sábado, 28 de julho de 2012

TOP5: Jogos Olímpicos

05. Miracle (Gavin O'Connor, 2004)
Milagre no Gelo foi o nome dado a uma final de hockey entre União Soviética  e Estados Unidos nos Jogos de Inverno de 1980. Os primeiros eram considerados favoritos, mas a visão de equipa de um treinador com azar mas com o espírito certo levaria a um grande pontapé nos tomates dos russos, numa altura em que a Guerra Fria ainda fazia mossa.

04. Astérix Aux Jeux Olympiques (Frédéric Forestier, Thomas Langmann, 2008)
Não é que os filmes do Astérix sejam um prodígio de absolutamente nada, nem sequer do humor que tanto se esforçam por fazer resultar, mas este é um olhar raro (ficcional, mas legítimo) aos Jogos de antigamente... e não deixa de ser obrigatório para os fãs dos irredutíveis gauleses, se não for pela qualidade, só pelo facto de existir.

03. Prefontaine (Steve James, 1997)
Um dos primeiros filmes de Jared Leto como protagonista, mostra a luta e o esforço de um jovem determinado, que, infelizmente, morreu cedo demais e nunca chegou a ser campeão olímpico. Do mesmo realizador de um dos melhores documentários de sempre, Hoop Dreams (1994), também ele sobre desporto.

02. Chariots Of Fire (Hugh Hudson, 1981)
Bem, se estes top5 fossem única e exclusivamente regidos pelo apego de um filme ao tema escolhido, certamente que neste caso Chariots Of Fire viria em primeiro. Não há filme que mostre melhor a vontade de vencer e a preparação de atletas que este, já para não falar da mítica banda-sonora de Vangelis, que hoje é basicamente tão ou mais reconhecida que o próprio filme. Típica qualidade britânica.

01. Munich (Steven Spielberg, 2005)
A verdade é que, apesar de não ser sobre desporto e, muito menos, sobre o espírito olímpico, Munich é um filme monumental sobre assuntos muito mais preocupantes, que usa os Jogos como ponto de partida. A captura e posterior assassinato de atletas israelitas por terroristas palestinianos em 1972 e as consequências sociais e políticas do acontecimento são exploradas com detalhe, à medida que Spielberg segue uma célula de espiões judeus reunidos para uma grande missão secreta de vingança. É talvez o filme mais maduro e claustrofóbico do realizador, onde a violência é crua e chocante, onde as perguntas e respostas são ambíguas e inúmeras, onde o medo do terrorismo parece tão real quanto nos dias de hoje. Uma obra-prima.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

FOTOGRAFIAS: Rouben Mamoulian

O realizador de Dr. Jeckyll And Mr. Hyde (1931) não se consegue conter e é apanhado a olhar para o decote de Miriam Hopkins durante o lanche, que Frederic March devora, dando uso à dentadura de Mr. Hyde.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Seance On A Wet Afternoon (Bryan Forbes, 1964)


Já alguma vez se puseram a ver um filme e tiveram a sensação logo nos primeiros segundos de que ia ser genial e no fim iam ter de reconsiderar o vosso top100, os vossos actores preferidos ou os vossos realizadores com carreiras mais invejáveis? Acho que se há algo mais certo e comum a todos os cinéfilos do que compilar listas de todos os tipos, sobre todos os detalhes possíveis e imaginários, deve ser este sexto sentido que, não sei, se calhar só se adquire ao fim de algum tempo, mas que aparece aqui e ali como uma premonição repentina de que estamos bem encaminhados para uma grande viagem no conforto da nossa cadeira assim que aparecem os créditos iniciais.

Não sei bem explicar porque é que isso acontece e de certeza que as razões são diferentes de pessoa para pessoa, mas Seance On A Wet Afternoon foi um desses filmes para mim. Abre em cold open com uma sessão espírita enigmática e a seguir desfilam planos cheios de contrastes nítidos a preto e branco de um bairro tipicamente inglês, coberto pelo mais sibilino de todos os scores de John Barry, onde a humidade da chuva indicia acontecimentos futuros nublosos. No interior de uma das casas mora Myra e Billy, mulher e marido, médium e assistente, Kim Stanley e Richard Attenborough. Vestidos de preto num quarto completamente branco, têm tudo pronto e a bênção de Arthur...

