sábado, 21 de janeiro de 2012

Moneyball (Bennett Miller, 2011)


Há seis anos vi um filme distinto e subtil como poucos no panorama do cinema americano contemporâneo, um filme que lidava com uma história de violência bem real e a explorava sob várias perspectivas, fossem mais ou menos fáceis de escrutinar e aceitar, um filme sobre um homem à procura duma oportunidade para trabalhar no sentido de mostrar ao mundo algo novo ou algo antigo duma forma nova - esse filme era Capote.

Bennett Miller volta finalmente ao ativo com Moneyball, baseado em factos reais, trocando o Kansas pela Califórnia, os anos 1950 pelo início do novo milénio, a literatura pelo desporto. Brad Pitt interpreta Billy Beane, o diretor-geral dos Oakland Athletics, uma das equipas mais fracas da liga nacional de basebol. Depois duma carreira como jogador marcada pelo insucesso, apesar do seu enorme potencial, o desejo de Beane continua a ser deixar um legado que o eternize.

Vencer a liga é o objetivo, mas tal afigura-se uma utopia para os A's. Com um orçamento muito reduzido e na iminência de perder 3 dos seus melhores jogadores, o clube parece estagnado, à procura de soluções através dos seus velhos olheiros, com os seus métodos antiquados. A frustração de Beane relativamente às tradições conservadoras do basebol e às limitações que vê à sua frente é bem evidente. Um encontro ocasional com Peter Brand (Jonah Hill) muda tudo.

A fazer trabalho de secretária num clube rival, Beane ouve as suas ideias sobre a importância que a matemática podia ter no jogo e como construir uma equipa com base apenas em estatísticas pode ser a solução para uma equipa vencedora. Com o seu estilo tipicamente breve e seco, Beane contrata-o para assistente e desde cedo se surpreende com as análises objetivas de Brand, que ignora o carácter e o físico dos jogadores em favor dos números apenas.

Esta nova forma de pensar encontra vários detratores no meio, a começar pelo treinador Art Howe (Philip Seymour Hoffman). Quando a época começa, os resultados tardam em surgir e o desemprego paira sobre as cabeças destes homens. Estará Beane a reagir arrogantemente aos falhanços que pautaram a sua vida à conta do basebol, depois de se ter recusado a ir para Stanford e de se ter tornado um flop tanto como outfielder e diretor-geral? Será Beane simplesmente incompetente?

Os paralelismos entre Moneyball e Capote revelam-se de forma peculiar. Se em termos estilísticos Miller preza a simplicidade e orienta toda a nossa atenção para as personagens principais, apenas numa análise superficial se poderá achar que estes filmes são veículos para atores populares. Tanto Pitt como Hoffman dão cara e corpo a homens com um grande sentido de responsabilidade e de esforço, que escondem o quanto isso lhes pesa na alma.

Para o realizador, o sucesso vem de encontro àqueles que fazem sacrifícios para o procurar com paciência, mesmo que de formas inicialmente não antecipadas. Ao mesmo tempo, quando esse sucesso é mediático, assume-se como imperativo manter os pés bem assentes no chão. No caso de Beane, é claro que sente uma grande vontade de vencer e isso chocou sempre com a sua vida, tendo perdido outras oportunidades, incluindo a de ter uma família convencional.

Moneyball, para um filme de desporto, contorna algumas regras e convenções, raramente usando jogos como fator de suspense (e a única vez que o faz é através dum silêncio quase anti-climático) ou jogadores como indispensáveis para a narrativa. O holofote é acima de tudo apontado na direção dos bastidores e até para além deles. Cada vez que Beane, pai divorciado, consegue passar tempo com a filha, parece ganhar forças para enfrentar novos desafios.

Claro que, no fim de contas, isto resulta em grande parte por causa de Brad Pitt. Não há em Hollywood uma personalidade com a mesma combinação de carisma, aparência e talento. Bem vestido, sem cabelo facial e de queixo ligeiramente para fora, ele revela um homem digno e sincero que ainda sente o peso das más escolhas que fez no passado, ao ponto de achar que dará má sorte aos Athletics caso veja um jogo destes ao vivo. Mas ninguém se pode distanciar emocionalmente de tudo.

A participação de Philip Seymour Hoffman acaba por, em comparação, ter pouca força, não é fácil simpatizar com Howe, especialmente quando ele começa a receber crédito pela grande mudança de mentalidade operada em Oakland. Jonah Hill é uma agradável surpresa, num papel mais contido que o costume, ainda que, mesmo assim, seja usado aqui e ali para comic relief. Afinal, apesar da elevada qualidade, este filme não deixa de ser algo leve e comercial, certamente mais do que Capote.

Apesar de alguma falta de segurança na montagem e da estranha decisão de fazer a pequena Casey Beane passar por compositora de The Show da cantora Lenka, Moneyball é dominado por um argumento bem escrito e pelo garbo de Miller. E assim, este ano voltei a ver um filme paciente, um filme com menos impacto emocional que Capote mas com a mesma honestidade, um filme sobre um homem à procura duma oportunidade para trabalhar no sentido de mostrar ao mundo algo antigo duma forma nova...

7/10

5 comentários:

  1. Gostei do texto sobre o filme.
    Esse é um filme que eu quero ver.

    E também gostei do blog!
    Parabéns ai.

    Estou seguindo.

    Grande abraço.

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  2. Obrigado! Espero que gostes do filme :) Abraço

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  3. Gostei muito de "Capote" e pretendo conferir este novo filme de Bennett Miller.

    O tema e o elenco são interessantes.

    Abraço

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  4. Gostei imenso da tua resenha. Por acaso era um filme que, a priori, não tinha grande interesse em ver, mas agora fiquei interessada!

    Sarah
    http://depoisdocinema.blogspot.com

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  5. É um bom filme, ainda bem que gostaste de ler :)

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