Classificar Catfish não é fácil e o desafio primordial é conseguir
determinar se é real ou não. Os realizadores insistem que sim, mas basta uma
rápida análise dos seus currículos para perceber que Henry Joost e Ariel
Schulman têm feito carreira como funâmbulos, sempre na corda bamba entre ficção
e documentário, não sendo de espantar a sua associação ao franchise Paranormal
Activity. Ainda assim, não deixa de ser estranho que os dois realizadores se
tenham interessado pela história a princípio inofensiva do romance platónico de
um companheiro de quarto com uma artista que este apenas conhece pelo Facebook.
Tudo começa quando a meia-irmã de 8 anos da misteriosa Megan Faccio
contacta Nev, um crédulo fotógrafo que vê um dos seus trabalhos publicados no
New York Times e acaba por receber um quadro a reproduzir a imagem algum tempo
depois, pelo correio. Através da internet e telefone, ele acaba por criar
alguma afinidade com Abby, a mãe Angela, e o resto da família, residentes no Michigan.
No entanto, alguns pormenores não batem certo e Nev acaba por compenetrar-se da
possibilidade de estar a ser enganado, o que não é fácil de aceitar quando já
está estabelecido um certo nível de confiança.
O filme nunca se desvia desta premissa, uma decisão correcta que sai
prejudicada apenas pela demora em fazer avançar os acontecimentos. Perde-se
bastante tempo no início com os monólogos fofos mas algo delirantes de Nev
sobre mensagens trocadas, uma relação, um possível futuro com Megan, que, não obstante,
aparenta ser realmente bonita e receptiva. Ilusões que o próprio não tem,
felizmente, problemas em ridicularizar quando se apercebe da burla de que está
a ser vítima, quando ela lhe envia ficheiros MP3 de covers supostamente feitos
por si que são, afinal, tirados do Youtube.
Nada que uma viagem interestadual não resolva. Os 3 amigos especulam sobre
a verdade, mas deixam-na revelar-se lentamente à sua frente a partir do momento
em que conseguem localizar Angela. Acima de tudo, é mais triste do que chocante,
mas revelada e recebida com compaixão. Apesar do pouco apuro técnico,
propositado ou não, dependendo do contexto em que o filme foi afinal feito, é
uma história satisfatória e singular, que, ao contrário do que a campanha
publicitária na altura fazia crer, com referências a Hitchcock e por ai fora,
tem mais de drama do que de suspense.
7/10
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