Uma artista adolescente é presa por supostamente ter
assassinado a mulher mais velha com quem vivia. Se por um lado esta insiste que
um estranho entrou no apartamento e terá cometido o crime, apesar de lhe
pertencer a tesoura usada como arma, por outro diverte-se com a atenção que lhe
é dedicada pelo detetive da polícia, o juiz local, o padre e as freiras da
prisão, inventando histórias de prostituição, sadomasoquismo e lesbianismo para
os chocar – e aos espectadores, diz mesmo uma personagem.
Com Robbe-Grillet as coisas nunca são fáceis de decifrar. Aliás,
são propositadamente impossíveis e quando começamos a tentar descobrir o que é
verdade e o que é mentira no contexto do enredo é quando o autor passa a
ter-nos na mão, porque no cinema tudo é uma ilusão. Assim, é permitido o
inexplicável. Successive Slidings Of Pleasure assemelha-se a um labirinto com
infinitos becos sem saída e no fim volta-se à entrada. Através de padrões,
motivos e repetições somos chamados à atenção para palavras, atos ou objetos
que podem ter implicações palpáveis para o caso ou valor puramente surrealista.
A certa altura, o juiz e a adolescente testam-se através de
livre associação. O que se conclui através desse método de psicanálise parece
ser vago e condicionado pelo que se procura naquilo que se ouve, e cada um
procurará algo diferente consoante a sua sensibilidade. Da mesma forma, a pá
encontrada num armário pode ou não ter relação com a pá do coveiro que enterra
uma amiga da escola. Pela masmorra de tortura medieval em uso pelo clérigo pode
estar a ser estabelecido um caso real de maus tratos, um paralelismo simbólico
com as bruxas de antigamente ou uma fantasia sexual perversa. E por aí fora.
Tal como em Eden And After, a nudez e a violência são
constantes, andam de mãos dadas e têm tanto de perturbador como de fascinante. Robbe-Grillet
preenche cada frame de película com a mesma duplicidade de cada página dos seus
textos. Ninguém cria um enigma como ele, ou não estivéssemos a falar da pessoa
que escreveu Last Year At Marienbad (1961). Hostil à ideia de uma narrativa, em
Successive Slidings Of Pleasure constrói outra vez um mundo de provocações
intelectuais aberto a todas as interpretações.
8/10
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