segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

La Stanza Del Figlio (Nanni Moretti, 2001)


A veneração de Nanni Moretti pelo humor físico e absurdo de personalidades incontornáveis do cinema americano como Buster Keaton ou Harold Lloyd é bastante evidente em filmes como Bianca ou Palombella Rossa, mas com o passar do tempo os paralelismos com Woody Allen foram-se tornando cada vez mais pronunciados e pertinentes, apesar da substituição de constantes referências e dilemas religiosos por políticos. Ambos refinaram um equilíbrio entre drama e comédia com um cunho muito próprio que, no caso do italiano, atinge o cume neste filme.

Não consigo imaginar pior destino para qualquer casal do que ter de enterrar um filho e terá sido esse medo a inspirar La Stanza Del Figlio, com o advento da paternidade para Nanni Moretti, na altura. Nota-se uma preocupação urgente e primordial sobre a imprevisibilidade do presente, no fundo a impossibilidade de uma família estar preparada para a morte prematura de um dos elementos, especialmente quando se acerca de forma tão súbita como aqui. Tudo se resume a um acontecimento universal, antecedido pela manutenção de um quotidiano trivial e sucedido pela sua degradação.

Na ausência de história, é surpreendentemente captivante ver momentos da intimidade caseira sucederem-se, por serem facilmente reconhecíveis e por adquirem conotações diferentes em alturas diferentes. Acho que as frustrações do trabalho, o cultivar de hobbies ou as refeições em conjunto preenchem o dia-a-dia de muito boa gente, e neste filme não passam por mais do que isso, não são instrumentos de um enredo, são apenas retratos através dos quais ficamos a conhecer estas pessoas. A câmara inclui-nos neste lar e fica intrínseco um nível de proximidade inexcedível.

A inconsistência no tom que afecta muitos dos trabalhos de Moretti não é um problema em La Stanza Del Figlio. É reconfortante não ser submetido nem a uma lavagem de humor seco, referências esquerdistas e desfechos desenxabidos, nem a um caldo de miserabilismo. Para voltar a Woody Allen, não é Bananas nem Interiors – e ainda bem. Há um sentimento orgânico de neutralidade que abre a possibilidade de nos rirmos quando o pai psicólogo pensa em piadas sobre os pacientes enquanto os ouve, antes de Andrea falecer, e de ficarmos vulneráveis quando lhe dá vontade de chorar em pleno consultório, depois do acidente.

Laura Morante volta a fazer, como em Bianca, uma grande dupla com o actor/realizador (que, já agora, nunca me pareceu muito musical, mas aqui usa a By This River do Brian Eno na perfeição). Brevemente, vemos como a dor de uma tragédia tão inesperada quanto verosímil pode levar à raiva, à separação física e emocional ou à culpabilização. Contudo, há que recuperar uma abertura de espírito que permita descobrir novas ou redescobrir antigas razões para seguir em frente. O festival de Cannes talvez nunca tenha premiado com a Palma de Ouro um filme mais desarmante na sua simplicidade.

8/10

4 comentários:

  1. Bom BLog! Parabéns, voltarei mais para ver com calma!

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    1. Obrigado Emerson! Também visitei o teu e gostei, estive a ler o texto sobre Os Irmãos Grimm :D

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  2. Grande recordação esta de Moretti. Vi-o na altura que saiu, belíssimo

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    1. Até me apetece ver mais filmes do Moretti, tinha-o encostado um pouco. Ainda tenho aqui o Habemus Papam...

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