Four Nights With Anna avança com tanta compaixão por Leon e minuciosidade em relação aos esquemas que ele imagina para se aproximar da sua amada sem que ela perceba, que não são mesmo precisas palavras. Afinal, o cinema é um meio visual. Skolimowski não filma grandes diálogos, não tece grandes julgamentos, torna a transgressão compreensível e filma apenas desolação e amor que bate num muro, assolapado e não retribuído.

9/10

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

FOTOGRAFIAS: Star Wars

Por momentos pensei "quem me dera ser o Chewbacca ou o Peter Mayhew"... qual dos 2 o pior, mas que sorte aqui!

Já o Darth Vader teve de se contentar com um chocho do realizador Irvin Kershner. Talvez explique o seu habitual ar carrancudo.

domingo, 18 de novembro de 2012

CURTAS: La Première Nuit (Georges Franju, 1958)

Georges Franju tinha um talento especial para encontrar o lado surrealista na mais brutal das imagens; seja no contexto da ficção ou do documentário, os seus filmes estão impregnados com um desejo de expressionismo inédito no cinema francês, tipicamente mais poético e romântico, do qual Franju também não se distancia completamente. Esta fórmula validou-lhe um estilo único e creio que esta curta, lúgrube e melancólica, basicamente muda, sobre um menino que deambula pelo metro de Paris enquanto procura o seu interesse amoroso, é dos trabalhos mais relaxados e acessíveis do realizador.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

The Dictator (Larry Charles, 2012)


Sasha Baron Cohen não é conhecido pela sua subtileza e, sob essa perspectiva, The Dictator não desaponta. Depois de Ali G, Borat e Brüno, tudo personagens anteriormente em destaque no programa televisivo Da Ali G Show que tiveram direito a filmes próprios, o Almirante General Aladeen, líder supremo da ficcional República de Wadiya, é a primeira instância de um veículo primariamente cinematográfico na carreira do cómico britânico. Perdido está o estilo documental escolhido para adornar os seus dois últimos argumentos, adequado para seguir as aventuras e desventuras de um ingénuo jornalista cazaque obcecado com Pamela Anderson ou de um extravagante repórter austríaco pelo mundo da moda, mas que não faria tanto sentido na presença de uma história menos episódica e mais convencional (mas nem por isso menos atrevida) como a de The Dictator.

Depois de uma introdução inicial hilariante em jeito de biografia da personagem principal, que inclui uma entrevista com Larry King sobre um suposto programa atómico (não sei porquê, parece-me familiar) e um vislumbre da Plaza de España de Sevilha transformada num palácio presidencial no meio do deserto com cúpulas islâmicas nas torres, percebemos que as Nações Unidas acabam de ameaçar Aladeen com acções militares caso este não desista, de uma vez por todas, de querer desenvolver bombas atómicas. Determinado a fazer vencer a sua vontade no mundo como faz no seu país natal, viaja para Nova Iorque, onde é vítima de uma conspiração destinada a derrubá-lo e a empossar o seu tio Tamir (Ben Kingsley, sempre a manter a posse de estadista que falta ao sobrinho barbudo). Seria o fim da tirania e o início da democracia na nação africana, uma heresia que tem de ser travada, pois o povo de Wadiya adora ser oprimido.

Perdido numa terra estranha, Aladeen é obrigado pelas circunstâncias a misturar-se, a ser menos racista, a ser menos sexista, a confiar em terceiros, a trabalhar, no fundo a confrontar a sua própria solidão e ridicularia: é um homem que toda a vida teve tudo o que queria, todos os caprichos atendidos, mas sem alguém para amar, e é um líder respeitado apenas superficialmente, adorado como um ídolo falso, arauto da ameaça e do medo. Aliás, o seu distanciamento da realidade é tal que se reflecte não só numa evidente falta de compreensão da vida dos seus súbditos como até na aparente dificuldade de processar o conceito de morte, por exemplo. Aladeen e Borat estão unidos pela extrema ingenuidade, a diferença sendo que o primeiro parece muito mais perigoso e ambíguo pelo poder que tem e pelas questões sociais e geopolíticas a que alude.

