sábado, 31 de agosto de 2013

CURTAS: Doodlebug (Christopher Nolan, 1997)

Ver esta curta de Christopher Nolan, o seu primeiro trabalho, feito quando ainda estudava Literatura Inglesa na University College London, é como ver o prenúncio do autor popular que hoje é. Tirando o tom kafkaniano que perdeu rapidamente, é incontornável a semelhança de Doodlebug com a lógica circular de Inception e a fotografia a preto e branco lembra também algumas cenas de Memento. Criatividade não falta.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Lincoln (Steven Spielberg, 2012)

Steven Spielberg parece ter iniciado um ciclo, com duração ainda por determinar, de emulação de um dos seus realizadores preferidos, John Ford, cujos filmes, recheados de beleza pictórica, mensagens anti-guerra, retratos de família ou cenários históricos, apareciam como referência evidente em War Horse. O mesmo acontece em Lincoln, com o guião de Tony Kushner exclusivamente focado na passagem do 16º presidente dos EUA pela Casa Branca, qual sequela tardia de Young Mr. Lincoln.

Ao contrário de War Horse, a necessidade de contar uma história ficcional com contexto histórico específico é secundarizada pela intenção de ponderar o impacto na História de uma figura icónica real que pode até ter ficado aquém do seu potencial e nem ter materializado todas as suas ideias por ter sido arrastado para uma guerra civil brutal no início do seu mandato, posteriormente encurtado por um assassinato público, e sempre envolto em incompreensão, por vezes à conta da sua teimosia paciente.

De modo adequado, o filme começa in media res, em plena batalha de Jenkins’ Ferry, com especial atenção aos soldados negros, que viam, finalmente, a possibilidade de serem livres ao fundo do horizonte, mas rapidamente somos conduzidos à Washington do séc. XIX, onde o esmero no design de produção a nível de cenários e bigodaços se torna mais evidente. Não abdicando de uns brilhos nas lentes e de realçar a altura de Lincoln para lhe dar uma imagem quase divina, Spielberg acaba por mostrar várias facetas.

Cedo fica claro que mesmo do lado do antigo presidente há quem esteja disposto a não dar seguimento à Proclamação da Emancipação, o primeiro passo no sentido de terminar a escravatura, válida apenas durante a guerra. Com a rendição da Condeferação dos estados sulistas próxima de se tornar uma realidade, é necessário legislar a igualdade dos negros no Congresso e os dilemas políticos que rodeiam tal mudança são imensos, mas são os dilemas morais que mais preocupam Lincoln.

Ele sente-se a ser empurrado de todos os lados para trair aquilo em que acredita e a abandonar o processo que já iniciou. A sua obstinação leva-o a comportamentos ditatoriais e a tácticas que podem ser consideradas persecutórias para conseguir votos a favor da sua 13ª Emenda. Apesar da sua fleuma num ambiente profissional, com a sua esposa e o seu filho mais velho a imagem de auto-controlo é contrariada com frequência, revelando as suas fragilidades e receios.

A depressão de Mary e a insistência de Robert em alistar-se, como os filhos de tantos outros americanos, tiram-no do sério. A personificação de Daniel Day-Lewis é impressionante, mas nestes momentos em especial a sua mestria vem ao de cima, veja-se a discussão entre a sua personagem e a de Joseph Gordon-Levitt. Às vezes as pessoas mais próximas são as que mais se magoam umas às outras; o pai não resiste e dá uma chapada ao filho, imediatamente segurando-o, arrependido.

Entre Gangs Of New York, There Will be Blood e Lincoln estão provavelmente as três melhores interpretações do séc. XXI. A forma como Daniel Day-Lewis se torna no papel é o método de Lee Strasberg levado ao extremo, onde mais ninguém consegue chegar hoje em dia. De resto, para um filme de 2 horas e meia de Spielberg composto maioritariamente por conversa, passa bastante bem e com uma dose equilibrada de sentimentalismo. Lincoln é de um classicismo esclarecido e cativante.

