sábado, 22 de fevereiro de 2014

The Bling Ring (Sofia Coppola, 2013)

À cabeça, um aviso: para quem já se aborreceu com os anteriores da Sofia Coppola é impossível aturar este filme. Não digo que seja mais vagaroso que Lost In Translation ou mais derivante que Marie Antoinette, mas o estilo é o mesmo, liderado por raparigas dengosas, composto por visuais poéticos e banda sonora pop ocasionalmente invasiva e preocupado com o voyeurismo e a exposição social. Pode ser impossível de aturar… ou completamente hipnotizante.

De facto, esta história verídica de um grupo de raparigas do secundário que, fascinadas com o culto das celebridades (moda que infelizmente está a ser exportada dos EUA para todo o mundo, promovendo-se gente que tem fama de ser famosa e zero de talento ou QI), encetam uma série de arrombamentos e roubos às casas de Paris Hilton, Orlando Bloom, entre outros, é uma bela tela da experiência da adolescência, focada em comportamentos muito específicos da sociedade actual.

Aproximado a The Virgin Suicides pelas próprias idiossincrasias da realizadora e simultaneamente separado por um tom tão crítico quanto compreensivo, The Bling Ring é, assim, o seu trabalho mais maduro – vai além de uma certa fantasia da juventude, conserva alguma frieza, não se deixa levar pela melancolia e assume ter consciência de que a puberdade acarreta inevitavelmente erros e más decisões, mas não é desculpa para a criminalidade.

Muito menos quando é protagonizada por pitas sem nada na cabeça. Por falar nisso, grandes interpretações da Katie Chang e da Emma Watson. É fácil desvalorizar o esforço das actrizes porque os papéis requerem alguma indolência aparente e beleza física, mas a verdade é que, conscientemente, replicam a inconsciência da superficialidade (Watson com excelentes laivos cómicos) que Coppola identifica num grupo materialista e manipulador, alheio a conceitos como privacidade e retórica.

Não vivem sem a validação da diversão imediata e do contacto permanente possibilitado pelas novas tecnologias, por outro lado parecendo incapazes de estabelecer relações com significado. Todos tentam ser iguais uns aos outros, querem as mesmas roupas, tablets e jóias, preferencialmente sem terem de se esforçar para os merecerem. Quanto aos pais, não transmitem valores de família ou de compromisso e educam os filhos segundo O Segredo, libertando-os apenas à noite…

A perfeição atinge-se com o longo plano do assalto à casa de Audrina Patridge (quem? não faço a mínima), filmado de muito longe. Sim, é o filme mais distante da Sofia Coppola. Aliás, pela primeira vez, ela parece não se identificar com as personagens, não há a aura de crise existencial de Lost In Translation ou Somewhere. Marie Antoinette era confusa porque estava presa ao palácio. Este gangue procura a vacuidade e essa inversão de papéis torna The Bling Ring singular.

8/10

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