Tudo o quê? Arthur quem? Isso são perguntas que vão tendo resposta ao longo do filme. Claro é que a segurança de Myra contrasta com a relutância de Billy em levar a cabo o plano que lhes vai trazer dinheiro e atenção para o suposto dom supernatural dela: raptar a filha de um casal rico e oferecer serviços de consultadoria espiritual ao mesmo e à polícia, controlando a situação de duas maneiras, por um lado recolhendo o dinheiro da recompensa, por outro resolvendo a questão ao reunir a família quando bem lhes apetecer. Apesar da frieza com que falam, executam e prolongam as suas transgressões, há intangíveis que Myra e Billy têm dificuldade em conciliar, alguns criados por eles.

Isto porque aquilo que os separa é talvez mais do que aquilo que os une. No meio do circo que erguem à sua volta está essa dúvida, são duas pessoas com mágoas profundas e caracteres antagónicos. Ela, dominante, controladora, sempre pronta a atirar as culpas da mais simples contrariedade para o marido (brilhante o pormenor de ela desligar uma grafonola enquanto fala e depois acusar Billy de o ter feito, quando finalmente se cala e nota a ausência de música - claro que nós não sabemos se ela se lembra ou se melindra o marido por maldade), mas nunca perde a compostura. Ele, patético, com maior coração, menor coragem, manietado por Myra durante anos, reduzido a um tarefeiro cobarde.

Stanley e Attenborough têm o tipo de prestação que merece Óscares, sim, mas também vénias, salmos, templos e oferendas divinas. São de outro mundo, de uma química inabalável, com uma atenção e uma personificação extremas, cuja contenção, típica de quem quer evitar conflitos, é ainda mais desesperante dadas as circunstâncias e ainda mais amplificada dado o silêncio cortante em que Bryan Forbes deixa as cenas mais intensas a marinar. O realizador cria a mais ululante atmosfera a partir da secura com que este casal se trata e com a secura com que este casal trata os crimes que cometem, guardados como segredos em enquadramentos perfeitos, numa casa suburbana perfeita.

Tornam-se muito tristes e desconfortáveis os demónios que Myra e Billy carregam dentro de si. Ela, em especial, construiu um mundo de ilusão em que tem poderes que o comum dos mortais não tem, para ultrapassar o passado, para se superiorizar ao marido, para se sentir importante, que a afastou completamente da realidade. O marido é cúmplice por não a confrontar. É doloroso ver duas pessoas resvalarem desta forma. Todos os elogios que se possam fazer à realização, escrita e interpretação exibidas em Seance On A Wet Afternoon são poucos, é um thriller com uma carga psicológica, uma humanidade e uma paciência inauditas, que não se encontram no cinema de hoje.

9/10

sábado, 21 de julho de 2012

CURTAS: T,O,U,C,H,I,N,G (Paul Sharits, 1969)

Um dos porta-estandarte do cinema estrutural americano dos anos 60, movimento experimental em que o foco é completamente virado para a forma e certas características estéticas, Paul Sharits foi um artista visual e professor universitário com particular gosto em induzir epilepsia no seus público. Em 1969 fez um dos seus filmes mais conhecidos, T,O,U,C,H,I,N,G, em que a repetição de sons, imagens e efeitos ganha contornos esquizofrénicos. Vejam por conta própria.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

POSTERS: Wes Anderson

Bottle Rocket (1996)

Rushmore (1998)

The Royal Tenenbaums (2001)

The Life Aquatic Of Steve Zizou (2004)

The Darjeeling Limited (2007)

Fantastic Mr. Fox (2009)

Moonrise Kingdom (2012)

Qual deles o melhor? Poster e filme?

domingo, 15 de julho de 2012

A Dangerous Method (David Cronenberg, 2011)


Afirmar que Cronenberg mudou nos últimos anos pode ser, como dizia um treinador português de futebol, uma "faca de dois legumes." É verdade que não se encontram em A History Of Violence as mutações corporais que se via em Naked Lunch nem se vêem em Eastern Promises os parasitas em ambientes inócuos de Shivers, mas continua presente uma grande preocupação com as transformações alavancadas por ocorrências bizarras e perturbações psiquiátricas. Talvez o caminho tenha deixado de ser feito de dentro para fora e as manifestações grotescas de exteriorização desses fenómenos seja agora mais contida, cingindo-se aos padrões comportamentais, mas continuam a ser muito reveladoras do quão negra pode ser a mente humana.

