domingo, 24 de agosto de 2014

The Killer (John Woo, 1989)

Apesar do sucesso que os filmes de acção costumam ter nas bilheteiras, o género é frequentemente menosprezado pela crítica. John Woo é, descontando a fase Hollywood no início do século, uma das excepções: A Better Tomorrow, The Killer ou Hard Boiled recolheram desde o início elogios pelo trabalho de câmara enérgico, a representação descomprometida da violência e a exploração dos códigos de moral, amizade e honra, por vezes ambíguos, pelos quais vive quem faz das armas o seu trabalho, seja de que lado da lei estiverem, para além do escapismo e da diversão que não deixam de oferecer.

The Killer em específico é o mais dramático. Yun-Fat Chow, colaborador frequente do realizador chinês, aparece como um assassino respeitado com ligações às tríades de Hong Kong, cujos sentimentos se intrometem no exercício da sua profissão quando se vê envolvido num banho de sangue num bar e, para além de matar umas dezenas de malfeitores com um único carregador, deixa quase cega uma cantora que lá trabalhava. Cada vez mais alheado, decide tentar reparar os estragos e ajudá-la com tratamentos pagos e a promessa de uma cirurgia correctiva, o que, por sua vez, o faz pensar que está na hora de se retirar.

Claro que não será assim tão fácil, pois para além de um detective estar na sua peugada, também o líder da máfia não vê com bons olhos o quebrar de uma ligação que deve ser para toda a vida e o seu amigo mais antigo da velha guarda trai-o. Essas três personagens secundárias representam três níveis diferentes do espectro da ética, o primeiro tem padrões elevados e não se importa de admitir que admira Ah Jong pela sua tenacidade, o segundo não tem escrúpulos e o terceiro anda na corda bamba, inseguro das atitudes que tem de tomar. As ameaças e os confrontos armados são muitos e intensos.

Woo usa a câmara lenta ciente da visceralidade mas também do lirismo dessas cenas e o efeito é fantástico. Há uma set-piece que vai dum assassinato público para uma perseguição de barco para fogo cruzado numa praia para uma perseguição de carro para um stand-off no hospital – not bad. Apesar de tudo isto, o filme é minado pela lamechice da banda sonora, por alguns clichés dos policiais de Hong Kong, pela forma como a cantora é protegida como uma criança e pela falta de sal dessa personagem. Em 1989 talvez passasse despercebido. Hoje, podemos dizer que Hard-Boiled ou Face/Off são mais equilibrados.

6/10

Sem comentários:

Enviar um comentário