Espaço para a sátira é o que separa The Dictator dos três filmes anteriores com Cohen como protagonista. Do seu talento enquanto actor nunca houveram grandes dúvidas. Do seu timing cómico e capacidade de chocar muito menos. No entanto, sempre me perguntei se alguma vez conseguiria dar substrato às suas piadas e deixar de ser excessivo sem propósito. O discurso que pretende realçar as diferenças entre Wadiya e os EUA mas que acaba por os aproximar ("imaginem se a América fosse uma ditadura: podiam deixar 1% das pessoas ter toda a riqueza, podiam ignorar as necessidades dos pobres (...), podiam torturar prisioneiros estrangeiros") é magistral em provar que sim. Claro que não deixamos de ter linhas com contornos ofensivos ("vais ter um menino ou um aborto?") e cenas de humor duvidoso (o general e a sua apaixonada a trocarem olhares enquanto realizam um parto vem-me à mente), é impossível seguir Cohen por todos os caminhos que ele escolhe, mas não escondo o sentimento de satisfação pela sua descoberta de mais equilíbrio e sagacidade. Ganham também com isso o filme e o espectador.

7/10

IMDb 

sábado, 10 de novembro de 2012

TOP5: Curtas Documentais

05. À Propos De Nice (Jean Vigo, 1930)
Nem todos os documentários precisam de ter uma história para contar ou uma mensagem a passar: À Propos De Nice é uma elegia cinemática à cidade do Sul de França, que o malogrado realizador Jean Vigo via como encantadora mas talvez a sofrer com o turismo excessivo. Numa mistura de humor e surrealismo, vemos as praias e as avenidas, mas também fábricas e operários por vezes esquecidos num cenário tão veranil.

04. Douro, Faina Fluvial (Manoel de Oliveira, 1931)
81 anos depois, ainda é possível discutir esta curta com o seu realizador. A longevidade de Manoel de Oliveira é deveras impressionante, mas mais surpreendente será o ritmo fervilhante com que há tantas décadas atrás filmou a cidade do seu coração. Douro, Faina Fluvial é actividade e movimento, do rio sob a ponte D. Luís I, dos barcos rabelos na água e da câmara (não será esta uma das primeiras instâncias do uso de câmara tremelicosa?), o que não deixa de ser irónico, considerando a indolência dos últimos filmes do português.

03. The House Is Black (Forugh Farrokhzad, 1963)
O dia-a-dia numa colónia de leprosos é filmado por Farrokhzad com profunda compaixão, mas também alguma curiosidade. A narração insinua que os habitantes encontram conforto na religião e agradecem a Deus por estarem vivos. Não são tristes aquelas pessoas que às vezes ficam tão imersas nas suas vidas que egoisticamente se esquecem do quão privilegiadas são realmente?

02. Chernobyl Heart (Maryann DeLeo, 2003)
Esta curta vencedora de um Óscar causa arrepios, é de uma frieza inaudita, mas adequada ao material. Afinal, lida com as consequências na população bielorrussa do maior desastre nuclear da História. Logo a abrir, uma viagem pela zona de exclusão, onde vemos a central ao longe e medições de radiação (uns milhares de vezes superior ao aceitável). É uma introdução imponente, a que se seguem imagens deprimentes dos hospitais, orfanatos, escolas e asilos que albergam bebés, crianças e adolescentes ainda hoje física ou mentalmente afectados pelo acidente. A electricidade foi uma descoberta fenomenal, mas, considerando os riscos, o uso da energia nuclear como fonte continua a ser controverso.

01. Night And Fog (Alain Resnais, 1955)
O horror do Holocausto nos 32 minutos mais arrepiantes que é possível imaginar. Resnais contrapõe imagens e vídeos de arquivo com imagens e vídeos filmados por si apenas 10 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, perpetuando a memória do que aconteceu. François Truffaut chamou-lhe "o melhor filme de sempre".