A Dangerous Method acerca-se, porquanto, com bastante naturalidade. Polido e produzido como nenhum outro dos seus filmes até agora, não é mais do que um duelo de intelectos menos sangrento que os de Scanners, uma exploração de fetiches tão sádicos como em Crash, uma história clínica de psiquiatria mais explicativa que Spider, em que Carl Jung e Sigmund Freud iniciam uma amizade com pouco futuro, dadas as suas opiniões divergentes no assunto da psicanálise, os seus caracteres arrogantes e as diferenças religiosas que também fazem a sua mossa, sub-repticiamente. No meio, claro, uma mulher, Sabina Spielrein, uma paciente em quem Jung testa os métodos de Freud e com quem desenvolve os seus próprios, para além de com ela iniciar uma relação extraconjugal.

O trio Michael Fassbender, Viggo Mortensen e Keira Knightley apresenta-se em grande forma, mas o papel do segundo acaba por ser reduzido. É o envolvimento de Jung com Sabina que ocupa 2 terços do filme, revelando o lado mais frágil de um psiquiatra que pretendia passar uma imagem de grande sobriedade e compostura, mas que acabou por não resistir aos avanços da jovem que tencionava curar e orientar para uma vida socialmente aceitável, aliás a sua grande preocupação. Jung não se contenta com a compreensão de uma doença, quer levar cada doente a ser a pessoa que sempre quiseram ser. Para isso acha vital entrar em território inexplorado, além dos factos e a todo o vapor para o terreno do inexplicável, contra os conselhos de Freud. Onde chegará?

Em privado e nas costas da mulher e das filhas, alimenta o sadomasoquismo de Sabina. São cenas incómodas, em que é difícil perceber se existe amor ou apenas um interesse mórbido. Knightley e Fassbender exploram esta relação com as quantidades corretas de embaraço e entrega. É inegável a forma como as suas inteligências se parecem complementar, especialmente à medida que os anos passam e Sabina acaba por se tornar ela própria uma médica de renome. Entrementes, a cordialidade de Freud, com quem corresponde frequentemente, revela-se falsa e efémera. Falam muito mas não há consensos e ambos parecem conscientes das limitações dos seus trabalhos. A diferença é que Freud aceita-as e Jung é atormentado por elas.

Testam-se a cada frase, dizem ver o outro como igual mas não o fazem realmente e os preconceitos de Freud não deixam muito boa imagem dele. É pouco examinada a ligação de Jung com áreas tangenciais como a astrologia, sonhos e superstições, uma das razões de divergência entre os 2 psicanalistas e da queda da saúde mental do próprio Jung. Há alguma superficialidade no argumento, que deixa o filme dependente demais, para o fim, da típica trama da amante ofendida e alguns eventos passam com muita rapidez e pouca notabilidade, como a partida temporária do suíço do hospital logo no início para serviço militar ou a ida de Jung e Freud à América, da qual acabamos por ver apenas a viagem de barco. São pormenores que acabam por não acrescentar nada.

No fim, toda a energia de Jung parece ter-lhe sido sugada por Sabina, que estará melhor na vida do que o homem que amou e que a tratou. Ceder aos seus princípios e tomar uma amante minou o seu casamento mas não há divórcio, minou a sua reputação mas continua a ter trabalho. Jung ainda tinha muitos anos de vida e os seus trabalhos mais pessoais pela frente, mas em 1913, quando A Dangerous Method acaba, ele não é o mesmo homem. É um homem que sabe o quão fraco é, desligado, prestes a refugiar-se no terreno do delírio. Estas personagens sui generis são exatamente a génese dos filmes mais surreais de Cronenberg, como os interrogatórios de abertura sugerem imediatamente. É então, de certa forma, apropriado que este seja o mais convencional e acessível da sua carreira.

