sábado, 25 de outubro de 2014

Diary Of A Mad Housewife (Frank Perry, 1970)

Diary Of A Mad Housewife é produto do seu tempo, uma altura em que o dilema entre resignar-se à vida de dona de casa da classe média-alta ou impor uma atitude activa face ao trabalho e de partilha de responsabilidades era vincado, especialmente para um casal de novos-ricos que se tentava inserir em determinados círculos, sentindo por isso uma necessidade redobrada de ser conservador para ser aceite, ao invés de aderir a modernices como a emancipação das mulheres. Para os Balser, tudo isto é areia a mais para a sua camioneta.

Jonathan (Richard Benjamin) transforma-se (isto se quisermos acreditar que não o era, apesar de o filme não dar espaço para optimismos) num pretensioso irritante, daqueles que passa a vida a berrar pela esposa em casa e que a abandona em festas só para dar duas de treta com um famoso qualquer ou para lamber as botas a alguém com mais dinheiro do que ele. Tina (Carrie Snodgress) deixa-se arrastar para um marasmo do qual não tem coragem de abdicar, por ser minimamente confortável, não estabelecendo limites com o marido nem sequer com as filhas, a quem está a dever uns tabefes nas trombas, em vez de as encher de comida e roupas pirosas. Assim, faz o que sensatamente se deve fazer na sua condição: comer, calar e… trair? Uma relação extra-conjugal tem o efeito de despertar em Tina uma réstia de adrenalina, mas não de amor-próprio ou confiança, não fosse a intenção do escritor George (o primeiro papel de Frank Langella) única e simplesmente o sexo, como realça repetidamente, quando ela está é primariamente carenciada a nível afectivo.

Em Diary Of A Mad Housewife não há refúgios; a casa é um inferno, os eventos a que os Balser vão roçam a tortura e mesmo a pequena hipótese que Tina tem para saborear algum prazer, e pela qual corre riscos, se revela uma fonte de humilhação. Apesar de ser um filme muito à anos 70, afinal temos um concerto de Alice Cooper que acaba numa luta de almofadas, não deixa de ser bastante sofisticado. A frieza e o cinismo que rodeiam a Mrs. Balser são difíceis de engolir mas, com dois momentos finais anti-climáticos, ninguém nos pede para desculpar ou compreender quem quer que seja. No fundo, que pode ser mais deprimente que a indiferença?

7/10

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