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

TRAILERS: Side Effects (Steven Soderbergh, 2013)

Da mesma dupla de realizador/escritor de The Informant! (2009) e Contagion (2011), eventualmente os dois filmes mais idiossincráticos e ressonantes de Steven Soderbergh dos últimos 10 anos, chegará em breve este Side Effects, sobre uma mulher farmacodependente. Este poderá (ou não...) ser o último filme de Soderbergh durante algum tempo, que admitiu recentemente sentir necessidade de recalibrar energias.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Hors Satan (Bruno Dumont, 2011)


Em verdadeiro espírito Bressoniano, o filme começa com um plano de mãos. Primeiro, a dele a bater à porta. Depois, a dela esgueirando-se para fora a empunhar uma sande. Acções a definirem rituais do dia-a-dia a definirem a ordem que as personagens procuram nas suas vidas mas que acaba sempre por ser quebrada, tornando a busca pela sua recuperação, na segurança de rotinas quotidianas, ainda mais incessante. Andar, por exemplo, caminhar, até à bouça, até ao silo, até a praia, mais, até mais longe, estrada acima, estrada abaixo. Pode ser que no fim se chegue a algum lado.

Os filmes de Dumont são povoados por imagens violentas, retratos de actos violentos, partos de pessoas banais que parecem estar em luta com a maldade com que, por esta ou aquela razão (ou mesmo por nenhuma razão em particular), se lhes atravessou à frente, porque o pecado pode encontrar-nos no outro lado do mundo (Flanders), pode morar na casa ao lado (Humanity) ou até dentro de nós, como parece ser o caso em Hors Satan. Ele (sempre anónimo) é feito de contrariedades e tão fácil de gostar como de odiar - não por factores subjectivos, simplesmente por ser capaz do melhor e do pior.

O ritmo é lento e o som totalmente diegético, para evidenciar a ausência de juízos de valor nas seguintes comunhões maniqueístas: justiça disfarçada de homicídio, um espancamento seguido de um exorcismo, luxúria contrabalançada com um milagre, entre outras. Só sabemos o que o título nos diz - o maior desejo é o de praticar o bem. Talvez seja o trabalho menos interessante de Dumont em termos de história (Twentynine Palms não conta, pois a economia nesse filme é tal que consome qualquer vestígio de história), mas a personagem principal é a mais completa que já criou.

Lembrei-me de The Last Temptation Of Christ (Martin Scorsese, 1988), em que só sabemos que estamos perante o messias porque é identificado pelo nome e por episódios bíblicos amplamente reconhecíveis. Se assim não fosse, teríamos apenas um homem, em conflito consigo mesmo, desesperado por ser uno com a natureza que o rodeia. Em Hors Satan é igual, com um redobrado sentimento de incerteza, porque o ambiente é mais suave e verdejante e a introspecção é proibida. Mais um filme fascinante, cru, rico em textura e significado, para o espectador paciente.

8/10

terça-feira, 30 de outubro de 2012

CITAÇÕES: La Belle Captive (Alain Robbe-Grillet, 1983)

Marie-Ange van de Reeves (Gabrielle Lazure): I don't have a name, I'm sorry, I lost it. I'll let you know if I find it.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

TCN Blog Awards 2012

Um pouco mais cedo que o ano passado, foram ontem conhecidas as nomeações aos prémios da blogosfera cinemática que dão sempre que falar: os TCN Blog Awards. Com um sistema diferente do habitual, a funcionar por candidaturas, postas à consideração de uma Academia, os 8 finalistas em cada categoria foram sendo revelados ao longo do dia no Cinema Notebook. Segundo informações do mesmo, foram avaliados 81 artigos, 147 críticas, 19 entrevistas, 36 iniciativas, 20 novos blogues, 38 blogues, 9 sites e 34 bloggers.