7/10

sexta-feira, 13 de julho de 2012

TRAILERS: Oz: The Great And Powerful (Sam Raimi, 2013)

Aparentemente, o filme só sairá em Portugal a 8 de Março do próximo ano, mas ao menos já se pode ver o trailer. James Franco interpreta o feiticeiro Oz nesta pretensa prequela do original The Wizard Of Oz (Victor Fleming, 1939). O realizador Sam Raimi sempre foi um mago dos efeitos especiais e este filme parece-me até mais interessante em termos visuais do que Alice In Wonderland (Tim Burton, 2010), com o qual partilha o produtor Joe Roth. Rachel Weisz, Michelle Williams e Mila Kunis compõem o elenco, mais três boas razões para aguardar por Oz: The Great And Powerful!

terça-feira, 10 de julho de 2012

FEST 2012


Quando se pensa em Óscares, a primeira localidade que vem à cabeça do comum dos mortais é a longínqua Hollywood, com os seus numerosos estúdios, as grandes letras de ferro no monte Lee e estrelas imortais nos passeios. Mas e se eu vos dissesse que, durante uma semana, podiam encontrar e dialogar com vencedores dessas almejadas estatuetas numa pequena cidade lusitana a cerca de 30kms do Porto, mais conhecida pelo seu casino? É verdade, de 1 a 8 de Julho o FEST (Festival Internacional de Cinema Jovem) proporcionou esse contacto em Espinho, um evento que promove novos cineastas e dá a conhecer os seus trabalhos, sejam longas, curtas, ficção ou documentário, mas também investe em formação, sob a forma de conferências com profissionais com currículo nas mais variadas vertentes técnicas da sétima arte, dando perspectiva a quem está agora a começar e a quem quer que se interesse minimamente pelos temas.


05/07/2012 - Quinta

Desloquei-me cedo ao bonito Centro Multimeios de Espinho, com o intuito de levantar a minha acreditação antes da primeira sessão da manhã, uma conversa com o espanhol Fernando Trueba. Recentemente nomeado para um Óscar pela realização de Chico And Rita, uma romântica animação sobre a cena musical cubana, teve um dos pontos altos da sua carreira em 1994, quando ganhou na categoria de Melhor Filme Estrangeiro com Belle Époque (onde se passeava uma adolescente Penélope Cruz), prémio que aceitou proferindo: "Eu gostaria de acreditar em Deus para Lhe agradecer, mas só acredito em Billy Wilder, por isso obrigado Sr. Wilder." E, verdadeiro a si mesmo, Trueba mencionou o seu ídolo por mais de uma vez nas duas horas que passou com uma plateia quase exclusivamente composta por jovens na Sala Tempus (a principal do Centro), destacou The Apartment como um dos seus filmes preferidos de todos os tempos e talvez o mais perfeito de sempre a balançar drama, comentário social e comédia e falou ainda de Hitchcock, Sullivan's Travels e Renoir, entre outros. Mais concretamente sobre a sua forma de trabalhar, disse nunca usar storyboards e só montar o filme quando tem tudo gravado, processo que acompanha de perto e no qual é importante haver sintonia com o editor. Aconselhou alguns dos actores presentes a não se limitarem a estudar um método de interpretação, defeito que considera ser frequente nos americanos, tal a sua veneração pelo método de Stanislavski. O momento cómico da manhã veio quando mencionou um projecto com Sharon Stone e John Travolta que chegou a aceitar fazer e para o qual estava optimista depois de conhecer a primeira (uma mulher acessível e inteligente, segundo Trueba), mas de que acabou por desistir depois de conhecer o segundo ("não há dinheiro no Fort Knox que pagasse ter de passar mais um segundo com John Travolta").


