domingo, 28 de julho de 2013

Act Of Violence (Fred Zinnemann, 1948)

Depois de em The Seventh Cross ter abordado, numa altura em que era raro ou delicado fazê-lo, os horrores dos campos de concentração nazis, Fred Zinnemann volta em 1948 ao confinamento em tempos de guerra de uma maneira menos directa, com um conto de vingança e decepção numa América entretanto declarada vitoriosa. Robert Ryan impõe toda a sua fisicalidade ao entrar em cena como um monossilábico nova-iorquino que sai de casa apressadamente para atravessar o país até à Califórnia. Mancando e com uma arma carregada, o seu objectivo é muito claro: matar Frank Enley.

Enquanto o primeiro começa por ser apresentado como uma figura ameaçadora e deformada, o segundo aparenta ser o oposto, um veterano das forças armadas com noções vincadas de família e comunidade, que promove o investimento na construção civil, contribuindo para o crescimento assolapado dos subúrbios, símbolo de uma nação próspera. Zinnemann explora uma ideia tornada recorrente, entrando por uma dessas casas adentro para revelar que a perfeição do espaço pode ser traiçoeira. Lentamente, os papéis invertem-se, os contornos difundem-se e um dia de pesca solarengo dá lugar a uma noite de terror urbano.

Parkson quer ajustar contas com o passado, depois de sobreviver a um massacre de prisioneiros de guerra cuja fuga foi denunciada às SS pelo seu superior, o oficial Enley, em troca de comida. Eternamente arrependido por ter abdicado dos seus princípios morais, este tem desde então primado por ser um pai, marido e cidadão exemplar. Talvez por isso seja difícil condená-lo completamente e se torne fascinante seguir a sua viagem pelos recantos mais insidiosos de Los Angeles, embebedando-se, escondendo-se, afastando-se para proteger a esposa, tentando encontrar uma solução.

A integridade é um tema de toda a filmografia de Zinnemann e também as mulheres deste filme se sentem ameaçadas, arrastadas por amor ou pela fortuna para o circuito de culpa e desilusão que Parkson e Enley não conseguem ultrapassar, o mesmo que perpassa pelo mais recente The Master. As caras metades de ambos unem-se para evitar males maiores, mostrando ser mais ponderadas e compreensivas perante uma situação que está longe de ser preto no branco. Já Pat oferece as soluções que conhece, retraindo-se de tirar proveitos da situação; Mary Astor traz dignidade a uma personagem com pouca sorte na vida.

Efectivamente, Act Of Violence faz-se de camadas e camadas diferentes de cinzento sobrepostas e realçadas pela cinematografia expressiva e arenosa de Robert Surtees, que considero ser das melhores de sempre em qualquer film-noir. Alguns planos, como o que inclui o funicular Angels Flight, um tesouro escondido da cidade, ou a sequência no túnel, que faz a memória dos que morreram por sua causa ecoar na cabeça de Enley, são imperdíveis. Dentro do género, poucos conseguem ser tão implacáveis e aludir com tanta intensidade às incertezas do pós-guerra.

9/10

quinta-feira, 25 de julho de 2013

CURTAS: Newman Laugh-O-Grams (Walt Disney, 1921)

A trabalhar numa companhia de anúncios em Kansa City, Walt Disney desenvolve um interesse por animação, mais especificamente da técnica de desenho directamente em celulóide (cel animation), por oposição aos recortes e colagens que era obrigado a fazer (cutout animation). Com uma câmara emprestada e a promessa do proprietário de um cinema local de passar os seus trabalhos, Disney  conseguiu criar a sua primeira curta conhecida, Newman Laugh-O-Grams. Rapidamente criou o seu próprio estúdio e a sua popularidade crescia tão rápido quanto as dívidas que amealhava. Quando o dinheiro se esgotou de vez, decidiu mudar-se para a Califórnia, com a ideia de começar uma série de cartoons sobre a Alice no País das Maravilhas, fundando para o efeito o Disney Brothers Cartoon Studio no centro de Los Angeles em 1923. O resto é história.

terça-feira, 23 de julho de 2013

CITAÇÕES: Chronicle Of The Years Of Fire (Mohammed Lakhdar-Hamina, 1975)

Ahmed: All our votes won't change anything. Elections, past and present, are only a sham. And I tell you: if we follow this path, they won't take us seriously. We'll be accomplices and compromise the future.

domingo, 21 de julho de 2013

Catfish (Henry Joost, Ariel Schulman, 2010)

Classificar Catfish não é fácil e o desafio primordial é conseguir determinar se é real ou não. Os realizadores insistem que sim, mas basta uma rápida análise dos seus currículos para perceber que Henry Joost e Ariel Schulman têm feito carreira como funâmbulos, sempre na corda bamba entre ficção e documentário, não sendo de espantar a sua associação ao franchise Paranormal Activity. Ainda assim, não deixa de ser estranho que os dois realizadores se tenham interessado pela história a princípio inofensiva do romance platónico de um companheiro de quarto com uma artista que este apenas conhece pelo Facebook.

Tudo começa quando a meia-irmã de 8 anos da misteriosa Megan Faccio contacta Nev, um crédulo fotógrafo que vê um dos seus trabalhos publicados no New York Times e acaba por receber um quadro a reproduzir a imagem algum tempo depois, pelo correio. Através da internet e telefone, ele acaba por criar alguma afinidade com Abby, a mãe Angela, e o resto da família, residentes no Michigan. No entanto, alguns pormenores não batem certo e Nev acaba por compenetrar-se da possibilidade de estar a ser enganado, o que não é fácil de aceitar quando já está estabelecido um certo nível de confiança.

O filme nunca se desvia desta premissa, uma decisão correcta que sai prejudicada apenas pela demora em fazer avançar os acontecimentos. Perde-se bastante tempo no início com os monólogos fofos mas algo delirantes de Nev sobre mensagens trocadas, uma relação, um possível futuro com Megan, que, não obstante, aparenta ser realmente bonita e receptiva. Ilusões que o próprio não tem, felizmente, problemas em ridicularizar quando se apercebe da burla de que está a ser vítima, quando ela lhe envia ficheiros MP3 de covers supostamente feitos por si que são, afinal, tirados do Youtube.

Nada que uma viagem interestadual não resolva. Os 3 amigos especulam sobre a verdade, mas deixam-na revelar-se lentamente à sua frente a partir do momento em que conseguem localizar Angela. Acima de tudo, é mais triste do que chocante, mas revelada e recebida com compaixão. Apesar do pouco apuro técnico, propositado ou não, dependendo do contexto em que o filme foi afinal feito, é uma história satisfatória e singular, que, ao contrário do que a campanha publicitária na altura fazia crer, com referências a Hitchcock e por ai fora, tem mais de drama do que de suspense.

7/10

quarta-feira, 17 de julho de 2013

TRAILERS: Searching For Sugar Man (Malik Bendjelloul, 2012)

Este documentário foi uma surpresa para mim; cenário mais improvável e agridoce para um artista é difícil. Rodriguez é um músico de Detroit que lançou dois álbuns nos anos 70 e que tinha tudo para ter sucesso... mas não teve. Excepto na África do Sul, facto que, por força de várias circunstâncias, o próprio desconheceu durante anos, tendo entretanto desistido do showbiz e regressado aos biscates na área da construção. Uma história única, que valeu ao realizador estreante o Óscar de Melhor Documentário da última edição.

terça-feira, 9 de julho de 2013

POSTERS: Máscaras

O artista espanhol Alejandro de Antonio Fernandez assinou esta série de posters caseiros minimalistas que remetem para alguns dos mascarados mais famosos da história do cinema.