Num futuro distópico, 2 jovens
dos 12 aos 18 anos são escolhidos anualmente, por sorteio, em cada um dos 12
distritos sob domínio do Capitólio, para participar no evento televisivo
nacional, os The Hunger Games, em que se matam uns aos outros num estúdio que
rivaliza, em dimensão, com o de The Truman Show, até haver só um vencedor, para
gáudio dos telespectadores do núcleo rico da nação.
A morte transformada em
espetáculo não é um conceito inovador. Quais gladiadores, os
"tributos" humanos passam de miseráveis escravos a estrelas de um
reality show perverso, criado há várias décadas por um governo sombra central
para punir uma rebelião mal explicada dos territórios oprimidos, assim
controlados pelo massacre das suas gerações futuras e humilhados com tal
exposição mediática.
Battle Royale (Kinji Fukasaku,
2000) apresentava já um conceito similar, mais como uma alegoria para uma
sociedade descrente na juventude mas que não oferece compreensão ou futuro à
mesma, desperdiçando-a e formatando-a para a obediência ao estado através do
medo, do que como um olhar preocupado ao aumento das discrepâncias sociais e do
voyeurismo incitado pela televisão e novas tecnologias.
Baseado no primeiro volume de uma
trilogia de best sellers americanos, The Hunger Games é um exercício válido em
futurologia que parece mal desenvolvido no cinema, sendo difícil de dizer se
tal acontece para deixar as sequelas preencherem as pontas soltas ou se, apesar
da pertinência da sua premissa, tem mais valor pelas suas implicações sociais
do que pela criatividade da escrita de Suzanne Collins.
Começamos no pobre Distrito 12,
onde Katniss se voluntaria para o programa, passando à frente da sua irmã mais
nova, inicialmente selecionada de forma aleatória. Interpretada com segurança
por Jennifer Lawrence, uma atriz com o raro talento de parecer arrogante e
enigmática mas com pontos fracos, impossível de não gostar e destinada ao
heroísmo, é enviada para a capital com Peeta (Josh Hutcherson).
É interessante como a sua falta
de destreza social se torna atraente para aqueles que anseiam vê-la matar ou
morrer no ecrã e mesmo ela parece abraçar momentaneamente a sua efémera
popularidade, os luxos concedidos, os desfiles públicos e as entrevistas
surreais com o apresentador Caesar Flickerman (Stanley Tucci de cabeleira azul)
mas acaba a desafiar o sistema e ser o arauto de uma nova revolução.
Esta exposição é doentia e
torna-se desconfortável pensar neste lado quando a matança começa e vemos o que
se segue ao glamour. Na arena há inúmeras nuances e o trabalho de câmara
trémulo e sempre focado em Katniss aumenta a intensidade e a visceralidade da
experiência, tornando o espectador num concorrente. Pena os outros rapazes e
raparigas não serem mais que clichés ambulantes.
Aliás, desenvolver as personagens
é algo que o filme não faz muito bem, fascinado que está em mostrar cenários
futuristas e o dia-a-dia da preparação dos "tributos", o que se torna
fastidioso rapidamente. Não é claro porque é que só após 74 edições dos The
Hunger Games os povos oprimidos pelo Capitólio parecem dispostos a
revoltarem-se nem qual é o desfecho. Há curtos flashbacks que nada esclarecem.
Chega-se ao fim com contexto
insuficiente, não obstante algo como meia hora a mais de cinema. Se este é o
franchise que está a destronar Twilight na lista de preferências dos
adolescentes, não deixo de ficar contente, porque há profundidade intelectual
em The Hunger Games. Enquanto filme é esteticamente consistente, frequentemente
instigante, mas também um pouco insatisfatório.
6/10
A premissa é boa e o diretor Gary Ross tem bons filmes no currículo.
ResponderEliminarPreciso conferir.
Abraço
Esta crítica mereceu destaque na rubrica «A "Polémica" do Mês» do Keyzer Soze’s Place, disponível aqui: http://sozekeyser.blogspot.pt/2012/04/polemica-do-mes-11.html
ResponderEliminarCumps cinéfilos!
Nice, obrigado Samuel!
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