À tarde, almoçado, depois de experimentar a t-shirt do festival que me fora dada e de consultar o programa, decidi conhecer a Sala 2. Pequena e com pouca audiência, era onde passavam ciclos de curtas e comecei por ver um da London Film School, todas muito diferentes umas das outras, das quais vou destacar três:

Their Feast (Reem Morsi, 2011) aborda superficialmente os contrastes políticos no Egipto com uma história familiar de um jovem prestes a regressar a casa depois de uma temporada na prisão, na ressaca da Primavera Árabe. A escrita perde-se um pouco na forma como a sua mãe e irmãos preparam a sua chegada, por um lado mostrando um pouco como se vive nas classes baixas daquele país, por outro não oferecendo contexto sobre os efeitos da revolução na sociedade. Contém uma óptima interpretação da mãe e é uma boa proposta para quem gosta de cinema mais naturalista. 6/10

Partition (Emile Rafael, 2011) é extremamente confuso, totalmente preso a truques de metaficção que não levam a lado nenhum. Tenta retratar com o humor dum Charlie Kaufman o repentino laivo de inspiração dum escritor, cujas ideias parecem saltar das páginas e serem mais reais que a própria realidade, mas falha completamente. 3/10

Waking At Dawn (Onyinye Egenti, 2012) foi a melhor que vi neste dia, uma curta sobre conflitos religiosos numa aldeia algures na vastidão da Nigéria, que apanha duas inocentes crianças, uma muçulmana, outra cristã. O final merecia maior intensidade, mas é legítimo dizer que calma, realismo e espaço para reflexão é o principal para a realizadora Egenti. Aconselho a quem admire Ousmane Sembene. 7/10


Às 15:30, João Pedro Rodrigues (Odete; Morrer Como Um Homem) falava no auditório principal. Discreto, disponível para entrevistas e compreensivo com todas as abordagens de vários fãs, antes e depois do workshop, o cineasta lisboeta viu a conversa ser sobretudo orientada por uma moderadora italiana para o tema da representação da sexualidade no cinema. Curiosamente, fiquei com a ideia de que é muito maior o seu interesse em manipular as convenções associadas a todo o tipo de géneros possíveis, dos mais clássicos aos mais alternativos (tendo dado como exemplo a cena de Morrer Como Um Homem em que dois soldados se distanciam do seu pelotão para fazerem sexo, uma clara subversão da masculinidade do filme de guerra), do que propriamente de explorar qualquer tipo de comportamento menos convencional, ou melhor, a sexualidade e a obsessão das suas personagens são apenas meios para atingir um fim maior, o de desafiar os códigos do cinema e as expectativas dos espectadores. É uma abordagem interessante, que talvez seja minimizada tanto pela crítica como pelo público em geral, às vezes chocados ou doentiamente fascinados demais por verem um pénis num ecrã gigante para apreciar a inteligência da escrita de João Pedro Rodrigues. É certamente uma ideia que vou ter presente quando me dedicar a explorar melhor a sua filmografia.


Para aproveitar aquele que foi o meu primeiro dia de férias neste Verão, acabei por dar uma volta na marginal de Espinho e regressar a casa ao fim da tarde em vez de ouvir Martin Walsh (vencedor de um Óscar pela montagem de Chicago em 2003) falar. Já planeava voltar 2 dias depois.

07/07/2012 - Sábado

Luc Besson é dos realizadores europeus mais influentes e conhecidos das últimas décadas. Seja como produtor/argumentista de obras-primas (not!) como Bandidas e Taxi 4 ou como realizador de filmes tão populares como León ou The 5th Element, o francês parece não tirar uma folga. Importante na concepção destes últimos terá sido também Sylvie Landra, editora. A francesa entrou na sala às 11:00 e optou por conduzir o debate com o auxílio de muitos clips dos filmes em que trabalhou, uma decisão inteligente e muito me agradou ver cenas de León ou Manolete serem esmiuçadas. Uma, em especial, do segundo ficou-me na mente: Manolete é uma biografia sobre o toureiro espanhol com esse nome, que morreu devido a ferimentos infligidos por um touro. Para o clímax, Landra teve de percorrer 30 horas de dailies, tentado capturar o espírito e as regras dos espéctaculo, e deixando no ar a dúvida sobre quem, naquele momento, naquela altura da vida de Manolete, teria com ele uma maior relação de amor/ódio, se o público, se o touro, se a namorada em quem não consegue deixar de pensar. Perspicaz foi também o debate com a plateia sobre a importância da proximidade entre montagem de imagem e som.