Facto de algum interesse para estes lados: O Narrador Subjectivo conseguiu 2 nomeações, Melhor Blogue Individual e Melhor Crítica de Cinema (com o texto de Agosto sobre o Cape Fear de Scorsese)! É verdade, depois de no ano passado ter estado na corrida para Melhor Novo Blogue, o reconhecimento deste espaço duplicou em 2012 e numa perspectiva que me deixa muito contente: sinto que ofereço algo de diferente a este mundo cibernético e o meu gosto pela escrita e a crítica é recompensado. Por tudo isso, um grande obrigado à organização e, acima de tudo, aos que me seguem pelo Blogspot e/ou pelo Facebook.

Para além disso e como se não fosse suficiente, a zona das iniciativas trouxe-me também óptimas surpresas, já que 3 delas contam com o meu envolvimento, a Filmes que toda a gente gosta, mas eu não, organizada pelo Cine 31, os ainda por realizar Cinema Bloggers Awards, um projecto de estimação do André Marques do Blockbusters, e, last but not least, o Círculo de Críticos Online Portugueses, ao qual me orgulho de pertencer há alguns meses, juntamente com 15 dos mais respeitados e idóneos bloggers de cinema nacionais, e que considero ser uma referência na avaliação do valor relativo dos filmes que estreiam todos os meses no país.

Por tudo isto, estes TCN têm um sabor especial para mim e incentivo ao uso e abuso do voto, aberto a todos até 30/11, no Cinema Notebook, olhem bem para os separadores laterais direitos, percorram as listas de nomeados, visitem todos os blogues, leiam todas as críticas, artigos e entrevistas e digam de vossa justiça.

Shazaam!

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

The Hill (Sidney Lumet, 1965)


Se Sidney Lumet é menos falado que outros compatriotas, não é nem pela pouca quantidade de obras nem pela pouca qualidade das mesmas. De cada vez que me aventuro a descobrir algo seu, fico sempre com a sensação de que o realizador americano nunca obteve o reconhecimento que merecia enquanto foi vivo, porque a consistência era o seu nome do meio e The Hill é uma das muitas provas disso.

O fio condutor entre este, 12 Angry Men, Dog Day Afternoon ou The Verdict é a procura de dignidade, uma constante preocupação com os atentados, provocados ou imotivados, à moralidade das personagens e a forma como elas reagem a isso, estando algumas em conflito interno por terem consciência das suas más decisões e outras em dúvida sobre se devem encetar um combate contra as injustiças que se abatem ou comer e calar, por regra escolhendo a primeira.

Sean Connery é um sargento inglês durante a Segunda Guerra Mundial, que tomou uma decisão em consciência contra os seus superiores e foi recambiado para um campo de detenção do seu próprio exército, no deserto líbio. Retirar do activo centenas de soldados durante o maior conflito da história é paradoxal, tal como ver prisioneiros militares serem vigiados e punidos por irmãos de armas. "We're all doing time - even the screws."

É um mundo à parte, cuja existência é justificada com o objectivo de recuperar o espírito militar dos cobardes e desordeiros, onde as práticas se assemelham a uma lavagem cerebral por esgotamento, sendo o principal exercício a manutenção e escalada de um grande monte de areia, a alegoria perfeita para a absurdidade do local. Num plano-sequência inicial de cortar a respiração, a lentidão da grua da câmara revela o ambiente de aridez e a morosidade da passagem do tempo nestas condições, afastando-se até chegar ao exterior, um movimento que acaba por não ser repetido pelos protagonistas.

Lá dentro, Joe Roberts é atormentado pelo staff, mais concretamente pelo sargento Williams, um novato com poder a mais, cuja inexperiência e prepotência levam à morte de um companheiro de cela do primeiro. O director é mais acessível, mas igualmente manipulador, racista e desligado da realidade. À medida que a crueldade das tarefas designadas a Roberts aumenta, mais facilmente se descobrem fraquezas e hipocrisias.

O retrato do sistema é vívido e feito de dentro, como em Serpico, mas ainda mais intenso. Al Pacino e Sean Connery são homens que eu não me atreveria a levar aos limites. Já agora, este é o melhor papel da carreira do escocês. O suor pinga de todos os poros, as lâmpadas acesas no cárcere à noite dão tonturas, o calor é sufocante, crédito da genial fotografia a preto-e-branco. Com um filme tão portentoso como este, como se pode esquecer Sidney Lumet? Impossível.

