Para onde ir depois de um filme que tão bem balança a comédia e o romance, que consegue ser "comercial" e "indie" ao mesmo tempo, que está tão bem feito a todos os níveis como Eternal Sunshine Of The Spotless Mind? Para o realizador Michel Gondry, a resposta parece ter sido tentar fazer algo semelhante, mas sem a ajuda de um argumentista. Dois anos depois, chegou então The Science Of Sleep, uma história simpática sobre um jovem artista com muita dificuldade em expressar o seu amor. Stéphane (Gael García Bernal) muda-se para Paris atrás de um emprego supostamente criativo prometido pela mãe, que vive na capital francesa. Apresenta-se ao trabalho cheio de ideias para o calendário em que irá trabalhar, mas o seu chefe diz-lhe que as pessoas apenas querem ver "puppies, trucks, flowers or nudes". Por outro lado, chega uma nova inquilina ao seu prédio, Stéphanie (Charlotte Gainsbourg), por quem se começa a apaixonar, mas ele tem uma grande inabilidade em lidar com os seus sentimentos e ela tem uma grande indisponibilidade para relacionamentos. As desilusões profissionais e emocionais espezinham o seu carácter sensível e agravam as suas disfunções de sono, levando-o a refugiar-se num mundo asfixiante de sonhos e veleidades, que se mistura com a realidade num complexo fluxo de consciência cinemático e que, no fundo, nada resolve. Gondry consegue inventar visuais únicos, cenários divertidos, animações e truques de câmara verdadeiramente originais, mas nem sempre os consegue preencher de significado, pelo menos não com a coesão ou carga dramática de Eternal Sunshine Of The Spotless Mind, até porque o enredo é bastante mais simplista. Stéphane é caprichoso e o filme chega a roçar a auto-indulgência. Por muito gracioso que Bernal seja, a infantilidade e o solipsismo da sua personagem chegam a ser irritantes e a ferir um pouco o tom brincalhão mas cativante que o filme supostamente deveria ter. Falta Charlie Kaufman, mas, mesmo assim, vale a pena ver The Science Of Sleep? Sim. Dificilmente haverão realizadores mais fascinados que Michel Gondry com as possibilidades do filme em geral. Simplesmente isso pode ser suficiente para realizar grandes videoclips, mas não é suficiente para realizar grande cinema...
6/10