Para a tarde estava marcada a presença de Tom Stern (director de fotografia de Gran Torino, Mystic River ou Hunger Games), para mim um dos grandes atractivos deste FEST 2012, mas tal acabou por não acontecer. Refugiei-me então durante horas na Sala 2, onde percorri 2 ciclos de curtas, um chamado Future Shorts, o outro Noruega, e que se mostraram muito mais interessantes que o de quinta-feira.

Em Tumult (Johnny Barrington, 2011), três guerreiros nórdicos parecem perdidos e a tentar sobreviver a ferimentos contraídos em batalha. A frieza do início (que podia ter saído de um dos filmes históricos de Pasolini) é subitamente contraposta com humor muito negro: um autocarro com turistas aparece, deixando-(n)os incrédulos, a pensar como é que tal anacronismo é possível. Rapidamente há mal-entendidos a modos que violentos entre os dois grupos de eras diferentes. 8/10

Helicópteros militares a sobrevoar um deserto iniciam manobras invulgares até, propositadamente, chocarem uns contra os outros, numa bola de fogo imensa, visível a quilómetros de distância. Planícies arenosas estendem-se no horizonte, o calor e a secura perpassam pelo filme, a banda sonora ribomba, cada vez mais alto e cada vez mais desordenada, numa mescla de ataque aos sentidos, como uma visão do apocalipse, até que aparece o título da curta: We'll All Become Oil (Mihai Grecu, 2011). Inacreditável. 10/10


O ciclo de cinema norueguês sucedeu-se pouco tempo depois; no geral, o melhor e mais equilibrado deles todos, cinco curtas com execuções muito diferentes mas que me surpreenderam pela sua consistência a nível de fotografia.

Começou com Come To Heaven Of Hearts (Linn Karen Forland, 2011), uma surpreendente viagem pelo mundo de uma idosa internada num lar. Sem diálogos e com imagens e associações de imagens bizarras mas extremamente originais, provocadoras e inesquecíveis, a realizadora consegue ligar-nos à psicologia de alguém claramente no fim da vida, talvez já com muito pouca noção da realidade, apenas presa a memórias vagas. 10/10

Seguiu-se Krantsid (Sutharsan Bala, 2009), uma história mais elaborada sobre imigrantes muçulmanos na Noruega, uma família de três elementos, uma rapariga, o irmão mais novo e adolescente, e o avô de ambos. Um retrato social que mostra personagens que não estão bem inseridos na sociedade em que se movimentam e que não os respeita, presos à tradição, querendo mais, enfim, claramente um quadro passível de gerar conflitos internos e externos ao trio. Apesar de algumas cenas me terem parecido mal construídas, como o encontro aleatório inicial entre a rapariga e um condutor de comboios, a fotografia deste filme é simplesmente única, com tons tão desaturados que só vemos azul e cinzento, para além de uma grande densidade de grão. 7/10


Nostalgia (Katie Hetland, 2009) foi a mais curta de todas; apesar de ter o aspecto de um anúncio da Milka, não deixa de ser muito comovente. Um idoso viúvo recorda a sua vida, em especial a sua vida em conjunto com a mulher da sua vida, através da música. Imagens do passado são rebobinadas na tela, tal como são rebobinadas na mente do homem. Deixa uma lágrima no canto do olho. 7/10

Ao ver Scratch (Jakob Rorvik, 2008) só me vinha um nome à cabeça: Joachim Trier. Talvez o realizador norueguês mais conhecido da actualidade, a sua influência nesta história de uma artista que planeia uma exposição de fotografia é notória, desde os ambientes urbanos, à escolha da actriz principal (Viktoria Winge, a mesma de Reprise), ao tema da obsessão, os paralelismos são muitos... e bem conseguidos. Lena persegue um rapaz de maneira doentia, tirando fotografias a preto e branco quando ele está desprevenido. Ao fim de algum tempo, o rapaz torna-se consciente da sua presença, confronta-a e isto resvala para uma relação disfuncional. É um filme muito moderno, acessível e bem escrito. 8/10

Por último, The Coned Ones (Kai Remi Hagen, 2010). Uma fantasia fabulosa em que um jornalista e um cameraman descobrem uma mini-civilização à parte de reformados, algures numa floresta, todos com o mesmo aspecto, cujos únicos interesses são jogar à malha e apanhar pinhas. O realizador tanto brinca com a potencial tristeza do envelhecimento como com a perversidade dos media, de uma forma cómica, excêntrica e agridoce, tudo ao mesmo tempo. Muito original. 10/10


A Noruega tem um futuro maravilhoso pela frente com realizadores deste calibre, espero que tenham hipóteses para continuar a trabalhar.