9/10

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

POSTERS: Harry Potter

Só tenho pena de não ter encontrado posters do mesmo artista para os 2 últimos filmes; seja como for, enquanto fã acérrimo da série, tinha de partilhar estas maravilhas!

sábado, 20 de outubro de 2012

CURTAS: Viola: The Traveling Rooms of a Little Giant (Shih-Ting Hung, 2008)

Curta com contornos surrealistas sobre uma "stairway to heaven". A imagética original e tranquila valeu-lhe o Student Academy Award de animação, provavelmente o prémio mais desejado por jovens estudantes de realização, dado o seu patrocínio pela AMPAS.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

The Future (Miranda July, 2011)


Para uns, o termo cinema independente está relacionado a filmes realizados sem o apoio de grandes estúdios, sujeitos a uma contenção financeira que apura o sentido de improviso na sua produção, mas libertos de compromissos das mais variadas índoles e por isso com uma visão intacta. Para outros, parece ter adquirido o significado exíguo da soma de tiques e posturas, músicas desconhecidas e piadas secas, tendo mais a ver com estilo do que com empreendedorismo. Talvez o primeiro tenha surgido com as necessidades e restrições enfrentadas pelo segundo, mas numa altura em que alguém como Francis Ford Coppola passou a trabalhar por conta própria ou alguém como David Gordon Green fez o caminho inverso, o termo ter-se-á tornado algo incongruente.

Seja como for, The Future preenche requisitos em ambas as facetas. O primeiro filme de Miranda July, Me And You And Everyone We Know teve um sucesso residual, suficiente para reclamar atenção sobre a esposa de Mike Mills, que mesmo assim demorou a dar seguimento à sua carreira, surgindo agora com um orçamento metade americano, metade alemão, 6 anos depois. Deduzo portanto que tenha matutado, pensado, visto e revisto as suas ideias para este trabalho durante muito tempo, o que consegue ser ainda mais deprimente do que o filme em si. É que isto não tem ponta por onde se lhe pegue. Há um casal de mentecaptos com os impedimentos de fala característicos do movimento mumblecore que decide adoptar um gato abandonado e doente recolhido por uma instituição, processo que traz consigo uma hiperbólica percepção da efemeridade da juventude e uma deslocada noção de que a vida de ambos acaba por passarem a ter outro ser vivo dependente deles.

Contado parece uma anedota, visto é inacreditável, porque estas personagens tomam o assunto a sério e decidem mudar radicalmente. Custa-me a engolir o tipo de diálogos que tentam mascarar frases feitas com calão, simplificações babocas ou embaraço tergiversante para parecerem de uma originalidade refrescante, como "it's a drag but it's also amazing" para descrever a experiência da gravidez, mas aqui abundam, quase tanto como os tons pastel nas roupas e nos cenários, talvez um reflexo de tanta indolência (estou a tentar fazer um trocadilho com a palavra pastelão). Quando alguém fala assim fica no ar um miasma de falsidade a envolver a noção de suposta profundidade sobre amor e relacionamentos, que impera especialmente quando a histórica começa a entrar em modo Eternal Sunshine Of The Spotless Mind e a tomar contornos surrealistas.

Só que, ausentes as ideias de Charlie Kaufman e o seu jeito ligeiro de navegar instintivamente pelo subconsciente das personagens para chegar ao cerne dos seus conflitos emocionais, ficam apenas sequências peculiares porque sim, artifícios sem sentido. Que se pode dizer de um homem que fala com a lua e consegue parar o tempo sem qualquer explicação para tal acontecer ou de uma mulher que define como objectivo dançar pateticamente durante 30 dias para uma webcam e que trai o namorado leviana e conscientemente? Deveria achar graça a isto? Não consigo, terei achado engraçado nos primeiros minutos, mas aborrecido a longo prazo, provando que mais vale ter graça do que ser engraçado. Apeteceu-me acabar com um chavão.

