terça-feira, 30 de agosto de 2011

Bad Teacher (Jake Kasdan, 2011)

Regra geral, o nível de consideração que o espectador adquire por um filme é grandemente influenciado pela relação que estabelece com as personagens na tela, pela tridimensionalidade que adquirem com o desenvolvimento da história e por ser ou não fácil para qualquer um de se identificar ou emocionar com o que está a ver. A complexidade dessa tarefa aumenta exponencialmente à medida que diminui a escrupulosidade do protagonista, porque é natural condenarmos pensamentos ou comportamentos que chocam com as nossas morais, e poucos são os filmes que conseguem ter sucesso a este nível. Lembro-me de Kind Hearts And Coronets (1949), A Clockwork Orange (1971) ou American Beauty (1999). Claramente, Bad Teacher não entra nesta lista. A razão é simples: Elizabeth Halsey, a professora interpretada por Cameron Diaz, é horrível, em todos os sentidos possíveis da palavra. Mal escrita, mal interpretada, de má rés, não havendo um segundo que nos leve a simpatizar com ela. O seu noivado com um ricalhaço qualquer é cancelado e Elizabeth vê-se forçada a reiterar o seu trabalho como professora. Sem fundos infinitos para alimentar a sua vaidade, não se conforma com a sua abrupta descida na pirâmide social e prefere continuar a alimentar-se de superficialidades e a comportar-se como uma cabra sem sentimentos. Negligencia a educação dos seus alunos, manipula todos à sua volta; apenas lhe interessa arranjar outro homem com dinheiro, que pode muito bem ser o seu novo colega Scott (Justin Timberlake no seu pior). Não dá para perceber o que é que os argumentistas de Bad Teacher tinham em mente. Recomendo o suicídio a quem olhar para Elizabeth como um modelo a seguir por dizer o que lhe vem à cabeça, perseguir os seus objectivos ou qualquer treta desse género. Podia ser uma mulher independente e forte, mas é só desprezável. Podia ser uma mulher amargurada à procura de uma catarse, mas é só insidiosa. Elizabeth é assim porque sim, por egoísmo, o que torna o filme irrelevante, inconsequente, intragável. Juntando a isto a total falta de química entre os actores, a típica falta de qualidade técnica destas comédias descartáveis de Hollywood e um final incompreensível e irresponsável, que existe apenas para iludir o espectador de que tudo está bem quando acaba bem e que ainda bem que a nossa protagonista não sofreu consequências depois de todo o mal que fez, Bad Teacher é um sério candidato a pior filme do ano.

2/10

TOP5: Robert Bresson

05. The Trial Of Joan Of Arc (1962)

Raramente se vê alguém indicar este como o melhor Bresson, mas é essencial, não só é extremamente austero, como toca em assuntos como fé, aprisionamento e solidão, que permeiam a sua filmografia. Fascinante e complexo.

04. Four Nights Of A Dreamer (1971)

A seguir a Diary Of A Country Priest, o filme mais cordial de Bresson, um belo conto de amor e arte. Quem dera que houvessem cópias melhores a circular...

03. A Man Escaped (1956)

Económico ao máximo, Bresson segue o desejo de fuga dum prisioneiro político, o que não é mais do que o desejo comum nos seus filmes de abandonar um estado de solidão.

02. Diary Of A Country Priest (1951)

"The simplest tasks are by no means the easiest..."

01. The Devil Probably (1977)

Aparentemente, um dos mais frios filmes de Bresson e dos que mais terá influenciado realizadores como Haneke ou o duo Danièle Huillet/Jean-Maria Straub, mas também o mais denso e analítico.