Um dos filmes mais aguardados por estes lados é A Vida Invisível, regresso aos cinemas de Vítor Gonçalves, mais de 20 anos depois da sua estreia com Uma Rapariga No Verão, um dos maiores filmes portugueses de sempre. O trailer deixa uma aura de mistério e languidez que me captiva.
domingo, 29 de junho de 2014
sábado, 28 de junho de 2014
4 Copas (Manuel Mozos, 2008)
Diana (Rita Martins) tem todo o
ar de quem está a atravessar aquela fase na qual tomamos 90% das decisões de
que mais tarde nos arrependemos chamada adolescência, desde cortes de cabelo
que rapidamente ficam ultrapassados, passando por namoricos sem ponta por onde
se lhe pegue, a um natural processo tentativa/erro que se estende a todos os
desafios que teimam em afastar-nos irremediavelmente da infância e atirar-nos
para as responsabilidades adultas, plantando muitas dúvidas pelo caminho,
algumas das quais nunca chegam sequer a ser resolvidas. Apesar disto, ter essa
idade é um espectáculo. Em que outra altura faz tanto sentido ter um candeeiro
de lava no quarto, passares horas na rua a falar sobre amor com um amigo(a)
daqueles ou inscreveres-te em aulas de escalada só porque tens uma paixoneta
pelo(a) professor(a)? Claro que há factores inesperados que podem complicar as
contas; estares em vias de roubar o amante da tua madrasta pode ser um deles.
Apesar de tudo, Diana tem assente
que o pai é o homem da sua vida e faz o que está ao seu alcance para o ajudar e
proteger, incluindo esconder a relação ilícita de Madalena (Margarida Marinho, sensualidade
a turbinar), na esperança de que pudesse terminar pelo simples facto de ter
sido descoberta, para poderem voltar a fingir que são uma família. Claro que a
história não se desenrola assim e o ingénuo Gabriel acaba por sair de casa, com
o coração desfeito, como, aparentemente, já havia acontecido no passado. Apesar
da juventude, os níveis de responsabilidade e sanidade que Diana emana não têm
comparação com os das personagens mais velhas que a rodeiam.
Gabriel, Madalena e Miguel
(Filipe Duarte) são um perigo para o seu crescimento e não é de estranhar que
atirar-se de uma escarpa abaixo chegue a passar-lhe pela cabeça. 4 Copas tem um
ritmo lento que atrai o espectador paciente mas nem sempre o recompensa. Depois
de se explanar a premissa nos primeiros 30 minutos, o filme foca-se quase
exclusivamente na crescente proximidade entre Diana e Miguel (convincente) e no
vício do jogo que o unia a Madalena e os dois a uma espécie de máfia
(aborrecido). O pai é de tal forma esquecido que cheguei a pensar tratar-se de
uma homenagem a L’Avventura, o clássico de Antonioni em que duas almas
solitárias se aproximam depois do desaparecimento de uma amiga comum, que nunca
mais é mencionada até ao fim. Mas não, Gabriel lá volta para assinar os papéis
do divórcio, confirmando o seu estatuto de corno. Faço a ressalva de que é uma
interpretação afável de João Lagarto, para mim um dos melhores actores
portugueses no activo.
6/10
quinta-feira, 19 de junho de 2014
Cat People (Jacques Tourneur, 1942)
Jacques Tourneur senta-se mais
uma vez na cadeira de realizador num projecto de Val Lewton e o resultado é um
sucesso, no mínimo ao nível de I Walked With A Zombie, certamente maior que The
Leopard Man. Em comum, este segundo tem com Cat People também uma ameaça
felina, como os títulos fazem questão de revelar. Porém, a incerteza sobre a
possibilidade de uma (ou mais) pantera(s) se soltar(em) que toma conta de Cat
People adiciona-lhe uma camada de ocultismo que a simples espera pela próxima
vítima por esgravatamento não pode dar a The Leopard Man.
Irena (Simone Simon) não é só uma
imigrante sérvia bonitinha por quem Oliver (Kent Smith) é seduzido e amestrado facilmente,
descende dum grupo de bruxas que escaparam à morte escondendo-se numas montanhas
e desenvolvendo poderes de transfiguração. Pelo menos é nisto que ela acredita
e, no mundo civilizado, este poder torna-se numa maldição. Basicamente,
qualquer demonstração de afecto ou estímulo sensual podem acordar estes ímpetos
e transformá-la numa gata gigante e perigosa, literalmente, o que vai tornar a
atracção mútua entre a designer e o engenheiro complicada.
A história desenvolve-se
pacientemente, com a devida decadência de um casamento sem interacção física. O
espectador é recompensado com nuances de repressão sexual feminina. Este
fenómeno sociológico roça a patologia, é-lhe imposto desde sempre pelo medo e
quando o medo se instala a repressão torna-se automática, é feita pelo
indivíduo. Irena não quer sequer beijar o marido, por achar que algo mau pode
acontecer, e este aceita tais condicionalismos em nome de um sentimento que vem
a descobrir ser só fascínio e não paixão.
Duas cenas destacam-se neste
mundo de sombras: a da piscina, em que a colega e segunda namorada de Oliver no
filme nada sozinha, no escuro, com laivos de luz a reflectir a ondulação da
água nas paredes e a serem ocasionalmente entrecortados pela silhueta de uma
pantera, talvez real, talvez simbólica da aproximação de Irena, e a do
escritório à noite, onde a iluminação é outra vez maravilhosa. Quando o terror
era mais do que o susto fácil, a nudez gratuita ou a mediocridade narrativa,
eram possíveis obras com mérito artístico e orçamento reduzido como Cat People.
8/10
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