domingo, 29 de junho de 2014

TRAILERS: A Vida Invisível (Vítor Gonçalves, 2013)

Um dos filmes mais aguardados por estes lados é A Vida Invisível, regresso aos cinemas de Vítor Gonçalves, mais de 20 anos depois da sua estreia com Uma Rapariga No Verão, um dos maiores filmes portugueses de sempre. O trailer deixa uma aura de mistério e languidez que me captiva.

sábado, 28 de junho de 2014

4 Copas (Manuel Mozos, 2008)

Diana (Rita Martins) tem todo o ar de quem está a atravessar aquela fase na qual tomamos 90% das decisões de que mais tarde nos arrependemos chamada adolescência, desde cortes de cabelo que rapidamente ficam ultrapassados, passando por namoricos sem ponta por onde se lhe pegue, a um natural processo tentativa/erro que se estende a todos os desafios que teimam em afastar-nos irremediavelmente da infância e atirar-nos para as responsabilidades adultas, plantando muitas dúvidas pelo caminho, algumas das quais nunca chegam sequer a ser resolvidas. Apesar disto, ter essa idade é um espectáculo. Em que outra altura faz tanto sentido ter um candeeiro de lava no quarto, passares horas na rua a falar sobre amor com um amigo(a) daqueles ou inscreveres-te em aulas de escalada só porque tens uma paixoneta pelo(a) professor(a)? Claro que há factores inesperados que podem complicar as contas; estares em vias de roubar o amante da tua madrasta pode ser um deles.

Apesar de tudo, Diana tem assente que o pai é o homem da sua vida e faz o que está ao seu alcance para o ajudar e proteger, incluindo esconder a relação ilícita de Madalena (Margarida Marinho, sensualidade a turbinar), na esperança de que pudesse terminar pelo simples facto de ter sido descoberta, para poderem voltar a fingir que são uma família. Claro que a história não se desenrola assim e o ingénuo Gabriel acaba por sair de casa, com o coração desfeito, como, aparentemente, já havia acontecido no passado. Apesar da juventude, os níveis de responsabilidade e sanidade que Diana emana não têm comparação com os das personagens mais velhas que a rodeiam.

Gabriel, Madalena e Miguel (Filipe Duarte) são um perigo para o seu crescimento e não é de estranhar que atirar-se de uma escarpa abaixo chegue a passar-lhe pela cabeça. 4 Copas tem um ritmo lento que atrai o espectador paciente mas nem sempre o recompensa. Depois de se explanar a premissa nos primeiros 30 minutos, o filme foca-se quase exclusivamente na crescente proximidade entre Diana e Miguel (convincente) e no vício do jogo que o unia a Madalena e os dois a uma espécie de máfia (aborrecido). O pai é de tal forma esquecido que cheguei a pensar tratar-se de uma homenagem a L’Avventura, o clássico de Antonioni em que duas almas solitárias se aproximam depois do desaparecimento de uma amiga comum, que nunca mais é mencionada até ao fim. Mas não, Gabriel lá volta para assinar os papéis do divórcio, confirmando o seu estatuto de corno. Faço a ressalva de que é uma interpretação afável de João Lagarto, para mim um dos melhores actores portugueses no activo.

6/10

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Cat People (Jacques Tourneur, 1942)

Jacques Tourneur senta-se mais uma vez na cadeira de realizador num projecto de Val Lewton e o resultado é um sucesso, no mínimo ao nível de I Walked With A Zombie, certamente maior que The Leopard Man. Em comum, este segundo tem com Cat People também uma ameaça felina, como os títulos fazem questão de revelar. Porém, a incerteza sobre a possibilidade de uma (ou mais) pantera(s) se soltar(em) que toma conta de Cat People adiciona-lhe uma camada de ocultismo que a simples espera pela próxima vítima por esgravatamento não pode dar a The Leopard Man.

Irena (Simone Simon) não é só uma imigrante sérvia bonitinha por quem Oliver (Kent Smith) é seduzido e amestrado facilmente, descende dum grupo de bruxas que escaparam à morte escondendo-se numas montanhas e desenvolvendo poderes de transfiguração. Pelo menos é nisto que ela acredita e, no mundo civilizado, este poder torna-se numa maldição. Basicamente, qualquer demonstração de afecto ou estímulo sensual podem acordar estes ímpetos e transformá-la numa gata gigante e perigosa, literalmente, o que vai tornar a atracção mútua entre a designer e o engenheiro complicada.

A história desenvolve-se pacientemente, com a devida decadência de um casamento sem interacção física. O espectador é recompensado com nuances de repressão sexual feminina. Este fenómeno sociológico roça a patologia, é-lhe imposto desde sempre pelo medo e quando o medo se instala a repressão torna-se automática, é feita pelo indivíduo. Irena não quer sequer beijar o marido, por achar que algo mau pode acontecer, e este aceita tais condicionalismos em nome de um sentimento que vem a descobrir ser só fascínio e não paixão.

Duas cenas destacam-se neste mundo de sombras: a da piscina, em que a colega e segunda namorada de Oliver no filme nada sozinha, no escuro, com laivos de luz a reflectir a ondulação da água nas paredes e a serem ocasionalmente entrecortados pela silhueta de uma pantera, talvez real, talvez simbólica da aproximação de Irena, e a do escritório à noite, onde a iluminação é outra vez maravilhosa. Quando o terror era mais do que o susto fácil, a nudez gratuita ou a mediocridade narrativa, eram possíveis obras com mérito artístico e orçamento reduzido como Cat People.

8/10