2/10

sábado, 13 de outubro de 2012

FOTOGRAFIAS: Alfred Hitchcock

Agora que vai sair um filme sobre o making of de Psycho com Anthony Hopkins a interpretar o mestre do cinema de terror e suspense, aqui está um momento idiossincrático: Hitchcock segura e aponta para um modelo da sua cabeça.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

TRAILERS: Gambit (Michael Hoffman, 2012)

Mais um para a shortlist. Colin Firth e Alan Rickman no mesmo filme? Com argumento dos irmãos Coen?! Contem comigo!

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A Bucket Of Blood (Roger Corman, 1959)


Quem já alguma vez leu On The Road de Jack Kerouac já saberá bastante sobre o movimento beat na América dos anos 50, talvez o movimento boémio por excelência, no qual o inconformismo era primordial, o deboche um acto de libertação e a arte uma necessidade. Como qualquer subcultura, ontem ou hoje, por cada entusiasta há dois detratores, e o fenómeno residual de uma geração à procura de estímulos e de novos modos de vida acaba por ser o alvo de chacota de outras anteriores ou posteriores. Assim aparece o termo beatnik, destinado a classificar tudo o que fosse sátira da juventude tresloucada de então, estereotipados pelo uso de roupa preta, óculos escuros e boinas, pelo estilo de vida nómada e interesse em criar e apoiar literatura, poesia ou música que desafiassem definições.

É nesse ambiente que A Bucket Of Blood se movimenta, mais concretamente num espaço de reunião de artistas ou entusiastas em geral chamado The Yellow Door Cafe, onde trabalha Walter Paisley, um empregado de mesa sem talento, frustrado e aparentemente perturbado psicologicamente, uma figura que inspira tanto simpatia como repulsa, graças ao aspecto e à interpretação de Dick Miller. Quando mata, acidentalmente, o gato da vizinha com uma faca, tem uma ideia genial: cobri-lo com barro e apresentá-lo como uma escultura da sua autoria às tertúlias que idolatra e que o desprezam. A aprovação é consensual, para surpresa de Walter, que pergunta vezes sem conta a todos se gostaram mesmo do seu gato, e dos que o rodeiam, que assumem tê-lo menosprezado injustamente.

Um poeta charlatão chega mesmo a afirmar que a "voz" de Walter é "a voz silenciosa da criação. No escuro do solo e rico em humildade, ele floresce como a esperança deste século quase estéril" e acaba a pedir-lhe um expresso. Há alguma comédia subtilmente infundida neste filme, o que faz sentido num olhar crítico que, goste-se mais ou menos, não deixa de ser certeiro quanto ao pretensiosismo fácil destes meios, a que o cinema não é alheio, como Corman, o rei dos filmes B, certamente saberia. Em pouco tempo, Walter abraça a fama, deixa de ser empregado de mesa, muda o seu vestuário e congemina novas obras, cada uma com uma perfeição anatómica e posses e expressões de terror assustadoras e que poderiam provar a descoberta de um verdadeiro talento.

Poderiam, não fosse o facto de Walter simplesmente ter passado a matar pessoas e a cobri-las de argila, de formas cada vez mais violentas e premeditadas. O seu antigo chefe é o único consciente disso, mas por medo, pena ou falta de provas, adia confrontá-lo ou expô-lo como a fraude que é, apenas dando a Walter mais tempo para se encher de peneiras, sujar as mãos de sangue e alimentar a sua maior obsessão, casar com Carla, a anfitriã do clube, que não percebe o efeito que a sua simpatia tem na personagem principal. O argumento é muito inteligente e gere todos estes factores com muita segurança, com um crescimento exponencial de tensão e uma divertida perseguição final, isto tudo apesar da produção low-cost e da gravação à pressa em 5 dias. A Bucket Of Blood é Roger Corman no seu melhor, explorando uma cultura fascinante.

8/10