8/10

sábado, 24 de agosto de 2013

FOTOGRAFIAS: The Dark Knight

Numa semana em que o mundo cinéfilo parece estar a digerir mal a notícia de que Ben Affleck terá sido escolhido para interpretar Bruce Wayne num filme que o colocaria frente-a-frente com o Superman de Henry Cavill (a ideia do filme parece-me mais disparatada e precipitada do que a escolha do actor...), deixo aqui uma fotografia da rodagem de The Dark Knight, onde se vê Heath Ledger a saltar sobre Christian Bale.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

TRAILERS: Salinger (Shane Salerno, 2013)

Qual deles o maior fenómeno: as deambulações sem rumo de um jovem (Holden Caulfield, dos mais famosos e dos meus preferidos narradores subjectivos) por Nova Iorque em The Catcher In The Rye, um dos mais adulados livros do séc. XX, ou a reclusão voluntária durante décadas, até à sua morte em 2010, do autor? Este documentário promete algum insight na vida de J.D. Salinger, um homem marcado pela sua experiência militar durante a 2a Guerra Mundial, constantemente à procura de respostas em religiões e crenças e um cinéfilo inveterado. We'll see.

domingo, 18 de agosto de 2013

Seal Team Six: The Raid On Osama Bin Laden (John Stockwell, 2012)

Como seria de esperar, a busca e a morte de Osama Bin Laden começam a alimentar a máquina de Hollywood. Em Janeiro de 2013, Zero Dark Thirty recolheu cinco nomeações para os Óscares, das quais apenas uma se materializou num prémio, mas ficou reforçada a ideia de que a América sente uma enorme atracção pelos episódios mais negros e dúbios da sua história, desde Pearl Harbor à guerra do Vietname ou ao assassinato de John F. Kennedy. Antes, o National Geographic transmitiu este Seal Team Six.

Pelos olhos de vários intervenientes na operação, a acção desenrola-se a um ritmo consistente, explorando o trabalho dos militares, da CIA e dos agentes infiltrados e realçando as incertezas que têm de ser mitigadas para o ataque ao complexo onde o terrorista vivia com grande parte da família no Paquistão ser aprovado. Entrevistas com as personagens, como se se tratasse de um documentário, servem de interlúdios – dispensáveis, já que o argumento é bastante auto-explicativo.

O maior ponto de interesse é guardado para o fim, com a reconstituição da missão (cujo objectivo é apenas revelado à equipa no momento em que são mobilizados para a empreenderem). Os tiroteios realistas, os planos POV e o ambiente nocturno, para além da satisfação da curiosidade mórbida em ver um homem ser alvejado até à morte, tornam a cena intensa q.b.. Obama aparece todo o lado, omnipresente, enquanto Osama é apenas uma sombra fugaz e sem rosto na escuridão.

Facilmente se reduziria o filme a uma hora, cortando os dramas cliché e desinteressantes vividos dentro da Seal Team Six, que não levam a lado nenhum. Teria mais relevo perceber melhor o dia-a-dia dos agentes no terreno que fazem a papa toda para a CIA, chegando mesmo a entrar no complexo, disfarçados de junta médica. Com mais ou menos exatidão quanto ao que aconteceu (supostamente as câmaras nos capacetes são um mito, por exemplo), este tele-filme é competente e, claro, revestido de fascínio histórico.

6/10

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Mientras Duermes (Jaume Balagueró, 2011)

Lucas Vidal está longe de ser um grande nome no que diz respeito a música para cinema, mas o seu trabalho neste Mientras Duermes de Jaume Balagueró (esse sim, um nome cada vez maior na realização de cinema de terror) é de uma subtileza desarmante, algo triste, algo ameaçadora, perfeitamente adequada para um filme que segue um porteiro obcecado com uma jovem que vive no prédio em que ele trabalha. É uma história estranha, de intimidade invadida e confiança traída, que se cinge de quatro paredes - um dos melhores filmes de 2011.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

LISTAS: Rainer Werner Fassbinder

A lista dos 10 filmes preferidos de Fassbinder incide luz sobre a sua própria filmografia. Nela é possível verificar o gosto do alemão pelo melodrama, que cultivaria em Ali: Fear Eats The Soul e outros onde o comentário social é por regra mascarado pelas convenções de um género dado à emoção, ainda que seja curioso não estar incluído nenhum filme de Douglas Sirk, incontornável nesta matéria. Por outro lado, nota-se um fetiche com nazis. Até fico a pensar se Lili Marleen não terá sido um dos filmes que mais gosto lhe deu fazer...


  • The Damned (Luchino Visconti, 1969)
  • The Naked And The Dead (Raoul Walsh, 1958)
  • Lola Montes (Max Ophuls, 1955)
  • Flamingo Road (Michael Curtiz, 1949)
  • Salò, Or The 120 Days Of Sodom (Pier Paolo Pasolini, 1975)
  • Gentlemen Prefer Blondes (Howard Hawks, 1953)
  • Dishonored (Josef von Sternberg, 1931)
  • The Night Of The Hunter (Charles Laughton, 1955)
  • Johnny Guitar (Nicholas Ray, 1954)
  • The Red Snowball Tree (Vasili Shukshin, 1973)