terça-feira, 8 de março de 2016

Seven Men From Now (Budd Boetticher, 1956)

Dizer que o western é o género mais americano de todos não será propriamente inovador; a constatação tem sido evidenciada por figuras de renome tanto do lado da produção como do lado da crítica. Com o mínimo de conhecimento histórico e alguns clássicos na bagagem, instintivamente se identifica a preponderância das paisagens do país em todas as suas geografias como elemento fundamental para sobrelevar qualquer dilema ou conflito, a exploração dos acontecimentos que moldaram a construção de uma identidade nacional e mesmo os paralelismos com a atualidade que escoam para estas representações do passado. Quentin Tarantino tem sido a voz mais audível de aclamação destas qualidades nos últimos anos.

Nada que André Bazin não tivesse já notado desde os primeiros tempos da Cahiers du Cinéma, revista que ajudou a fundar em 1951. O seu investimento na análise dos filmes de John Ford, Anthony Mann e outros como mais do que objetos de puro entretenimento, como eram a generalidade das coboiadas, muito à conta de representações infantis dos confrontos entre os civilizados caras pálidas e os selvagens peles vermelhas, está documentado, bem como a sua admiração por Seven Men From Now em particular. A secura que Boetticher adota, nos cenários do oeste montanhoso, no fleumático Randolph Scott e na rejeição dos subterfúgios da psicologia, são por si expoentes máximos desta iconografia do rigor estético e moral.

A procura por justiça é uma viagem que não dispensa os acidentes de percurso, mas não pode deixar de ser o destino. Com Ben Stride, xerife caído em desgraça e viúvo desde que do assalto à Wells Fargo da sua cidade resultou a morte da esposa, que trabalhava na companhia financeira, essa viagem é também movida por vingança, talvez a forma mais cinemática de ação/reação. Nada poderá impedir a morte dos criminosos, apesar de serem sete, a continuidade do seu altruísmo, apesar de proteger John Greer (Walter Reed), que não foi brindado com a mesma firmeza de princípios, nem a exaltação da memória da mulher, apesar da tentação que representa a bela Annie Greer (Gail Russell).

Isso é tudo tão inevitável ao ponto de Boetticher atalhar a representação das eventuais contrariedades. Dos disparos fatais já só ouvimos o eco posterior ou só vemos os corpos a cair, nunca o sacar da arma. O fim de Greer virá naturalmente, é desprezável para a personagem principal. Stride e Annie nunca se beijam. Seven Men From Now é surpreendente na sua simplicidade, por conscientemente negar certos estereótipos narrativos. Da mesma forma, o deserto não é um amontoado de areia aborrecido, antes um habitat com uma constância reconfortante que escondeu tesouros de cowboys, testes de bombas nucleares, mitos de contactos com alienígenas, petróleo para explorar e sabe-se lá que outros segredos.

8/10

2 comentários:

  1. Assisti muitos westerns, mas esse eu não conhecia.

    Me parece bem interessante, além de ter o grande Lee Marvin.

    Abraço

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