E assim acabou a minha experiência nesta oitava edição do FEST. Sinto que devia ter visto uma das longas em competição, tinha planos para ver o islandês Volcano (que acabou por vencer), mas tal acabou por não se proporcionar. Seja como for, a boa organização, o espírito jovem e a variedade do programa deste festival fizeram da minha passagem por Espinho um prazer. É claramente um espaço de descoberta e aprendizagem, destacando-se de eventos semelhantes por causa disso. Obrigado à Renata Curado pela disponibilidade; foi uma excelente oportunidade. Até para o ano!


sexta-feira, 6 de julho de 2012

Story Of A Junkie (Lech Kowalski, 1987)


Falar de filmes sobre drogas hoje em dia é falar de Requiem For A Dream, Fear And Loathing In Las Vegas ou Transpotting, obras de enorme qualidade e valores de produção, que trouxeram um vislumbre de uma subcultura destrutiva a um público mais generalista. É um assunto desagradável e fácil de usar como artifício de tragédia, mas raramente explorado com isenção. Story Of A Junkie colmatou essa lacuna por antecipação nos anos 80, mas ficou esquecido como mais um de muitos títulos da Troma Entertainment, a distribuidora independente americana de filmes-B fundada em 1974 por Lloyd Kaufman, um carismático empresário/realizador/whatever aclamado nos círculos de cinema chunga.

Pois este é talvez o mais realista retrato de um viciado que há - segue Gringo, um homem que simplesmente sobrevive para arranjar heroína, deambulando pelas ruas de Nova Iorque noite após noite sem destino, planos ou objectivos, preso numa ilha, preso num círculo de autodestruição. É, acima de tudo, um documentário sem comentários - apesar de algumas cenas serem encenadas para mostrar a crueldade dos que alimentam e se alimentam deste negócio, fazendo uso da violência sempre que necessário (e às vezes só porque sim), a grande maioria do filme consiste apenas em transacções curtas de dólares por saquinhos de plástico, monólogos bamboleantes e injecções reais de droga.

Gringo, ou John Spaceley, era, afinal, uma pessoa bem real, que se auto-interpretou (morreu com SIDA poucos anos depois). Não é julgado, nem lhe é requerida uma grande actuação, apenas que mostre a sua vida. Esta é a Nova Iorque suja e feia que não se costuma ver, e mesmo quando se vê nunca é tão suja ou feia quanto aqui. A câmara do realizador Kowalski não se coíbe de mostrar o sangue que escorre com o picar da agulha, o delírio da moca, os vómitos da ressaca, chegando mesmo a combinar isso tudo numa montagem final tão ou mais enjoativa e desconcertante que a vista em Requiem For A Dream, uma corajosa e difícil de ver exibição de cinema verité.

É verdade que Story of A Junkie é uma produção do mais low-cost possível, sem enredo ou garbo técnico. Foi-me vendido como um drama e talvez tenha sido vendido como um drama desde que foi feito, perpetuando assim um equívoco, pois é claro que o intuito nunca foi contar uma história ou estabelecer grandes planos (ainda assim, tocante o relato de Gringo da sua vida, entrecortado por fotografias antigas). Aborrecido, repetitivo e confuso são críticas legítimas de se lhe fazer, mas Story of A Junkie não é irrelevante. Torna-se difícil recomendar um filme nestas condições, mas quem tiver paciência e estômago forte pode encontrar recompensa no seu desembaraço. Que abismo humano...

3/10

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Transformers: Revenge Of The Fallen (Michael Bay, 2009)

Ah, Michael Bay... Quem melhor para usar uma música Rock desta potência, quem mais poderia proporcionar o cenário de explosões, adrenalina e robôs assassinos que a música precisa? No one, that's who!